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JOÃO PEREIRA COUTINHO
Tapetes voadores
Grupo no Reino Unido acusa a indústria cultural de representar os muçulmanos de forma ofensiva
VOCÊS LEMBRAM as charges de
Maomé? Eu lembro. E lembro o colunista Mark Steyn,
no "Chicago Sun-Times", questionando: não é estranho que o Islã entre em ebulição com uns desenhos e
ignore os terroristas que ostentam o
nome do profeta para matar? Mohammad Atta. Mohammad Khan.
Mohammad Al-Nasser. Se isso não é
heresia, o que é a heresia?
Problema idêntico voltou nos últimos dias. A Islamic Human Rights
Comission, sediada no Reino Unido,
publicou o estudo "The British Media and Muslim Representation:
The Ideology of Demonisation". O
grupo acusa a indústria cultural, sobretudo Hollywood, de representar
os muçulmanos de forma ofensiva.
Assistam aos filmes do Indiana
Jones. Assistam ao desenho "Aladdin" e escutem o sotaque ridículo do
gênio que salta da lâmpada. Os muçulmanos, no cinema, são sempre
mentirosos, ladrões, criminosos,
terroristas, leitores compulsivos de
Chomsky. Um dos autores do estudo afirma mesmo que a situação só é
comparável à perseguição que os judeus sofreram na Alemanha nazista.
Mas existem soluções. Se a cultura
pop é ofensiva, nada melhor que
censurá-la. A idéia, se bem percebi, é
apagar estes estereótipos grosseiros.
E apresentar o "muçulmano" como
um novo super-herói, disposto a salvar a humanidade e nunca, jamais,
interessado em rebentar com ela.
Imagino o filme: o Super Ali, voando
em seu tapete, pronto para salvar
um cristão, um hindu, eventualmente um judeu. Sim, sei: estou sendo ofensivo. Os tapetes não voam.
Ofensivo e, já agora, otimista. Eu
entendo a dificuldade do muçulmano honesto e pacífico em viver num
mundo que lhe é hostil. Mas, como
aconteceu com as charges, talvez o
muçulmano honesto e pacífico devesse perguntar se o comportamento recente de alguns companheiros
de fé não contribuiu para essa lamentável hostilidade.
Na década de 30, o judeu era acusado de corromper, econômica e
moralmente, a nação germânica. A
acusação assentava numa mentira
ou na fabricação de uma verdade
conveniente. Hoje, se o vilão cinematográfico tem sotaque árabe e se
prepara para cometer um atentado,
será que a realidade em volta não
confirma essa islâmica identidade?
Infelizmente, o Reino Unido tem
tido alguma experiência na matéria.
E, na semana em que as brigadas pediam censura sobre Hollywood, a
polícia britânica prendia nove suspeitos. Supostamente, os nove tencionavam raptar um soldado (muçulmano) regressado do Afeganistão e, suprema gentileza, torturá-lo
(devagar) e decapitá-lo (via internet). O gesto não é uma originalidade no Oriente Médio. Também não é
uma originalidade pela nacionalidade da vítima potencial (há dois anos,
um engenheiro de Liverpool conheceu tratamento igual no Iraque).
Mas é uma originalidade no próprio
Reino Unido: depois dos atentados
em julho de 2005, o rapto e a decapitação do "apóstata" nativo.
Escusado será dizer que os nove
eram muçulmanos. E escusado será
dizer que, entre a realidade e a ficção, talvez a realidade seja ligeiramente mais ofensiva do que o sotaque de um desenho animado.
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