São Paulo, quarta-feira, 06 de dezembro de 2006

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"Turistas" é alvo de boicote na internet

Filme de terror americano que tem o Brasil como cenário para tráfico de órgãos motiva campanha em blogs e por e-mail

Obra será exibida no Brasil com mensagem que repudia a polêmica campanha de marketing americana, que associa o Brasil à violência


LEONARDO CRUZ
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

"NÃO ASSISTAM, NÃO DÊEM $$$ A UMA PRODUÇÃO QUE SÓ VISA ACABAR COM NOSSA IMAGEM." Esse é o trecho principal, em maiúsculas, de um manifesto que circula na internet pedindo boicote ao filme americano "Turistas", de John Stockwell.
Correntes de e-mails e blogs têm divulgado nos últimos dias uma mesma mensagem contra o filme de terror, que tem o Brasil como cenário e uma trama na qual um grupo de jovens vem ao país, é roubado, seqüestrado e cai nas mãos de uma quadrilha de tráfico de órgãos. Em "Turistas", cariocas falam espanhol, e selvas ficam ao lado de metrópoles.
A autoria do manifesto é incerta -nas correntes de e-mail, a mensagem é anônima; em blogs, o mesmo texto é assinado por mais de uma pessoa. A carta descreve o enredo de "Turistas", diz que "a Embratur está preocupada com a péssima repercussão do filme lá fora" e incita os destinatários: "Vamos fazer deste absurdo, pelo menos aqui no Brasil, um fracasso total de bilheteria".
"Turistas" estreou nos EUA na última sexta, sob críticas negativas dos principais jornais americanos -de modo geral, foi definido como "entediante". No final de semana em que estreou em pouco mais de 1.500 salas, o filme terminou em oitavo lugar no ranking de bilheterias, arrecadando U$ 3,5 milhões (quase R$ 8 milhões).

Mensagem ao público
A obra de John Stockwell chegará às principais capitais brasileiras em 16 de fevereiro, mas a Paris Filmes, sua distribuidora nacional, já enfrenta protestos contra o lançamento e prepara uma campanha para dissociar sua imagem da atual polêmica: promete inserir uma mensagem ao público no início do filme, dizendo ser contra peças publicitárias que manchem a imagem do Brasil.
"Jogaram o nosso país no lixo em um evento de marketing", critica Márcio Fraccaroli, diretor geral da Paris, em referência à divulgação de "Turistas" nos EUA pela distribuidora Fox Atomic, novo braço da Fox.
A campanha americana inclui o site Paradise Brazil (www.paradisebrazil.com), ligado à página oficial do filme. Além de mostrar mulheres mortas numa praia, o site traz a seção "Notícias", que destaca: 1) ações do PCC em São Paulo; 2) seqüestros no Brasil para tráfico de órgãos; 3) realização no país de "snuff movies", filmes em que cenas de mortes são reais; e 4) a revolução musical dos tropicalistas em 1967, incluindo um clipe de "Panis et Circensis", dos Mutantes.
Além disso, o trailer americano do filme começa com americanos se divertindo no Brasil e a frase: "Em um país onde tudo é possível, qualquer coisa pode acontecer".
Fraccaroli afirma que comprou os direitos de exibir "Turistas" no Brasil há dois anos, quando o roteiro estava pronto. "Sabia que o filme seria rodado em Ubatuba, mas não tinha idéia de que o país teria esse tratamento na divulgação. Enviei uma reclamação à Fox."

Potencial comercial
O diretor da Paris conta que a campanha brasileira de divulgação tratará "Turistas" como uma ficção, fugindo do mote explorado pelos americanos. Mas concorda que a polêmica aumenta o potencial comercial do filme. "Tudo o que é polêmico no Brasil faz sucesso."
Em nota divulgada na semana passada, a Embratur disse crer que "o espectador saberá diferenciar a realidade da ficção", mas que monitora a repercussão do filme nos EUA e trabalha para "reverter eventuais efeitos negativos".
Na última quinta, o ator Josh Duhamel, um dos protagonistas de "Turistas", disse no "talk show" de Jay Leno, na rede de TV dos EUA NBC, que o filme não quer afastar os estrangeiros do Brasil e pediu desculpas ao governo e aos brasileiros.


Opine no blog Ilustrada no Cinema: "Turistas" deve ou não ser boicotado?

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