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Beck
O cantor americano lança novo disco, "Mutations' , e diz à Folha que gosta de Gal Costa e que vem ao Brasil em 99
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MARCELO NEGROMONTE
da Redação
Blasé como sempre, sereno como
nunca, o norte-americano Beck
Hansen, 28, sai em disco depois de
dois anos e lança "Mutations", que
não é sucessor do indelével "Odelay" (96), mas um projeto paralelo
pela pequena Bong Load Records,
travessura que o contrato com sua
gravadora oficial, Geffen, permite.
O primeiro -e talvez o único-
single é "Tropicalia", um samba-bossa nova "ideal para ouvir no inverno", segundo Beck.
Ao Brasil, "Mutations" chega na
próxima semana, distribuído pela
Universal. Ao Brasil, ele diz que
vem em meados de 99, depois do
lançamento do próximo álbum
-o terceiro oficial- na mesma
época. Do Brasil, gosta de Gal Costa, Caetano Veloso, Tom Zé.
Sem turnê nem clipes, "Mutations" foi gravado em duas semanas em março último e produzido
por Nigel Godrich, o mesmo de
"OK Computer", do Radiohead.
Da sua casa, em Los Angeles
(EUA), Beck falou à Folha sobre
mutações, Brasil e futuro.
Folha - Esse disco tem uma influência mais evidente da MPB,
principalmente em "Tropicalia"...
Beck - Na verdade, eu fiz uma
música que tem muitas referências
brasileiras, "Deadweight", que está
na trilha de "Por uma Vida Menos
Ordinária". A música brasileira
sempre esteve na minha música.
Folha - O que você conhece da
música brasileira?
Beck - Tom Jobim, Jorge Ben,
Caetano Veloso, Tom Zé, Gal Costa, todos com ótimas músicas. Sou
um grande fã de música brasileira.
Folha - E por que nunca veio ao
Brasil?
Beck - Devo ir no ano que vem,
depois que o próximo álbum for
lançado, em meados de 99.
Folha - Por que você decidiu fazer um disco sem samplers, intimista, quase acústico?
Beck - O meu próximo disco, que
será lançado no próximo verão
(inverno no Brasil), será mais
agressivo, experimental, eletrônico, então eu fiz algo com mais beleza e reflexão, porque esse novo álbum será bem diferente disso.
Folha - "Mutations" é um disco
triste ou contemplativo?
Beck - Não acho que seja triste.
Eu escrevo coisas melancólicas
quando estou feliz. Quando estou
deprimido ou frágil, costumo escrever músicas bombásticas e bobas. Essa é a dicotomia da criação,
a inconstância artística.
Folha - Como você vê o interesse
da Geffen em lançar esse disco, já
que era um CD da Bong Load?
Beck - Bong Load é uma gravadora pequena e independente, e a
Geffen decidiu comprar o disco.
Assim, o disco terá mais atenção
do que teria com a Bong Load. Não
vejo problemas. A idéia original
era que o disco fosse um cartão-postal e não uma carta.
Folha - Isso significa que não haverá turnês?
Beck - Sem turnês e, provavelmente, sem clipes.
Folha - Por que você escolheu
"Tropicalia" como primeiro single?
Beck - Não foi escolha minha, foi
da gravadora. "Tropicalia" é uma
boa música para o inverno. "Cold
Brains" é a música que melhor representaria "Mutations".
Folha - Por que uma bossa nova
com nome de "Tropicalia"?
Beck - Porque vivemos num tempo de voltas. Tudo está fora e dentro. Rock'n'roll é hip hop, e hip
hop é jazz, que é clássico; é tudo referência. Porém eu acho que o nome tropicália tem mais a ver com o
lugar psicológico do que com o
movimento musical. Eu gosto de
confundir as pessoas.
Folha - Nos seus shows -e nas
suas músicas- há algo de irônico
e pervertido. O público gargalha...
Beck - Mas o rock'n'roll é ridículo, e é o que deve ser. É uma reação
à complacência e à passividade. E a
graça está em ser ridículo e sublime. Não devemos levá-lo a sério
porque ele não se leva a sério.
Folha - Certa vez você disse que a
música feita desde os anos 60 até
os 90 é uma mesma música, música contemporânea. No futuro, artistas usarão todo esse "banco de
dados" para fazer novos sons?
Beck - Daí vem o nome desse disco. Toda música feita é uma mutação do que já foi feito; é o que se
chama de evolução. No meu universo musical, não há contemporaneidade, não há retrô. É apenas
uma continuação de quando o primeiro ser humano bateu numa pedra para extrair som.
Folha - Mas nessa evolução ocorrem revoluções, como rock. Você
acha que está havendo outra revolução com a música eletrônica?
Beck - Estamos tão saturados de
informações e possibilidades excitantes que não existem mais revoluções. Se fôssemos, numa máquina do tempo, de 1970 a 1995, tudo
pareceria totalmente revolucionário, mas, quando se presencia os
acontecimentos, não existem revoluções. Revolução é o dia-a-dia.
Folha - "Loser" é considerada
uma espécie de hino desta geração. Você concorda?
Beck - Eu não sei, eu não tenho
opinião sobre essa música.
Folha - O que você ouve hoje?
Beck - Stevie Wonder, Byrds,
AC/DC, Pussy Galore, Thelonius
Monk, Charles Mingus, Joni Mitchell, Van Morrison... Muita coisa.
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