São Paulo, quinta-feira, 06 de novembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

COMIDA

O ritual do chope

Conhecida pela tradição cervejeira, Bélgica recebe competição mundial de tiradores de chope, em Leuven; bartender brasileira fica entre as 12 finalistas, e o vencedor é um belga

JANAINA FIDALGO
ENVIADA ESPECIAL A LEUVEN

À primeira vista, tirar um chope perfeito parece a atividade mais simples do mundo.
Bastaria abrir a torneira da chopeira, posicionar o copo e esperar encher até formar um colarinho no tamanho certo.
Na prática, o serviço do chope não é bem assim. Ainda mais se o bartender tiver apenas sete minutos para explicar quais são as cervejas disponíveis, descrever as características de cada uma, anotar os pedidos, lavar e enxaguar quatro copos, extrair em sincronia dois chopes do mesmo tipo -e com tamanho idêntico de colarinho- mais um terceiro, diferente, enxugar bem a taça em que será servida uma quarta cerveja long neck e levar tudo à mesa, sem errar quem pediu o quê, e, ainda, olhar nos olhos do cliente e desejar "saúde!". Tudo em público e sobre um palco.
Na última semana, 30 bartenders de países como Brasil, Bélgica, China, Ucrânia, Reino Unido, Croácia, Grécia e Sérvia tiveram o mesmo desafio em Leuven, cidade belga onde fica a Stella Artois, cervejaria que há 12 anos promove o World Draught Master, competição mundial de tiradores de chope.
Na edição deste ano, que teve entre os semifinalistas uma brasileira, a bartender Vivian Salmeron da Silva, 26, do bar paulistano Charles Edward's, o vencedor foi... um belga.
Filho de um casal proprietário de um pub em Laakdal, no interior do país, Tommy Goukens, 33, se diferenciou pela agilidade na apresentação. Foi o mais rápido, fator que, no desempate, fez diferença. Competindo em seu próprio país, a favor de Goukens pesou ainda a torcida, numerosa e animada.
"Queria estar entre os cinco primeiros, mas não esperava ganhar, porque sabia que o nível dos outros países estava bem alto", disse ele à Folha.

A primeira finalista
Bem-avaliada, a brasileira Vivian teve também o tempo como fator determinante, mas, neste caso, contra ela. No Brasil Master Chopp, havia derrotado 29 homens na disputa por uma vaga na semifinal mundial, em Leuven. Terceira representante do país a participar da competição, estourou em pouco mais de um minuto o tempo permitido. Foi, porém, a primeira brasileira a chegar na final, entre os 12 selecionados. "Nunca tinha viajado para fora do Brasil", disse Vivian. "A expectativa era ser uma das finalistas, e isso eu consegui."

Os nove passos
Na semifinal, cada bartender tinha de tirar, ao mesmo tempo e em apenas três minutos, duas taças de chope com colarinho milimetricamente igual. Detalhe: respeitando os nove passos para a extração do chope Stella Artois (leia mais à direita).
A final ocorreu no mesmo dia e impôs um desafio ainda maior. Eram sete minutos para preparar três chopes, dois Stella e um Hoegaarden, além de servir uma long neck Leffe.
Para o belga Paul Van de Walle, um dos jurados, a principal dificuldade dos competidores é o estresse. "A maioria vem muito bem treinada e é tecnicamente capaz de tirar um bom chope e fazer tudo direito, mas o elemento competitivo torna tudo mais difícil. Quando vêm entregar a bebida, estão nervosos, com as mãos tremendo", diz. "Estilo não é o mais importante, mas faz diferença." Segundo Walle, os juízes analisam cem diferentes elementos e pontuam cada detalhe. Os colarinhos dos dois chopes têm tamanho desigual? Pontos a menos. O avaliador pediu uma cerveja e o competidor entregou outra? Pior ainda -parece um erro elementar demais, impossível de acontecer, mas ao menos cinco o cometeram.
Outros deslizes observados pela reportagem durante a prova foram esquecimentos como a limpeza externa da taça antes de entregá-la e a colocação de um "saiote" de papel na base.

Ode à cerveja
Segundo a diretora global da Stella Artois, a brasileira Lígia Gonçalves, a idéia da competição é "educar o consumidor e o bartender sobre como servir uma cerveja perfeita". "A forma como você extrai faz diferença na experiência que o consumidor vai ter. Não é apenas uma competição, é parte de um programa de treinamento", diz.
Afora a estratégia de marketing implícita à competição, de consolidar e difundir a marca -uma das três cervejas de origem belga do portfólio da InBev-, a competição salienta o peso dado pelo país à bebida e ao ritual inerente ao serviço.
Em qualquer loja ou bar, por menor que seja, há uma respeitável variedade de marcas nacionais -o suficiente para tomar uma diferente a cada dia do ano. E a maioria tem um copo específico e, é claro, um ritual indicado para o serviço.


A jornalista JANAINA FIDALGO viajou a convite da AmBev

Assista a vídeo sobre os nove passos do ritual de extração do chope
www.folha.com.br/083092



Texto Anterior: Ciclo destaca erotismo de diretor japonês
Próximo Texto: Passo a passo: As regras para tirar um chope perfeito
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.