|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"DE-LOVELY - VIDA E AMORES DE COLE PORTER"
Musical sobre compositor tira-o do armário e maltrata suas canções
IRINEU FRANCO PERPETUO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Ser maltratado pelo cinema
não é privilégio de compositor clássico. Um dos maiores cancionistas americanos junta-se ao
seleto clube formado por Mozart,
Beethoven, Chopin e Liszt graças
a "De-Lovely - Vida e Amores de Cole Porter".
Porter já havia sido tema de "A
Canção Inesquecível", barbaridade perpetrada por Michael Curtiz
em 46, com um Cary Grant no auge do charme no papel principal.
Porém, embora tire o compositor do armário, Winkler não é
muito mais fiel ao factual do que
Curtiz, reduzindo a biografia de
Porter a seu casamento com Linda Lee, retratado como uma emocionada história de amor, na qual
o cancionista aparece quase como
um bissexual, cujas escapadelas
tinham menos importância que
Lee, sendo capaz de amá-la carnalmente, quando, ao que tudo
indica, sexo ele só teve fora do casamento -e com homens.
Kevin Kline forma um casal glamouroso com uma Ashley Judd, à
qual o roteiro confere as falas
mais inteligentes, e um personagem de desprendimento no limite
do inverossímil. Fosse "De-Lovely" constituído só da dupla,
mais Jonathan Pryce (uma espécie de "deus ex-machina" que faz
o compositor rever seu passado) e
teríamos um dramalhão tão assistível quanto esquecível.
O problema é que o filme derrapa naquele que deveria ser seu
ponto forte -a interpretação das
canções, já que é um musical, no
qual desfilam vários astros do
pop, que não resistem à tentação
de colocar seus egos entre o compositor e o público e, em busca de
uma inatingível originalidade,
substituem o que deveria ser seu
estilo pessoal por uma série de vícios e maneirismos, aos quais às
canções de Porter são constrangidas a se adaptar.
Dentro desta perspectiva, acaba
sendo uma questão de empatia,
complacência ou paciência suportar o vibrato de Alanis Morrisette em "Let's Do It, Let's Fall in
Love". Se até dá para tirar prazer
do timbre aveludado de Vivien
Green em "Love For Sale", a depredação de "Begin the Beguine"
por Sheryl Crow chega a remeter à
leitura "kitsch" da mesma canção
feita há tempos por Julio Iglesias.
De-Lovely - Vida e Amores de
Cole Porter
De-Lovely
Direção: Irwin Winkler
Produção: EUA/Inglaterra, 2004
Com: Kevin Kline, Ashley Judd, Jonathan Pryce
Quando: a partir de hoje nos cines
Kinoplex Itaim, Pátio Higienópolis e Frei
Caneca Unibanco Arteplex
Texto Anterior: "O Grito": Refilmagem de terror japonês perde o susto com truques velhos Próximo Texto: Música: Pete Doherty luta contra o "botão da autodestruição" Índice
|