São Paulo, sexta, 6 de novembro de 1998

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ARTE SEM FRONTEIRAS
Evento continua hoje no ICI
Ruth Cardoso vê portas na globalização

da Reportagem Local

O respeito às diferenças, as portas possíveis para a produção cultural local dentro da globalização e a arte como ponte de comunicação entre populações e inclusão foram os principais pontos da palestra da primeira-dama Ruth Cardoso, presidente do Comunidade Solidária, anteontem, em São Paulo.
Sob o tema "A Importância da Identidade Cultural no Desenvolvimento Social", ela abriu o "1º Fórum de Integração Cultural Arte Sem Fronteiras", às 20h, no MAM (Museu de Arte Moderna).
"Por meio da afirmação das identidades regionais, locais, chegaremos à integração. A arte, as formas de comunicação, as manifestações estéticas atravessam fronteiras e períodos históricos", afirmou para uma platéia de cerca de 50 pessoas.
A primeira-dama continuou fazendo uma certa defesa da globalização. Citou a frase "pensar globalmente e agir localmente" e o livro do pensador francês Edgar Morin "A Comunicação de Massa no Século 20", da década de 60.
"Naquele momento, estávamos todos com interpretações sinistras de que a arte, o requinte, seriam aplastados por essa homogeneização. Mas não há linguagem de massa se não estiver apoiada em manifestação específica, localizada. A bossa nova, o tango, tiveram origem local e foram apropriados, numa internacionalização que nem sempre é ruim", disse.
Ressaltou ainda que a globalização financeira foi antecedida pelo desenvolvimento tecnológico que acabou com as distâncias.
"Somos um mundo interligado. Esse desenvolvimento tecnológico num primeiro momento permitiu a globalização financeira e produtiva. Procuramos formas de superar regionalismos e, nesse desafio, incluir os excluídos, apesar das ambiguidades e dificuldades."
Segundo ela, a globalização abre portas para a cultura, "pois o particular ganha sentido nesse novo geral, a criação que tem data, local, origem é valorizada".
Assim, citou programas do Comunidade Solidária como o Universidade Solidária e o Projeto Móvel de Cultura e Meio Ambiente, realizados no Norte e Nordeste.
"Trata-se de uma caravana cultural, atividades que cabem em caminhões, mas sempre coisas de qualidade. Essas experiências mostram que as distâncias não são grandes porque a recepção é boa e a incorporação é grande", disse.
Como exemplo, falou do "Quebra-Cabeça" da artista plástica Regina Silveira, que está na Bienal de São Paulo, formado por figuras históricas da América Latina.
"O efeito estético pode trazer à população compreensão e conhecimento de seu mundo. Elas estão tão distantes do Rio de Janeiro e de São Paulo quanto de outros países da América Latina", afirmou.
Falou ainda de um trabalho desenvolvido com artesãos do Nordeste. "Estamos atuando no sentido de criar padrões, ou melhor ajudá-los a ajustar seus padrões tradicionais ao que pode ser comercializado em outras regiões. Estamos construindo uma ponte que só funcionará se houver qualidade reconhecida no trabalho."
O fórum continua hoje, no Instituto Cultural Itaú (av. Paulista, 149, tel: 011/238-1700), com palestra do representante da Unesco no Brasil, Jorge Werthein, às 9h30.



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