São Paulo, sexta-feira, 07 de janeiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA

Babyshambles, atual banda do ex-Libertines, é uma das apostas para 2005

Pete Doherty luta contra o "botão da autodestruição"

COLUNISTA DA FOLHA

Se o 2005 pop tem uma cara, ela é inglesa, gordinha, tem um cabelo porcamente cortado e fica grudada ao pescoço de um garoto-problema chamado Pete Doherty.
Ex-figura do Libertines (uma das "bandas de 2004"), atual Babyshambles (uma das apostas para 2005), Doherty, 25, é apontado como um Kurt Cobain na autodestruição, um Morrissey de rua nas letras, um Sid Vicious na levada da juventude aos limites.
A história de amizade com Carl Libertines, o histórico da cadeia por roubar o amigo, a expulsão da banda e as idas e vindas às clínicas de desintoxicação parecem coisas de um passado distante.
Se ele já era mais famoso por seu estilo de vida torto do que por sua música, o guitarrista e vocalista Pete Doherty atravessa para o ano novo vendo a Inglaterra de olho e ouvido grudado no que vai fazer a sua banda, o Babyshambles.
Na bolsa de apostas informais, ele continua sendo o "2005's most-likely-to-die celebrity" (a celebridade que não deve chegar viva à 2006). Mas sua excelente música tem causado uma revolução. É a atual banda mais falada do Reino Unido, com apenas dois singles (mal) lançados e um punhado de apresentações confusas. Isso quando a banda aparece.
O segundo single, "Killamangiro", saiu no fim de novembro pela Rough Trade. Além da ótima faixa-título, traz uma outra grande canção, linda de tão sincera e ingênua, toscamente tocada, dentro do estilo do novo rock inglês. O título é sugestivo e improvável: "The Man who Came to Stay" (O Homem que Veio para Ficar).
Juntando com outras que surgiram em raras sessões de rádio, mais as canções do Libertines que Doherty canta por direito, o mercado de rua de Camden Town já vê uns cinco álbuns piratas do Babyshambles, diferentes, serem vendidos por um bom preço.
Um dos DJs mais famosos da Radio One (BBC), Zane Lowe, disse que a nova música, "Fuck Forever", vai entrar direto na parada britânica. Os ilustres Bobbie Gillespie (Primal Scream) e Kevin Shields (My Bloody Valentine) se ofereceram para produzir o disco de estréia, ninguém sabe quando.
Não exatamente um exemplo de ídolo, Doherty já entrou nos lares ingleses via TV. No último dia 21, ele foi o entrevistado do programa "Newsnight" (BBC Two). Na pauta estava seu depoimento sobre o conturbado relacionamento com os amigos, os fãs e o vício do crack. "Sei exatamente onde está o botão da autodestruição; eu só tenho que resistir à tentação de apertá-lo." Tocou maravilhosamente a lírica "Music When the Lights Go Out", canção de disco do Libertines.
Três dias antes, no final de uma turnê britânica, o Babyshambles acabaria a série de shows em Londres, no clube Astoria. Casa lotada desde as 22h. O som rolaria às 24h. Às 2h, o aviso que a banda não apareceu. Cerca de 200 pessoas invadiram o palco para quebrar os instrumentos. Gente saiu machucada. No noite do Réveillon, uma horda de meninos e meninas vestidas como Doherty queria invadir o palco em Manchester. Ele fazia um show acústico e a molecada achava que estava diante de um "beatle".
No começo de 2005, o Babyshambles sai dos clubinhos para virar banda grande. O quarteto, se tudo correr bem, sobe ao palco do Brixton Academy no dia 22/2. Se Doherty conseguir atender ao show, será sua consagração. O ano começará a ser dele.
(LÚCIO RIBEIRO)


Texto Anterior: "De-Lovely - Vida e Amores de Cole Porter": Musical sobre compositor tira-o do armário e maltrata suas canções
Próximo Texto: Outros lançamentos - Eternamente jovem: Greatest Hits
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.