São Paulo, domingo, 06 de dezembro de 2009

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Kiko Goifman filma tribos urbanas

Em 26 episódios, série "Hiperreal", na Sesc TV, aborda grupos de jovens paulistanos, como gays evangélicos e skatistas

Imagens feitas pelos próprios personagens, com celulares ou câmeras digitais, são incorporadas a todos os programas

ANA PAULA SOUSA
DA REPORTAGEM LOCAL

Kiko Goifman, o diretor que filmou a busca pela mãe de sangue no documentário "33" e colocou fóbicos para enfrentar os próprios medos em "FilmeFobia", acaba de aprender uma nova lição de cinema. "Hoje, é impossível mostrar o mundo dos jovens sem usar imagens feitas por eles próprios", diz o cineasta, que, desde setembro, anda com a câmera colada a jovens de tribos incógnitas.
Ele seguiu gays evangélicos, investidores financeiros, jovens detetives, adeptos da era vitoriana, skatistas, stickers (que colam adesivos pelas ruas), palestinos e bolivianos. O resultado dessa busca por gostos, manias, etnias e hábitos que deslizam anônimos pelas ruas de São Paulo poderá ser visto a partir da sexta-feira.
"São programas de TV, mas fiz como se fosse cinema", define. "Também não acredito que um programa jovem tenha que ter ritmo de videoclipe. Depende do tema. Alguns são lentos."
O que independe do tema é o jeito amistoso da câmera de Goifman, capaz de entrar em lugares e intimidades reveladores de uma geração que busca sua própria identidade das maneiras mais improváveis, mas sempre com a internet por perto. "Esses grupos são alimentados por duas coisas: pelas redes criadas na internet e pelo registro de tudo o que fazem." Graças a essa mania pelo registro, os programas trazem cenas únicas. Há desde a cerimônia do casamento gay, filmado em estilo familiar, até as manobras mais radicais de skatistas e uma tempestade no deserto, filmada por um jovem palestino refugiado no Brasil. "Conhecer a cidade pelo olhar de um skatista é andar pela rua de um jeito transgressor. Pra eles, um corrimão não é um simples corrimão, é um obstáculo a ser superado", diz o diretor.
Outra característica que tende a unir os personagens da série é a radicalização da aparência. Há as transformações evidentes, a da body art ou a dos jovens que se fantasiam com roupas de personagens de histórias em quadrinhos e mangás. Mas não só. Radicalismo à parte, o figurino é item importante no reconhecimento do grupos "hiperreais". "Para entrar na Gaviões da Fiel, por exemplo, você não pode vestir verde nem usar brinco", conta o diretor. Já os steen-punks, que não tem nada de punks, mas adoram tecnologias a vapor ("steen", em inglês) e coisas do século 19, se vestem com um estilo vitoriano.
Goifman, que nunca havia trabalhado para a TV, está, a um só tempo, entusiasmado e assustado com a velocidade. "Tento não ser superficial, mas também tenho medo de dizer que fiz documentários", diz. Seja lá o que for, "Hiperreal" mostra um real que, andando pelas ruas, nossos olhos distraídos custam a ver.


HIPERREAL

Quando: a partir desta sexta, às 21h
Onde: Sesc TV
Classificação: não informada


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