São Paulo, quinta-feira, 07 de fevereiro de 2002

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CINEMA

Alemão Tom Tykwer faz três mudanças no roteiro original e é recebido discretamente na abertura do Festival de Berlim

"Heaven" combina Kieslowski com a nova geração

FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

Esqueça "Corra Lola, Corra". O clima tecno combinado com a linguagem rápida de videoclipe foi trocado agora pela religiosa e soturna música de Arvo Pärt, que reforça o clima de suspense de "Heaven", filme do alemão Tom Tykwer que abriu ontem o 52º Festival Internacional de Berlim.
Tal transformação não é casual. O longa, feito a partir do roteiro deixado pelo polonês Krzysztof Kieslowski e baseado no livro de Krzysztof Piesiewicz, mantém a atmosfera densa e repleta de casualidades das produções de Kieslowski, como a trilogia "Vermelho", "Branco" e "Azul".
"Heaven" conta uma história de amor entre Philippa (a bela Cate Blanchett) e Filippo (Giovanni Ribisi, o irmão de Phoebe, no seriado "Friends"). Ela é presa por ter causado a morte de quatro pessoas com uma bomba, em Turim. Ele é um carabinnieri (policial italiano) que faz as traduções de Philippa no interrogatório. Amor à primeira vista. Como toda história de paixão, o filme se baseia em irracionalidade, radicalidade e compreensão.
"Os personagens participam de uma jornada espiritual e metafísica em busca do amor, foi assim que construí Philippa", disse ontem Blanchett, durante entrevista aos jornalistas do festival. A atriz tem seus cabelos cortados durante o filme. "Foi um dos momentos mais nervosos da filmagem, pois só podíamos fazer a cena uma vez, suei o tempo todo", afirmou o diretor alemão.
"Para mim, cortar o cabelo também significava a busca da pureza nas personagens, nunca tive dúvidas de que deveria ficar careca", disse ainda Blanchett.
A recepção de "Heaven" na sessão para a imprensa ontem foi discreta, obteve poucos aplausos. Mas é cedo. O filme provocou grande expectativa não só por ter aberto oficialmente o festival, mas por reunir um dos mais criativos diretores da nova geração alemã com o roteiro de um dos mais importantes diretores do século 20. Faltam ainda 22 produções a serem exibidas na mostra competitiva, e tudo é possível.
"Heaven" tem chances. É um belo filme, que em certos momentos parece até mesmo ter sido dirigido por Kieslowski, o que não é uma ótima credencial para Tykwer. Há respeito demais pelo roteiro, mas não é decepcionante. O filme tem ainda a ótima interpretação de Blanchett e um bom desempenho de Ribisi.
De acordo com Piesiewicz, "o filme é muito fiel ao roteiro original, apenas três mudanças foram feitas". Uma delas foi a primeira cena, uma simulação gráfica de um vôo de helicóptero, feita por Filippo. Foi o momento mais próximo de "Corra Lola, Corra". Poderia ter mais.



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