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Mau Mau lança disco para tocar fora das pistas
Em seu segundo trabalho de músicas próprias, "Art, Plugs and Soul", o produtor paulista aposta em faixas conceituais
Completando 20 anos de carreira neste ano, DJ fala sobre a vontade de manipular música e imagem e elogia retorno do Hell's
ADRIANA FERREIRA SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
Freqüentadores de clubes e
festivais de música eletrônica
acostumados a ver Mau Mau
tocando para multidões irão se
surpreender ao ouvir seu novo
disco, "Art, Plugs and Soul",
que chega às lojas nesta semana. Nele, o DJ tirou o foco da
pista de dança, jogou no sofá
dos lounges e fez um álbum que
não tem house nem muito menos tecno ou tech-house, estilos pelos quais é conhecido.
Com exceção das quatro últimas faixas, "bônus tracks" feitos em MP3, as 12 músicas do
CD primam pela delicadeza e o
intimismo. "Produtores mais
conceituais têm obras totalmente despreocupadas com a
pista de dança", diz Mau Mau.
"Esse CD é um trabalho não
só para as pessoas que gostam
de sair para dançar", explica.
"Ele vai agradar também os que
não curtem o "tum tum tum", o
"bate-estaca". Não queria ser
visto apenas como produtor de
música eletrônica."
Essa não é a única mudança
na trajetória de um dos principais DJs do país, que comemora 20 anos de carreira em 2007.
À exemplo de artistas como o
norte-americano Jeff Mills e o
francês Laurent Garnier, Mau
Mau pretende incrementar
suas performances, manipulando imagem e som simultaneamente, como DJ e VJ.
Com encarte desenhado por
ele, sobre "conceitos" como a
comunicação e a tecnologia, o
álbum será tema de um DVD,
que deve sair neste ano, com vídeos feitos para cada faixa.
A intenção, conta Mau Mau,
era lançar o DVD antes do disco, mas, como essa é uma idéia
que ele ainda "está pesquisando", preferiu adiar. "Acho que é
um novo caminho, uma nova
opção no mundo eletrônico."
Desconstrução
Ao contrário de seu primeiro
disco de produções próprias,
"Music Is My Life" (2003), no
qual Mau Mau fazia uma "retrospectiva" da carreira, tocando house, tecno e afins, neste,
as referências estão todas diluídas. Isso foi possível, fala o produtor, porque ele reduziu os
samplers (pedaços extraídos de
músicas já existentes) a "partículas bem pequenas".
"Normalmente, os DJs pegam um sampler de uma música, põem alguns efeitos e constroem em cima daquilo", descreve. "Quebrei tudo o que havia "sampleado" e juntei de maneira desordenada. Peguei uma
nota de um loop, outra de outro
e misturei."
O resultado é que, segundo
Mau Mau, há no disco músicas
de James Brown e The Cure,
por exemplo, reduzidas a trechos irreconhecíveis (mesmo!).
A isso, ele adicionou instrumentos acústicos, como teclados e uma gaita.
Nos vocais, além dele próprio, aparecem as cantoras Anna Gelinskas e Eliana Dias, cantando frases soltas, bastante
sutis. "Não penso no vocal como elemento principal, e sim
como um efeito misturado aos
outros climas", diz ele.
Para mostrar o CD ao vivo,
ele pretende montar uma banda, que tem a possibilidade de
estrear no próximo Skol Beats.
No lançamento de hoje, no clube Royal, ele toca só como DJ.
Aposta no Brasil
Com esse disco, Mau Mau se
torna um dos poucos top DJs
brasileiros que ainda investem
em lançar produções próprias
no país. O colega Gui Boratto,
por exemplo, está fazendo o seu
pelo selo alemão Kompakt.
Isso ocorre, argumenta Mau
Mau, porque o mercado de música eletrônica é "muito recente" no país. "Na Europa, os selos independentes têm mais facilidade para fazer as coisas."
Os brasileiros, segundo ele,
se deparam com problemas de
distribuição e local adequado
para prensar as versões em vinil. Ele mesmo, contabiliza 70
lançamentos, entre remixes e
participações em coletâneas. A
maioria, saiu somente no exterior. "Tive a oportunidade de
lançar meu disco por um selo
bacana lá fora. Mas me preocupo em fazer as coisas aqui", diz.
Apesar disso, para Mau Mau,
a música eletrônica no Brasil
está numa fase "excelente".
"Há dez anos, não existiam clubes onde você podia fazer um
trabalho diferente do que as rádios e a MTV tocavam", lembra.
"Hoje, há várias casas boas, after-hours, conexões de brasileiros tocando fora do país, e de
gente de fora vindo para cá."
Experiência para falar sobre
o tema é o que não lhe falta:
Mau Mau tocou em todos os
clubes importantes daqui, incluindo o Hell's, o histórico after-hours, que retornou à ativa
em 2006, no clube Vegas.
"Foi a melhor coisa que aconteceu", fala Mau Mau sobre o
retorno do Hell's. "Óbvio que
não dá para ter um lugar parecido com outro, que abriu há
dez anos, mas, o principal, continua existindo, que é a preocupação com a qualidade da música, dos DJs mostrarem um trabalho bem único."
ART, PLUGS AND SOUL
Artista: Mau Mau
Lançamento: Trama
Quanto: R$ 27,90
Festa de lançamento: amanhã (dia
8), às 23h
Onde: Royal Club (r. da Consolação,
222, centro, tel. 3063-2353)
Quanto: R$ 40 (mulher) e R$ 80 (homem)
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