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CINEMA
Alemão Tom Tykwer faz três mudanças no roteiro original e é recebido discretamente na abertura do Festival de Berlim
"Heaven" combina Kieslowski com a nova geração
FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM
Esqueça "Corra Lola, Corra". O
clima tecno combinado com a linguagem rápida de videoclipe foi
trocado agora pela religiosa e soturna música de Arvo Pärt, que
reforça o clima de suspense de
"Heaven", filme do alemão Tom
Tykwer que abriu ontem o 52º
Festival Internacional de Berlim.
Tal transformação não é casual.
O longa, feito a partir do roteiro
deixado pelo polonês Krzysztof
Kieslowski e baseado no livro de
Krzysztof Piesiewicz, mantém a
atmosfera densa e repleta de casualidades das produções de
Kieslowski, como a trilogia "Vermelho", "Branco" e "Azul".
"Heaven" conta uma história de
amor entre Philippa (a bela Cate
Blanchett) e Filippo (Giovanni Ribisi, o irmão de Phoebe, no seriado "Friends"). Ela é presa por ter
causado a morte de quatro pessoas com uma bomba, em Turim.
Ele é um carabinnieri (policial italiano) que faz as traduções de Philippa no interrogatório. Amor à
primeira vista. Como toda história de paixão, o filme se baseia em
irracionalidade, radicalidade e
compreensão.
"Os personagens participam de
uma jornada espiritual e metafísica em busca do amor, foi assim
que construí Philippa", disse ontem Blanchett, durante entrevista
aos jornalistas do festival. A atriz
tem seus cabelos cortados durante o filme. "Foi um dos momentos
mais nervosos da filmagem, pois
só podíamos fazer a cena uma
vez, suei o tempo todo", afirmou
o diretor alemão.
"Para mim, cortar o cabelo também significava a busca da pureza
nas personagens, nunca tive dúvidas de que deveria ficar careca",
disse ainda Blanchett.
A recepção de "Heaven" na sessão para a imprensa ontem foi
discreta, obteve poucos aplausos.
Mas é cedo. O filme provocou
grande expectativa não só por ter
aberto oficialmente o festival, mas
por reunir um dos mais criativos
diretores da nova geração alemã
com o roteiro de um dos mais importantes diretores do século 20.
Faltam ainda 22 produções a serem exibidas na mostra competitiva, e tudo é possível.
"Heaven" tem chances. É um
belo filme, que em certos momentos parece até mesmo ter sido dirigido por Kieslowski, o que não é
uma ótima credencial para
Tykwer. Há respeito demais pelo
roteiro, mas não é decepcionante.
O filme tem ainda a ótima interpretação de Blanchett e um bom
desempenho de Ribisi.
De acordo com Piesiewicz, "o
filme é muito fiel ao roteiro original, apenas três mudanças foram
feitas". Uma delas foi a primeira
cena, uma simulação gráfica de
um vôo de helicóptero, feita por
Filippo. Foi o momento mais próximo de "Corra Lola, Corra". Poderia ter mais.
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