São Paulo, sexta-feira, 07 de janeiro de 2005

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"DE-LOVELY - VIDA E AMORES DE COLE PORTER"

Musical sobre compositor tira-o do armário e maltrata suas canções

IRINEU FRANCO PERPETUO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Ser maltratado pelo cinema não é privilégio de compositor clássico. Um dos maiores cancionistas americanos junta-se ao seleto clube formado por Mozart, Beethoven, Chopin e Liszt graças a "De-Lovely - Vida e Amores de Cole Porter".
Porter já havia sido tema de "A Canção Inesquecível", barbaridade perpetrada por Michael Curtiz em 46, com um Cary Grant no auge do charme no papel principal.
Porém, embora tire o compositor do armário, Winkler não é muito mais fiel ao factual do que Curtiz, reduzindo a biografia de Porter a seu casamento com Linda Lee, retratado como uma emocionada história de amor, na qual o cancionista aparece quase como um bissexual, cujas escapadelas tinham menos importância que Lee, sendo capaz de amá-la carnalmente, quando, ao que tudo indica, sexo ele só teve fora do casamento -e com homens.
Kevin Kline forma um casal glamouroso com uma Ashley Judd, à qual o roteiro confere as falas mais inteligentes, e um personagem de desprendimento no limite do inverossímil. Fosse "De-Lovely" constituído só da dupla, mais Jonathan Pryce (uma espécie de "deus ex-machina" que faz o compositor rever seu passado) e teríamos um dramalhão tão assistível quanto esquecível.
O problema é que o filme derrapa naquele que deveria ser seu ponto forte -a interpretação das canções, já que é um musical, no qual desfilam vários astros do pop, que não resistem à tentação de colocar seus egos entre o compositor e o público e, em busca de uma inatingível originalidade, substituem o que deveria ser seu estilo pessoal por uma série de vícios e maneirismos, aos quais às canções de Porter são constrangidas a se adaptar.
Dentro desta perspectiva, acaba sendo uma questão de empatia, complacência ou paciência suportar o vibrato de Alanis Morrisette em "Let's Do It, Let's Fall in Love". Se até dá para tirar prazer do timbre aveludado de Vivien Green em "Love For Sale", a depredação de "Begin the Beguine" por Sheryl Crow chega a remeter à leitura "kitsch" da mesma canção feita há tempos por Julio Iglesias.
De-Lovely - Vida e Amores de


Cole Porter
De-Lovely
  
Direção: Irwin Winkler
Produção: EUA/Inglaterra, 2004
Com: Kevin Kline, Ashley Judd, Jonathan Pryce
Quando: a partir de hoje nos cines Kinoplex Itaim, Pátio Higienópolis e Frei Caneca Unibanco Arteplex



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