São Paulo, sexta-feira, 07 de janeiro de 2005

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POPLOAD

Manifesto RRRRRRRRRRRock!

LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA

Se eu tivesse uma grana forte, em 2005, apostaria toda ela no rock. No rock em geral e principalmente na movimentação do rock independente no Brasil. No rock rock e em tudo o que o rock é capaz de aglutinar em torno, seja na comunhão com outros estilos (eletrônica e rock; não falo de samba-rock), seja em mídia.
De uns anos para cá, a gente teve o aumento absurdo de bandas, casas, eventos, gente freqüentando festas do rock, gente de outra linhagem chegando para ver o que o rock tinha para mostrar, festivais de outros ritmos botando rock para tocar, rock na moda, rock hardcore em festa de playboy, banda sem disco tocando em megafestival.
Tudo bem: começava a sobrar quantidade, mas faltava (e falta até) a qualidade satisfatória. Faltava a movimentação, a liga. Não falta mais. Graças a 2004. Antes não havia a cena. Agora a cena está posta.
Se até o Canadá está botando para quebrar, por que não aqui? Montréal é legal? Também é São Paulo, o umbigo desta coluna.
Vê aí. O disco do Mombojó fez da banda psicodélica recifense o "must" do ano passado. Tem que ver, tem que ouvir. O sem-disco Cansei de Ser Sexy levou sua zoeira sonora para o palco do milionário Tim Festival e abalou geral. Os shows do Cachorro Grande fizeram o quarteto gaúcho virar a banda do ano, segundo eleição dos leitores desta coluna, que não são poucos. O Butchers Orchestra tocou em Moscou, o Autoramas é hit no circuito latino. O Los Pirata é tão bom que emplacou bom projeto solo. O sensível Gram fez o clipe brasileiro do ano e não sou eu quem falo. O Leela assinou com a EMI, que nos anos 70 aceitou o Sex Pistols. O Ludov ganhou prêmio na MTV. E isso tudo é só uma parte.
Nós temos nossas guerrilla gigs. Bandas legais tocam em casa, no chão de clube, em loja de disco, na escada de loja de roupa. Falta só tocar no metrô.
Com uma aparelhagem um pouquinho melhor, nossos clubes sempre lotados virariam ótimas garagens. O deliciosamente kitsch bar Avenida abriu seu palco de MPB e samba para o rock. O Blen Blen está rock.
Dá para sair todos os dias e ouvir rock. Dá para ir para mais que uma balada rock no mesmo dia.
Na pré-balada você tem para onde ir. Quer comer um baita hambúrguer, beber Guinness e ouvir punk sujo? O endereço é a Barra Funda e o lugar é a atmosférica casa Belfiori.
Seu lance é mais Jardins e sua bebida, caipirinha de saquê, com um som electro-rock de qualidade? Vá à atmosférica Bunker, na Consolação, casa luxo dos caras do grupo Sepultura, em que o 2ManyDJs armou "a balada" do ano passado.

Internéticos
Para caçar uma banda indie nacional boa ou praticar o milagre de comprar discos importados bons, novíssimos e a preços de gente, você não precisa sonhar. É só ir ao Trama Virtual, no primeiro caso, lugar internético que propagou o Cansei de Ser Sexy, nos assustou com o Churros Man e abriga o Vera Fisher. Não canso de receber e-mail do tipo: "Você já ouviu a sensacional banda "X'? Tem no Trama Virtual".
E para o segundo caso tem a bendita Peligro, loja só virtual que apresenta no delicioso catálogo as sensações Bloc Party (Inglaterra) e Arcade Fire (Canadá) e vende até coletânea tripla da DFA, a pequena grande gravadora nova-iorquina.
Agora, se você quer ir beber, ouvir som bom, às vezes curtir um showzinho, uma discotecagem, comprar camiseta cool, pôsteres de rock lindos e importados e ainda discos, no final do ano abriu a loja ideal. É a Milo Garage, em Higienópolis, no lado sombrio da rua Minas Gerais.
Se as camisetas da Milo não servem para você, as da Vinil (www.garagem.net/vinil) servem. A também recém-nascida grife botou camisetas com estampas de Flaming Lips e Sonic Youth para vender em shopping center. E se esgotaram.
Você liga o rádio e tem a Brasil 2000 FM, que às vezes é boa, às vezes é muito boa. Melhor que a programação da Brasil 2000 e um próprio programa da casa, o "Garagem", hit da emissora às segundas à noite. Mas os bons sons não vem só de rádio convencional, todo mundo sabe. Novidades espertas são facilmente sintonizáveis, por exemplo, no mundo virtual. No UOL, no meio de tantas rádios mora o precioso Pop Mix, de atualização semanal. E vem aí a porção on-line do ótimo programa Studio 11, que é organizado por uma antenada trupe indie para agitar a região de Franca e Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.
A cena paulistana em particular e a brasileira, em geral, são realidades bem palpáveis. É preciso tirar proveito disso, agora. A coisa está andando. Não é à toa que um moleque de uma banda inglesa (Razorlight) citou São Paulo como cena, em uma revista.
Notícias de bastidores apontam que mais programas de rádios e mais festivais (pequeno ou gigante), mais livros sobre rock e mais roupas e mais lojas e mais baladas que balançam o movimento vão sair da mesa de projetos em 2005.
Então, como grita o James Murphy (LCD Soundsystem), em "Kick Out the Chairs", o último hino pop, dê uma bica na cadeira e levanta daí.

lucio@uol.com.br


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