São Paulo, sexta, 6 de novembro de 1998

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Beck


O cantor americano lança novo disco, "Mutations' , e diz à Folha que gosta de Gal Costa e que vem ao Brasil em 99


MARCELO NEGROMONTE
da Redação

Blasé como sempre, sereno como nunca, o norte-americano Beck Hansen, 28, sai em disco depois de dois anos e lança "Mutations", que não é sucessor do indelével "Odelay" (96), mas um projeto paralelo pela pequena Bong Load Records, travessura que o contrato com sua gravadora oficial, Geffen, permite.
O primeiro -e talvez o único- single é "Tropicalia", um samba-bossa nova "ideal para ouvir no inverno", segundo Beck.
Ao Brasil, "Mutations" chega na próxima semana, distribuído pela Universal. Ao Brasil, ele diz que vem em meados de 99, depois do lançamento do próximo álbum -o terceiro oficial- na mesma época. Do Brasil, gosta de Gal Costa, Caetano Veloso, Tom Zé.
Sem turnê nem clipes, "Mutations" foi gravado em duas semanas em março último e produzido por Nigel Godrich, o mesmo de "OK Computer", do Radiohead.
Da sua casa, em Los Angeles (EUA), Beck falou à Folha sobre mutações, Brasil e futuro.

Folha - Esse disco tem uma influência mais evidente da MPB, principalmente em "Tropicalia"...
Beck -
Na verdade, eu fiz uma música que tem muitas referências brasileiras, "Deadweight", que está na trilha de "Por uma Vida Menos Ordinária". A música brasileira sempre esteve na minha música.
Folha - O que você conhece da música brasileira?
Beck -
Tom Jobim, Jorge Ben, Caetano Veloso, Tom Zé, Gal Costa, todos com ótimas músicas. Sou um grande fã de música brasileira.
Folha - E por que nunca veio ao Brasil?
Beck -
Devo ir no ano que vem, depois que o próximo álbum for lançado, em meados de 99.
Folha - Por que você decidiu fazer um disco sem samplers, intimista, quase acústico?
Beck -
O meu próximo disco, que será lançado no próximo verão (inverno no Brasil), será mais agressivo, experimental, eletrônico, então eu fiz algo com mais beleza e reflexão, porque esse novo álbum será bem diferente disso.
Folha - "Mutations" é um disco triste ou contemplativo?
Beck -
Não acho que seja triste. Eu escrevo coisas melancólicas quando estou feliz. Quando estou deprimido ou frágil, costumo escrever músicas bombásticas e bobas. Essa é a dicotomia da criação, a inconstância artística.
Folha - Como você vê o interesse da Geffen em lançar esse disco, já que era um CD da Bong Load?
Beck -
Bong Load é uma gravadora pequena e independente, e a Geffen decidiu comprar o disco. Assim, o disco terá mais atenção do que teria com a Bong Load. Não vejo problemas. A idéia original era que o disco fosse um cartão-postal e não uma carta.
Folha - Isso significa que não haverá turnês?
Beck -
Sem turnês e, provavelmente, sem clipes.
Folha - Por que você escolheu "Tropicalia" como primeiro single?
Beck -
Não foi escolha minha, foi da gravadora. "Tropicalia" é uma boa música para o inverno. "Cold Brains" é a música que melhor representaria "Mutations".
Folha - Por que uma bossa nova com nome de "Tropicalia"?
Beck -
Porque vivemos num tempo de voltas. Tudo está fora e dentro. Rock'n'roll é hip hop, e hip hop é jazz, que é clássico; é tudo referência. Porém eu acho que o nome tropicália tem mais a ver com o lugar psicológico do que com o movimento musical. Eu gosto de confundir as pessoas.
Folha - Nos seus shows -e nas suas músicas- há algo de irônico e pervertido. O público gargalha...
Beck -
Mas o rock'n'roll é ridículo, e é o que deve ser. É uma reação à complacência e à passividade. E a graça está em ser ridículo e sublime. Não devemos levá-lo a sério porque ele não se leva a sério.
Folha - Certa vez você disse que a música feita desde os anos 60 até os 90 é uma mesma música, música contemporânea. No futuro, artistas usarão todo esse "banco de dados" para fazer novos sons?
Beck -
Daí vem o nome desse disco. Toda música feita é uma mutação do que já foi feito; é o que se chama de evolução. No meu universo musical, não há contemporaneidade, não há retrô. É apenas uma continuação de quando o primeiro ser humano bateu numa pedra para extrair som.
Folha - Mas nessa evolução ocorrem revoluções, como rock. Você acha que está havendo outra revolução com a música eletrônica?
Beck -
Estamos tão saturados de informações e possibilidades excitantes que não existem mais revoluções. Se fôssemos, numa máquina do tempo, de 1970 a 1995, tudo pareceria totalmente revolucionário, mas, quando se presencia os acontecimentos, não existem revoluções. Revolução é o dia-a-dia.
Folha - "Loser" é considerada uma espécie de hino desta geração. Você concorda?
Beck -
Eu não sei, eu não tenho opinião sobre essa música.
Folha - O que você ouve hoje?
Beck -
Stevie Wonder, Byrds, AC/DC, Pussy Galore, Thelonius Monk, Charles Mingus, Joni Mitchell, Van Morrison... Muita coisa.



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