São Paulo, quinta-feira, 07 de fevereiro de 2002

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MÚSICA

"Gauleses Irredutíveis" narra principais fatos da cena rio-grandense contados pelos seus principais personagens

Livro traz história oral do rock gaúcho

ALEXANDRE PETILLO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Gradativamente, a história do rock brasileiro vem sido contada. Os principais focos roqueiros do país começam a ganhar obras, simples, mas bem elaboradas e abrangentes. Em meados do ano passado, a editora Conrad lançou "O Diário da Turma 1976-1986: A História do Rock de Brasília", do jornalista Paulo Marchetti, contando o nascimento de algumas das principais bandas de rock brasileiras dos anos 80 que surgiram no cerrado, como Legião Urbana, Capital Inicial, Plebe Rude e Raimundos.
Agora é a vez da cena roqueira gaúcha ganhar o seu apanhado de boas histórias. "Gauleses Irredutíveis", de Alisson Ávila, Cristiano Bastos e Eduardo Muller, traça toda a história do rock feito no Rio Grande do Sul, dos anos 50 até os dias de hoje.
"Um livro como esse não tem capacidade física de incluir todas as pessoas que, de alguma forma ou de outra, foram responsáveis pela construção da cena gaúcha desde o final da década de 50, nosso ponto de partida. E, como a idéia desde o início era dar voz para todas as pessoas possíveis, seja lá o tamanho da banda, a coisa fica meio com cara de "sem fim'", afirma Ávila.
"Longe demais das capitais", a cena gaúcha sempre foi muito falada na mídia especializada, mas pouco ouvida pelo grande público. Por não repartir o sucesso de outras cenas roqueiras, algumas das principais bandas gaúchas acabaram ficando famosas apenas nos pampas. É o caso, por exemplo, da extinta Graforréia Xilarmônica, cujo legado não cansa de "exportar" sucessos para as bandas do Sudeste (Pato Fu estourou no ano passado, em todo o Brasil, com "Eu", música da primeira demo da Graforréia, de 1988. O Ira! regravou "Homem de Neanderthal", canção da carreira solo de Frank Jorge, ex-líder da Graforréia).
Esse elitismo poderia tornar "Gauleses Irredutíveis" apenas digerível para os gaúchos ou para aqueles que acompanharam a cena gaúcha de perto. Ávila garante que o livro agradará a todos os roqueiros brasileiros. "O livro não é bairrista. Tem o livro que fala sobre tango, o que fala sobre a bossa nova, o que fala de rock de Brasília e o que fala sobre rock gaúcho. A questão é escrever sobre um assunto que se tenha conhecimento, que está ao nosso redor. O papo foi mesmo de "ser universal falando do seu canto". Acreditamos que as pessoas podem se divertir lendo os "causos" do livro porque são situações que podem acontecer com qualquer pessoa que tenha uma banda, independente se é de São Paulo, Rio de Janeiro ou Manaus."
"Causos" são fartos. Seguindo o padrão "história oral", imortalizado pelo livro punk "Mate-Me, Por Favor", "Gauleses"" é dividido em tópicos, como sexo, drogas, bastidores, confusões. "Nunca tivemos a intenção de fazer uma grande enciclopédia sobre o rock, e sim mostrar o lado divertido da cena roqueira local. Traduzir um imaginário, fazer uma homenagem e ainda promover uma reflexão. Não é informação pura e dura. O cara lê e tira suas próprias conclusões", diz o autor.
Passam pelo livro figuras como Humberto Gessinger (Engenheiros do Hawaii), Carlinhos Carneiro (Bidê Ou Balde), Nei Lisboa, Edu K (De Falla), Flávio Basso (o Júpiter Apple) e Plato Dvorak.
A obra foi sensação da última Feira do Livro de Porto Alegre, realizada em novembro de 2001. "Gauleses Irredutíveis" foi o livro de autores estreantes mais vendido no evento. No geral, foi o 19º mais procurado pelo público, na frente da última publicação do consagrado e "prata da casa" Luis Fernando Veríssimo.
Mas por que "Gauleses Irredutíveis""? "Quatro entrevistados fizeram essa analogia entre os gaúchos e os personagens de Asterix. E como não queríamos um nome óbvio, optamos por esse. Os gaúchos costumam ter a mesma personalidade explosiva e irônica desses personagens", diz Ávilla.


GAULESES IRREDUTÍVEIS - De: Alisson Ávila, Cristiano Bastos e Eduardo Muller. Editora: Sagra-Luzzatto. Quanto: R$ 22 (267 págs.).

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