São Paulo, domingo, 06 de dezembro de 2009

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Quero morrer sua amiga

O autor Aguinaldo Silva usa vida real de atrizes para criar personagens em "Cinquentinha", que estreia terça; Ilustrada propõe a conhecidos que façam o mesmo com ele

Ana Carolina Fernandes - 26.set.2007/ Folha Imagem
Aguinaldo Silva, 65, que escreveu as novelas "Tieta" e "Suave Veneno"

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Autor de "Tieta", "Senhora do Destino" e outros sucessos, Aguinaldo Silva vai destilar seu "suave veneno" (outra de suas novelas) em "Cinquentinha", minissérie de oito capítulos que estreia na Globo na terça.
Em um jogo de humor irônico e inovador, ele usou traços das personalidades das atrizes principais -justamente os prediletos das revistas de fofoca- para criar suas personagens. Marília Gabriela, 61, todo mundo sabe, na vida real é jornalista e namora homens bem mais jovens do que ela. Em "Cinquentinha", ela será uma fotógrafa famosa e terá um caso com um amigo do neto.
Já Suzana Vieira, 67, interpreta uma diva da TV de temperamento difícil e vida amorosa conturbada. Haverá semelhança com seus chiliques públicos e o casamento com o policial que morreu de overdose de cocaína ao lado da amante? A Folha entrevistou pessoas que convivem ou conviveram com Aguinaldo Silva para perguntar que personagem ele seria, baseado em sua personalidade. O resultado segue abaixo.
Para a autora Ana Maria Moretzsohn, 62, parceira de Aguinaldo em uma minissérie e três novelas, entre elas "Tieta" (1989/90), na "ficção" o autor se chamaria José dos Santos, "um famoso escritor, autor e blogueiro". "No trato, é adorável, mas saiam de perto se ele se enfezar. Dono de um vocabulário eficientíssimo e criador de neologismo espaventosos, vai chamar você de fifi [algo como fútil] e mequetrefe, entre outros nomes do gênero", diz.
Aguinaldo, ops, José dos Santos, "adora artes e patrocina artistas duros, principalmente se forem bailarinos, profissão que, na próxima encarnação, certamente exercerá". "Em um restaurante chique ou no supermercado, está sempre alinhadíssimo, com os cabelos brancos mais bem tratados do mundo." Para interpretá-lo, "escalaria Walmor Chagas ou Anthony Hopkins".
Ricardo Linhares, 47, que escreveu seis novelas com Aguinaldo, como "A Indomada" (1997) e "Porto dos Milagres" (2001), constrói o personagem como alguém "inteligente, cínico, culto, de gostos refinados, bem-humorado, sempre com uma tirada espirituosa, muitas vezes mordaz, na ponta da língua". "Por dentro, bate um generoso coração", completa. Atriz-jornalista, Marília Gabriela lembra a passagem de Aguinaldo pelo jornalismo, no início da carreira, para "se vingar" no jogo de ficção e realidade. "O personagem de Aguinaldo seria um jornalista fantástico e, por isso mesmo, maldito.
Ele já fez esse papel na imprensa. Hoje seria um jornalista muito seguro do que faz e, com isso, seria também um pouco arrogante. Um pouco de arrogância não faz mal a ninguém." Suzana Vieira, "diva" de Aguinaldo, também "dá o troco": "Seria um anarquista, livre, um autor que não está nem aí para as gravações, alguém que a gente ama ou odeia".

Ataques
Passagem importante da biografia de Aguinaldo é lembrada pelo escritor João Silvério Trevisan, 65, com quem editou na década de 70 "O Lampião", jornal de militância homossexual.
Os dois romperam relações com o fim da publicação, e Trevisan não é o único a dizer à Folha que Aguinaldo é daqueles de quem é melhor morrer amigo. "Como brigamos, em uma novela ["O Outro"/87], ele deu meu nome a um personagem cafajeste [João Silvério, interpretado por Miguel Falabella]."
O blog de Aguinaldo, 65, é famoso pelos ataques a qualquer um que o incomode, jornalista, internauta e até artista. Outro dia, escreveu: "Deborah Secco, que fará o papel de Bruna Surfistinha, tem uma explicação bastante peculiar para a moça ter escolhido a profissão de, digamos assim, puta: "Ela tem um vazio de amor. Foi abandonada pela família biológica e não teve amor dos pais adotivos. Por isso entrou nessa vida". Ah, Deborah, fala sério! Se toda menina que passou por esse tipo de problemas virasse puta, esta seria a profissão mais usual na população feminina mundial".
A Folha tentou contato com Aguinaldo por duas semanas, via e-mail, telefone e assessoria de imprensa, sem resposta. Há dois anos, em entrevista sobre a novela "Duas Caras", deu a seguinte declaração: "A gente vive muito da questão da boa educação, de aparências, nunca fala o que pensa para não ofender os outros. Quando fiz 64, decidi ser exatamente como sou. Falo o que tenho que falar, as pessoas ficam ofendidas porque sou sincero, direto, e nunca escondo o que eu penso. As pessoas idosas são deliciosamente verdadeiras."


Colaborou CAIO BARRETTO BRISO , da Sucursal do Rio


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