São Paulo, quarta-feira, 07 de janeiro de 2009

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"Noite do Barqueiro" narra jornada de autodescoberta

Peça do dramaturgo Samir Yazbek mostra travessia marítima de tons metafísicos

Espetáculo, que estreia nesta sexta, marca os 30 anos de carreira do ator Helio Cicero, defensor de "teatro simbólico e poético"

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Após ouvir um chamado, um homem veste suas certezas, deixa a família e lança-se ao mar, rumo a um farol. A meio caminho, uma tempestade o forçará a atracar numa ilha, onde terá por companheiros medo e hesitação, mas também a possibilidade de "se saber" -como dirá a certa altura.
Na peça "A Noite do Barqueiro", que estreia nesta sexta, em São Paulo, o dramaturgo Samir Yazbek e o ator Helio Cicero partem da situação acima descrita para "falar daquilo que nos incomoda, nos faz gente, nos eleva e destrói, faz nossa trajetória enquanto artistas", nas palavras do primeiro.
"A ideia era que o texto espelhasse nossas inquietações em relação aos principais impasses do homem contemporâneo", afirma Yazbek, ao que Cicero completa: "Para onde vai tudo isso? Que tipo de chamado buscamos atualmente?".
Segundo o autor, o personagem do título foi talhado à imagem de um anjo caído, um ser "apartado de suas origens, que se perdeu". A tormenta que arranca do viajante suas convicções também traz "uma inversão de expectativa, no sentido do que consiste a travessia dele", observa Yazbek: "Ela se torna absolutamente não geográfica, não externa, mas para dentro de si, de autotransformação. Nesse processo, a perda das ilusões, a dor e o enfrentamento da morte têm um peso decisivo para que ele continue sonhando, mas com os pés no chão".
O verniz metafísico da dramaturgia abre espaço para o teatro "mais simbólico, mais poético, porém compreensível, não hermético" que move Cicero. Com o monólogo, o ator de 53 anos brinda aos seus 30 de carreira. "Caí no teatro absolutamente por acaso. Sou filho de motorista de caminhão e costureira", conta.
Boi Voador e Antunes
Depois de trabalhar como eletrotécnico e em farmácia e escritório de contabilidade, Cicero se formou na Escola de Arte Dramática da USP e enfileirou trabalhos com o dramaturgo Zé Vicente e o ator e diretor Antonio Abujamra. No meio da década de 80, fundou com o diretor Ulysses Cruz a cia. Boi Voador, na qual encenou textos de Guimarães Rosa, Jorge Amado e William Shakespeare.
O reconhecimento definitivo na cena paulistana veio com a filiação ao CPT de Antunes Filho, na virada para os anos 90. Ali, participou de montagens como "Paraíso Zona Norte", de Nelson Rodrigues, e "Vereda da Salvação", de Jorge Andrade.
O encontro com Yazbek se deu em 1998, em "O Fingidor", texto no qual o escritor Fernando Pessoa se disfarça de datilógrafo para trabalhar com um crítico de sua obra -o espetáculo reestreia em 4/4, no Tuca. De lá para cá, foram quatro colaborações entre os dois, cofundadores da cia. Arnesto nos Convidou. A próxima é "Raízes", prometida para agosto.


A NOITE DO BARQUEIRO
Quando: estreia sexta, às 21h; sáb., às 20h; dom., às 18h; até 15/2
Onde: Sesc Ipiranga (r. Bom Pastor, 822, tel. 0/xx/11/3340-2000)
Quanto: de R$ 5 a R$ 15
Classificação: não indicada a menores de 14 anos



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