|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Mitologia local
vira conto de fada
internacional
MÔNICA RODRIGUES DA COSTA
ESPECIAL PARA A FOLHA
O melhor de "Tainá 2" é
contribuir para transformar a mitologia brasileira em
conto de fada internacional. O
filme é a continuação da história de Tainá, a índia defensora
da floresta, agora com 14 anos,
que enfrenta caçadores e piratas da biodiversidade.
O escritor Daniel Munduruku, autor de lendas do povo
munduruku, faz participação
como o pajé Tatu Pituna. Conhecedor da mata, ele é conselheiro das crianças e consegue
transformar gente em bicho.
Os dois "Tainás" já ganharam reconhecimento internacional, como o do júri infantil
do Festival de Chicago.
O imaginário indígena do
Brasil tem os ingredientes para
uma saga mágico-heróica: o talismã da sorte, vilões, heroína,
metamorfose. A vilã Zuzu
(Chris Couto) é transformada
em macaco por causa de suas
maldades com a fauna e a flora.
Muitos mitos tupis trazem a
metamorfose de ser humano
em macaco, como a lenda do
nascimento da noite, recolhida
por Couto de Magalhães no século 19. Nesse mito de origem,
a filha de Cobra Grande transforma índios em macacos porque eles abriram o caroço do
tucumã e soltaram a noite.
"Tainá 2" é eticamente correto, além de sincrético e bem encadeado. Predominam referências aos índios amazônicos.
Como os heróis civilizadores
Bahira e Macunaíma, Tatu Pituna tem traços cômicos: é
atrapalhado a ponto de errar
seus encantamentos. Como em
certas narrativas indígenas, tipicamente cômicas, o papagaio
vive fazendo piadas.
As crianças estão ornadas para cerimônias e ensaiam cantos
e danças. Catiti (Arilene Rodrigues) deseja tanto um bicho de
estimação que encontra um cachorro perdido na floresta. O
conflito surge quando o dono
do cão vai resgatá-lo. Mas os
curumins e o menino se unem
contra a ameaça maior: os destruidores da natureza.
Num ultraleve, Kadu Moliterno mata a saudade da série
"Armação Ilimitada", mas seu
personagem é o mais inverossímil. Não se parece com o pesquisador brasileiro, que não
tem casa tão estilosamente Disney como a do biólogo que interpreta. Mas o que importa é a
diversão: e isso o filme garante.
Mônica Rodrigues da Costa é co-autora do livro "Vice-Versa ao Contrário" (Companhia das Letrinhas)
Tainá 2 - A Aventura Continua
Direção: Mauro Lima
Produção: Brasil, 2004
Com: Eunice Baia, Chris Couto
Quando: a partir de hoje nos cines
Extra Anchieta, Penha e circuito
Texto Anterior: Cinema: "Tainá 2" enfrenta a floresta amazônica Próximo Texto: "Teorema": Obra-prima de 68 de Pasolini faz parábola sobre a crise burguesa Índice
|