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POPLOAD
Manifesto RRRRRRRRRRRock!
LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA
Se eu tivesse uma grana forte,
em 2005, apostaria toda ela no
rock. No rock em geral e principalmente na movimentação do
rock independente no Brasil. No
rock rock e em tudo o que o rock é
capaz de aglutinar em torno, seja
na comunhão com outros estilos
(eletrônica e rock; não falo de
samba-rock), seja em mídia.
De uns anos para cá, a gente teve
o aumento absurdo de bandas,
casas, eventos, gente freqüentando festas do rock, gente de outra
linhagem chegando para ver o
que o rock tinha para mostrar,
festivais de outros ritmos botando
rock para tocar, rock na moda,
rock hardcore em festa de playboy, banda sem disco tocando em
megafestival.
Tudo bem: começava a sobrar
quantidade, mas faltava (e falta
até) a qualidade satisfatória. Faltava a movimentação, a liga. Não
falta mais. Graças a 2004. Antes
não havia a cena. Agora a cena está posta.
Se até o Canadá está botando
para quebrar, por que não aqui?
Montréal é legal? Também é São
Paulo, o umbigo desta coluna.
Vê aí. O disco do Mombojó fez
da banda psicodélica recifense o
"must" do ano passado. Tem que
ver, tem que ouvir. O sem-disco
Cansei de Ser Sexy levou sua zoeira sonora para o palco do milionário Tim Festival e abalou geral.
Os shows do Cachorro Grande fizeram o quarteto gaúcho virar a
banda do ano, segundo eleição
dos leitores desta coluna, que não
são poucos. O Butchers Orchestra
tocou em Moscou, o Autoramas é
hit no circuito latino. O Los Pirata
é tão bom que emplacou bom
projeto solo. O sensível Gram fez
o clipe brasileiro do ano e não sou
eu quem falo. O Leela assinou
com a EMI, que nos anos 70 aceitou o Sex Pistols. O Ludov ganhou
prêmio na MTV. E isso tudo é só
uma parte.
Nós temos nossas guerrilla gigs.
Bandas legais tocam em casa, no
chão de clube, em loja de disco, na
escada de loja de roupa. Falta só
tocar no metrô.
Com uma aparelhagem um
pouquinho melhor, nossos clubes
sempre lotados virariam ótimas
garagens. O deliciosamente kitsch
bar Avenida abriu seu palco de
MPB e samba para o rock. O Blen
Blen está rock.
Dá para sair todos os dias e ouvir rock. Dá para ir para mais que
uma balada rock no mesmo dia.
Na pré-balada você tem para
onde ir. Quer comer um baita
hambúrguer, beber Guinness e
ouvir punk sujo? O endereço é a
Barra Funda e o lugar é a atmosférica casa Belfiori.
Seu lance é mais Jardins e sua
bebida, caipirinha de saquê, com
um som electro-rock de qualidade? Vá à atmosférica Bunker, na
Consolação, casa luxo dos caras
do grupo Sepultura, em que o
2ManyDJs armou "a balada" do
ano passado.
Internéticos
Para caçar uma banda indie nacional boa ou praticar o milagre
de comprar discos importados
bons, novíssimos e a preços de
gente, você não precisa sonhar. É
só ir ao Trama Virtual, no primeiro caso, lugar internético que propagou o Cansei de Ser Sexy, nos
assustou com o Churros Man e
abriga o Vera Fisher. Não canso
de receber e-mail do tipo: "Você
já ouviu a sensacional banda "X'?
Tem no Trama Virtual".
E para o segundo caso tem a
bendita Peligro, loja só virtual que
apresenta no delicioso catálogo as
sensações Bloc Party (Inglaterra)
e Arcade Fire (Canadá) e vende
até coletânea tripla da DFA, a pequena grande gravadora nova-iorquina.
Agora, se você quer ir beber, ouvir som bom, às vezes curtir um
showzinho, uma discotecagem,
comprar camiseta cool, pôsteres
de rock lindos e importados e ainda discos, no final do ano abriu a
loja ideal. É a Milo Garage, em Higienópolis, no lado sombrio da
rua Minas Gerais.
Se as camisetas da Milo não servem para você, as da Vinil
(www.garagem.net/vinil) servem. A também recém-nascida
grife botou camisetas com estampas de Flaming Lips e Sonic Youth
para vender em shopping center.
E se esgotaram.
Você liga o rádio e tem a Brasil
2000 FM, que às vezes é boa, às vezes é muito boa. Melhor que a
programação da Brasil 2000 e um
próprio programa da casa, o "Garagem", hit da emissora às segundas à noite. Mas os bons sons não
vem só de rádio convencional, todo mundo sabe. Novidades espertas são facilmente sintonizáveis,
por exemplo, no mundo virtual.
No UOL, no meio de tantas rádios
mora o precioso Pop Mix, de
atualização semanal. E vem aí a
porção on-line do ótimo programa Studio 11, que é organizado
por uma antenada trupe indie para agitar a região de Franca e Ribeirão Preto, no interior de São
Paulo.
A cena paulistana em particular
e a brasileira, em geral, são realidades bem palpáveis. É preciso tirar proveito disso, agora. A coisa
está andando. Não é à toa que um
moleque de uma banda inglesa
(Razorlight) citou São Paulo como cena, em uma revista.
Notícias de bastidores apontam
que mais programas de rádios e
mais festivais (pequeno ou gigante), mais livros sobre rock e mais
roupas e mais lojas e mais baladas
que balançam o movimento vão
sair da mesa de projetos em 2005.
Então, como grita o James
Murphy (LCD Soundsystem), em
"Kick Out the Chairs", o último
hino pop, dê uma bica na cadeira
e levanta daí.
lucio@uol.com.br
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