São Paulo, sexta-feira, 07 de janeiro de 2005

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Mitologia local vira conto de fada internacional

MÔNICA RODRIGUES DA COSTA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O melhor de "Tainá 2" é contribuir para transformar a mitologia brasileira em conto de fada internacional. O filme é a continuação da história de Tainá, a índia defensora da floresta, agora com 14 anos, que enfrenta caçadores e piratas da biodiversidade.
O escritor Daniel Munduruku, autor de lendas do povo munduruku, faz participação como o pajé Tatu Pituna. Conhecedor da mata, ele é conselheiro das crianças e consegue transformar gente em bicho.
Os dois "Tainás" já ganharam reconhecimento internacional, como o do júri infantil do Festival de Chicago.
O imaginário indígena do Brasil tem os ingredientes para uma saga mágico-heróica: o talismã da sorte, vilões, heroína, metamorfose. A vilã Zuzu (Chris Couto) é transformada em macaco por causa de suas maldades com a fauna e a flora. Muitos mitos tupis trazem a metamorfose de ser humano em macaco, como a lenda do nascimento da noite, recolhida por Couto de Magalhães no século 19. Nesse mito de origem, a filha de Cobra Grande transforma índios em macacos porque eles abriram o caroço do tucumã e soltaram a noite.
"Tainá 2" é eticamente correto, além de sincrético e bem encadeado. Predominam referências aos índios amazônicos. Como os heróis civilizadores Bahira e Macunaíma, Tatu Pituna tem traços cômicos: é atrapalhado a ponto de errar seus encantamentos. Como em certas narrativas indígenas, tipicamente cômicas, o papagaio vive fazendo piadas.
As crianças estão ornadas para cerimônias e ensaiam cantos e danças. Catiti (Arilene Rodrigues) deseja tanto um bicho de estimação que encontra um cachorro perdido na floresta. O conflito surge quando o dono do cão vai resgatá-lo. Mas os curumins e o menino se unem contra a ameaça maior: os destruidores da natureza.
Num ultraleve, Kadu Moliterno mata a saudade da série "Armação Ilimitada", mas seu personagem é o mais inverossímil. Não se parece com o pesquisador brasileiro, que não tem casa tão estilosamente Disney como a do biólogo que interpreta. Mas o que importa é a diversão: e isso o filme garante.


Mônica Rodrigues da Costa é co-autora do livro "Vice-Versa ao Contrário" (Companhia das Letrinhas)

Tainá 2 - A Aventura Continua
   
Direção: Mauro Lima
Produção: Brasil, 2004
Com: Eunice Baia, Chris Couto
Quando: a partir de hoje nos cines Extra Anchieta, Penha e circuito


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