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Kiko Goifman filma tribos urbanas
Em 26 episódios, série "Hiperreal", na Sesc TV, aborda grupos de jovens paulistanos, como gays evangélicos e skatistas
Imagens feitas pelos próprios personagens,
com celulares ou câmeras digitais, são incorporadas
a todos os programas
ANA PAULA SOUSA
DA REPORTAGEM LOCAL
Kiko Goifman, o diretor que
filmou a busca pela mãe de sangue no documentário "33" e colocou fóbicos para enfrentar os
próprios medos em "FilmeFobia", acaba de aprender uma
nova lição de cinema. "Hoje, é
impossível mostrar o mundo
dos jovens sem usar imagens
feitas por eles próprios", diz o
cineasta, que, desde setembro,
anda com a câmera colada a jovens de tribos incógnitas.
Ele seguiu gays evangélicos,
investidores financeiros, jovens detetives, adeptos da era
vitoriana, skatistas, stickers
(que colam adesivos pelas
ruas), palestinos e bolivianos. O
resultado dessa busca por gostos, manias, etnias e hábitos
que deslizam anônimos pelas
ruas de São Paulo poderá ser
visto a partir da sexta-feira.
"São programas de TV, mas
fiz como se fosse cinema", define. "Também não acredito que
um programa jovem tenha que
ter ritmo de videoclipe. Depende do tema. Alguns são lentos."
O que independe do tema é o
jeito amistoso da câmera de
Goifman, capaz de entrar em
lugares e intimidades reveladores de uma geração que busca
sua própria identidade das maneiras mais improváveis, mas
sempre com a internet por perto. "Esses grupos são alimentados por duas coisas: pelas redes
criadas na internet e pelo registro de tudo o que fazem."
Graças a essa mania pelo registro, os programas trazem cenas únicas. Há desde a cerimônia do casamento gay, filmado
em estilo familiar, até as manobras mais radicais de skatistas e
uma tempestade no deserto,
filmada por um jovem palestino refugiado no Brasil. "Conhecer a cidade pelo olhar de um
skatista é andar pela rua de um
jeito transgressor. Pra eles, um
corrimão não é um simples corrimão, é um obstáculo a ser superado", diz o diretor.
Outra característica que tende a unir os personagens da série é a radicalização da aparência. Há as transformações evidentes, a da body art ou a dos
jovens que se fantasiam com
roupas de personagens de histórias em quadrinhos e mangás. Mas não só. Radicalismo à
parte, o figurino é item importante no reconhecimento do
grupos "hiperreais".
"Para entrar na Gaviões da
Fiel, por exemplo, você não pode vestir verde nem usar brinco", conta o diretor. Já os steen-punks, que não tem nada de
punks, mas adoram tecnologias
a vapor ("steen", em inglês) e
coisas do século 19, se vestem
com um estilo vitoriano.
Goifman, que nunca havia
trabalhado para a TV, está, a
um só tempo, entusiasmado e
assustado com a velocidade.
"Tento não ser superficial, mas
também tenho medo de dizer
que fiz documentários", diz. Seja lá o que for, "Hiperreal" mostra um real que, andando pelas
ruas, nossos olhos distraídos
custam a ver.
HIPERREAL
Quando: a partir desta sexta, às 21h
Onde: Sesc TV
Classificação: não informada
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