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"Noite do Barqueiro" narra jornada de autodescoberta
Peça do dramaturgo Samir Yazbek mostra travessia marítima de tons metafísicos
Espetáculo, que estreia nesta sexta, marca os 30 anos de carreira do ator Helio Cicero, defensor de "teatro simbólico e poético"
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
Após ouvir um chamado, um
homem veste suas certezas,
deixa a família e lança-se ao
mar, rumo a um farol. A meio
caminho, uma tempestade o
forçará a atracar numa ilha, onde terá por companheiros medo e hesitação, mas também a
possibilidade de "se saber"
-como dirá a certa altura.
Na peça "A Noite do Barqueiro", que estreia nesta sexta, em
São Paulo, o dramaturgo Samir
Yazbek e o ator Helio Cicero
partem da situação acima descrita para "falar daquilo que
nos incomoda, nos faz gente,
nos eleva e destrói, faz nossa
trajetória enquanto artistas",
nas palavras do primeiro.
"A ideia era que o texto espelhasse nossas inquietações em
relação aos principais impasses
do homem contemporâneo",
afirma Yazbek, ao que Cicero
completa: "Para onde vai tudo
isso? Que tipo de chamado buscamos atualmente?".
Segundo o autor, o personagem do título foi talhado à imagem de um anjo caído, um ser
"apartado de suas origens, que
se perdeu". A tormenta que arranca do viajante suas convicções também traz "uma inversão de expectativa, no sentido
do que consiste a travessia dele", observa Yazbek:
"Ela se torna absolutamente
não geográfica, não externa,
mas para dentro de si, de autotransformação. Nesse processo, a perda das ilusões, a dor e o
enfrentamento da morte têm
um peso decisivo para que ele
continue sonhando, mas com
os pés no chão".
O verniz metafísico da dramaturgia abre espaço para o
teatro "mais simbólico, mais
poético, porém compreensível,
não hermético" que move Cicero. Com o monólogo, o ator de
53 anos brinda aos seus 30 de
carreira. "Caí no teatro absolutamente por acaso. Sou filho de
motorista de caminhão e costureira", conta.
Boi Voador e Antunes
Depois de trabalhar como
eletrotécnico e em farmácia e
escritório de contabilidade, Cicero se formou na Escola de Arte Dramática da USP e enfileirou trabalhos com o dramaturgo Zé Vicente e o ator e diretor
Antonio Abujamra. No meio da
década de 80, fundou com o diretor Ulysses Cruz a cia. Boi
Voador, na qual encenou textos
de Guimarães Rosa, Jorge
Amado e William Shakespeare.
O reconhecimento definitivo
na cena paulistana veio com a
filiação ao CPT de Antunes Filho, na virada para os anos 90.
Ali, participou de montagens
como "Paraíso Zona Norte", de
Nelson Rodrigues, e "Vereda da
Salvação", de Jorge Andrade.
O encontro com Yazbek se
deu em 1998, em "O Fingidor",
texto no qual o escritor Fernando Pessoa se disfarça de datilógrafo para trabalhar com
um crítico de sua obra -o espetáculo reestreia em 4/4, no Tuca. De lá para cá, foram quatro
colaborações entre os dois, cofundadores da cia. Arnesto nos
Convidou. A próxima é "Raízes", prometida para agosto.
A NOITE DO BARQUEIRO
Quando: estreia sexta, às 21h; sáb., às
20h; dom., às 18h; até 15/2
Onde: Sesc Ipiranga (r. Bom Pastor,
822, tel. 0/xx/11/3340-2000)
Quanto: de R$ 5 a R$ 15
Classificação: não indicada a menores
de 14 anos
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