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COMIDA
O ritual do chope
Conhecida pela tradição cervejeira, Bélgica recebe competição mundial de tiradores de chope, em Leuven; bartender brasileira fica entre as 12 finalistas, e o vencedor é um belga
JANAINA FIDALGO
ENVIADA ESPECIAL A LEUVEN
À primeira vista, tirar um
chope perfeito parece a atividade mais simples do mundo.
Bastaria abrir a torneira da
chopeira, posicionar o copo e
esperar encher até formar um
colarinho no tamanho certo.
Na prática, o serviço do chope não é bem assim. Ainda mais
se o bartender tiver apenas sete
minutos para explicar quais são
as cervejas disponíveis, descrever as características de cada
uma, anotar os pedidos, lavar e
enxaguar quatro copos, extrair
em sincronia dois chopes do
mesmo tipo -e com tamanho
idêntico de colarinho- mais
um terceiro, diferente, enxugar
bem a taça em que será servida
uma quarta cerveja long neck e
levar tudo à mesa, sem errar
quem pediu o quê, e, ainda,
olhar nos olhos do cliente e desejar "saúde!". Tudo em público e sobre um palco.
Na última semana, 30 bartenders de países como Brasil,
Bélgica, China, Ucrânia, Reino
Unido, Croácia, Grécia e Sérvia
tiveram o mesmo desafio em
Leuven, cidade belga onde fica
a Stella Artois, cervejaria que
há 12 anos promove o World
Draught Master, competição
mundial de tiradores de chope.
Na edição deste ano, que teve
entre os semifinalistas uma
brasileira, a bartender Vivian
Salmeron da Silva, 26, do bar
paulistano Charles Edward's, o
vencedor foi... um belga.
Filho de um casal proprietário de um pub em Laakdal, no
interior do país, Tommy Goukens, 33, se diferenciou pela
agilidade na apresentação. Foi
o mais rápido, fator que, no desempate, fez diferença. Competindo em seu próprio país, a favor de Goukens pesou ainda a
torcida, numerosa e animada.
"Queria estar entre os cinco
primeiros, mas não esperava
ganhar, porque sabia que o nível dos outros países estava
bem alto", disse ele à Folha.
A primeira finalista
Bem-avaliada, a brasileira Vivian teve também o tempo como fator determinante, mas,
neste caso, contra ela. No Brasil
Master Chopp, havia derrotado
29 homens na disputa por uma
vaga na semifinal mundial, em
Leuven. Terceira representante do país a participar da competição, estourou em pouco
mais de um minuto o tempo
permitido. Foi, porém, a primeira brasileira a chegar na final, entre os 12 selecionados.
"Nunca tinha viajado para fora do Brasil", disse Vivian. "A
expectativa era ser uma das finalistas, e isso eu consegui."
Os nove passos
Na semifinal, cada bartender
tinha de tirar, ao mesmo tempo
e em apenas três minutos, duas
taças de chope com colarinho
milimetricamente igual. Detalhe: respeitando os nove passos
para a extração do chope Stella
Artois (leia mais à direita).
A final ocorreu no mesmo dia
e impôs um desafio ainda
maior. Eram sete minutos para
preparar três chopes, dois Stella e um Hoegaarden, além de
servir uma long neck Leffe.
Para o belga Paul Van de
Walle, um dos jurados, a principal dificuldade dos competidores é o estresse. "A maioria vem
muito bem treinada e é tecnicamente capaz de tirar um bom
chope e fazer tudo direito, mas
o elemento competitivo torna
tudo mais difícil. Quando vêm
entregar a bebida, estão nervosos, com as mãos tremendo",
diz. "Estilo não é o mais importante, mas faz diferença."
Segundo Walle, os juízes analisam cem diferentes elementos e pontuam cada detalhe. Os
colarinhos dos dois chopes têm
tamanho desigual? Pontos a
menos. O avaliador pediu uma
cerveja e o competidor entregou outra? Pior ainda -parece
um erro elementar demais, impossível de acontecer, mas ao
menos cinco o cometeram.
Outros deslizes observados
pela reportagem durante a prova foram esquecimentos como
a limpeza externa da taça antes
de entregá-la e a colocação de
um "saiote" de papel na base.
Ode à cerveja
Segundo a diretora global da
Stella Artois, a brasileira Lígia
Gonçalves, a idéia da competição é "educar o consumidor e o
bartender sobre como servir
uma cerveja perfeita". "A forma
como você extrai faz diferença
na experiência que o consumidor vai ter. Não é apenas uma
competição, é parte de um programa de treinamento", diz.
Afora a estratégia de marketing implícita à competição, de
consolidar e difundir a marca
-uma das três cervejas de origem belga do portfólio da InBev-, a competição salienta o
peso dado pelo país à bebida e
ao ritual inerente ao serviço.
Em qualquer loja ou bar, por
menor que seja, há uma respeitável variedade de marcas nacionais -o suficiente para tomar uma diferente a cada dia
do ano. E a maioria tem um copo específico e, é claro, um ritual indicado para o serviço.
A jornalista JANAINA FIDALGO viajou a convite
da AmBev
Assista a vídeo sobre os
nove passos do ritual de
extração do chope
www.folha.com.br/083092
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