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Quero morrer sua amiga
O autor Aguinaldo Silva usa vida real de atrizes para criar personagens
em "Cinquentinha", que estreia terça; Ilustrada propõe a conhecidos
que façam o mesmo com ele
Ana Carolina Fernandes - 26.set.2007/ Folha Imagem
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Aguinaldo Silva, 65, que escreveu as novelas "Tieta" e "Suave Veneno"
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Autor de "Tieta", "Senhora
do Destino" e outros sucessos,
Aguinaldo Silva vai destilar seu
"suave veneno" (outra de suas
novelas) em "Cinquentinha",
minissérie de oito capítulos
que estreia na Globo na terça.
Em um jogo de humor irônico e inovador, ele usou traços
das personalidades das atrizes
principais -justamente os prediletos das revistas de fofoca-
para criar suas personagens.
Marília Gabriela, 61, todo
mundo sabe, na vida real é jornalista e namora homens bem
mais jovens do que ela. Em
"Cinquentinha", ela será uma
fotógrafa famosa e terá um caso
com um amigo do neto.
Já Suzana Vieira, 67, interpreta uma diva da TV de temperamento difícil e vida amorosa conturbada. Haverá semelhança com seus chiliques públicos e o casamento com o policial que morreu de overdose
de cocaína ao lado da amante?
A Folha entrevistou pessoas
que convivem ou conviveram
com Aguinaldo Silva para perguntar que personagem ele seria, baseado em sua personalidade. O resultado segue abaixo.
Para a autora Ana Maria Moretzsohn, 62, parceira de Aguinaldo em uma minissérie e três
novelas, entre elas "Tieta"
(1989/90), na "ficção" o autor
se chamaria José dos Santos,
"um famoso escritor, autor e
blogueiro". "No trato, é adorável, mas saiam de perto se ele
se enfezar. Dono de um vocabulário eficientíssimo e criador
de neologismo espaventosos,
vai chamar você de fifi [algo como fútil] e mequetrefe, entre
outros nomes do gênero", diz.
Aguinaldo, ops, José dos
Santos, "adora artes e patrocina artistas duros, principalmente se forem bailarinos,
profissão que, na próxima encarnação, certamente exercerá". "Em um restaurante chique ou no supermercado, está
sempre alinhadíssimo, com os
cabelos brancos mais bem tratados do mundo." Para interpretá-lo, "escalaria Walmor
Chagas ou Anthony Hopkins".
Ricardo Linhares, 47, que escreveu seis novelas com Aguinaldo, como "A Indomada"
(1997) e "Porto dos Milagres"
(2001), constrói o personagem
como alguém "inteligente, cínico, culto, de gostos refinados,
bem-humorado, sempre com
uma tirada espirituosa, muitas
vezes mordaz, na ponta da língua". "Por dentro, bate um generoso coração", completa.
Atriz-jornalista, Marília Gabriela lembra a passagem de
Aguinaldo pelo jornalismo, no
início da carreira, para "se vingar" no jogo de ficção e realidade. "O personagem de Aguinaldo seria um jornalista fantástico e, por isso mesmo, maldito.
Ele já fez esse papel na imprensa. Hoje seria um jornalista
muito seguro do que faz e, com
isso, seria também um pouco
arrogante. Um pouco de arrogância não faz mal a ninguém."
Suzana Vieira, "diva" de
Aguinaldo, também "dá o troco": "Seria um anarquista, livre, um autor que não está nem
aí para as gravações, alguém
que a gente ama ou odeia".
Ataques
Passagem importante da biografia de Aguinaldo é lembrada
pelo escritor João Silvério Trevisan, 65, com quem editou na
década de 70 "O Lampião", jornal de militância homossexual.
Os dois romperam relações
com o fim da publicação, e Trevisan não é o único a dizer à Folha que Aguinaldo é daqueles
de quem é melhor morrer amigo. "Como brigamos, em uma
novela ["O Outro"/87], ele deu
meu nome a um personagem
cafajeste [João Silvério, interpretado por Miguel Falabella]."
O blog de Aguinaldo, 65, é famoso pelos ataques a qualquer
um que o incomode, jornalista,
internauta e até artista. Outro
dia, escreveu: "Deborah Secco,
que fará o papel de Bruna Surfistinha, tem uma explicação
bastante peculiar para a moça
ter escolhido a profissão de, digamos assim, puta: "Ela tem um
vazio de amor. Foi abandonada
pela família biológica e não teve
amor dos pais adotivos. Por isso
entrou nessa vida". Ah, Deborah, fala sério! Se toda menina
que passou por esse tipo de
problemas virasse puta, esta seria a profissão mais usual na
população feminina mundial".
A Folha tentou contato com
Aguinaldo por duas semanas,
via e-mail, telefone e assessoria
de imprensa, sem resposta. Há
dois anos, em entrevista sobre
a novela "Duas Caras", deu a
seguinte declaração: "A gente
vive muito da questão da boa
educação, de aparências, nunca
fala o que pensa para não ofender os outros. Quando fiz 64,
decidi ser exatamente como
sou. Falo o que tenho que falar,
as pessoas ficam ofendidas
porque sou sincero, direto, e
nunca escondo o que eu penso.
As pessoas idosas são deliciosamente verdadeiras."
Colaborou CAIO BARRETTO BRISO , da Sucursal
do Rio
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