São Paulo, domingo, 07 de fevereiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

Símbolo sexual, Bengell se tornou sólida atriz

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

O aparecimento em "O Homem do Sputnik", em 1959, de Carlos Manga, era curto, mas não dava margem a dúvidas: aquela imitação de Brigitte Bardot era tão excitante quanto Brigitte Bardot, e por trás dela havia, sem dúvida, uma estrela. Ou um pouco mais: um símbolo sexual. Em suma, Norma Bengell era mesmo uma aparição.
Não custou até que isso se confirmasse. Depois de aparecer em "Mulheres e Milhões" (1961), de Jorge Ileli, "Os Cafajestes" (1962), de Ruy Guerra, projetaria Norma Bengell de uma vez por todas como bela mulher e atriz talentosa e carismática. Suas qualidades de estrela voltaram a aparecer sem ambiguidade em "Noite Vazia" (1964), onde trabalhou com Walter Hugo Khouri e ao lado de outra estrela que marcou o período, Odete Lara.
Na Itália, onde viveu durante alguns anos por conta de seu casamento com o ator Gabri- elle Tinti, não chegou a ter grandes chances, e seu trabalho de maior destaque foi no faroeste "Os Cruéis", de Sergio Corbucci (1967), em que trabalhou ao lado de Joseph Cotten.
De volta ao Brasil, no final dos anos 60, Norma mostrou-se fiel aos diretores que a haviam mais valorizado no começo de carreira, Khouri e Guerra, mas ampliou com audácia seu campo, ao protagonizar o segundo filme de Júlio Bressane, "O Anjo Nasceu" (1969).
Filmaria com o "outsider" Antônio Calmon "O Capitão Bandeira contra o Dr. Moura Brasil", em 1971, e voltaria a trabalhar com outro expoente do cinema dito "marginal", Rogério Sganzerla, em "O Abismo", de 1977, sem nunca perder seu vínculo com o cinema novo: aparece com destaque, por exemplo, em "A Idade da Terra" (1980), de Glauber Rocha.
Atuou também em novelas, na Rede Globo.
Seu trabalho como diretora é bem menos relevante, embora não lhe falte ambição. "Eternamente Pagu" (1987) não superou as dificuldades da adaptação histórica, ao tratar da vida da escritora Patricia Galvão, dita Pagu, e o que tem de melhor é a atuação de Carla Camurati como protagonista.
Seu filme seguinte, "O Guarani" (1996), não mostrou evolução significativa na mise-en-scène e ainda rendeu-lhe problemas judiciais, por questões contábeis.
Nada que possa afetar a imagem de mulher forte, sensual e moderna que Norma criou no primeiro momento de sua carreira, ou de atriz sólida, que firmou a seguir.


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Brinquedo simula mercado de arte
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.