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Brinquedo simula mercado de arte
Galeristas ficam por último e curadora vence partida do jogo de tabuleiro que simula vendas de obras em leilões e galerias
"O jogo inteiro é baseado em sorte, não na inteligência", avalia Márcia Fortes, da Fortes Vilaça, que jogou Mercado de Arte a convite da Folha
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Numa tarde ensolarada, dois
curadores, duas galeristas e
dois artistas se juntaram numa
briga para ver quem sai ganhando no mercado de arte.
Encarnando peões coloridos
num tabuleiro, onde lances de
dados decidem os rumos, Márcia Fortes, sócia da Fortes Vilaça; Eliana Finkelstein, dona da
galeria Vermelho; Felipe Chaimovich, curador do Museu de
Arte Moderna; Fernanda Lopes, do Centro Cultural São
Paulo; e os artistas Claudio
Bueno e Gui Mohallem simularam a luta a convite da Folha.
Jogaram uma partida do recém-lançado Mercado de Arte,
brinquedo que tenta imitar os
mandos e desmandos do dinheiro sobre a criação artística.
Isso tudo numa escala reduzida, é claro. Não tem obras de
Cildo Meireles, Beatriz Milhazes ou Nuno Ramos. Não tem
Sotheby's ou Christie's. Muito
menos o Masp ou a Pinacoteca.
O jogo se ancora na figura de
uma única -e quase desconhecida- artista chamada Sônia
Menna Barreto, suas obras de
arte e até sua produção de xícaras, pôsteres e objetos afins.
Preside sobre a sorte dos jogadores a ira ou a benevolência
do banco Menna Barreto, que
distribui dinheiro, determina o
valor das obras e aplica multas
aos que blefam nos leilões.
"Esse banco é terrível", exclama Felipe Chaimovich, a
certa altura do jogo, vítima de
um desfalque financeiro. Passado um tempo, já detentor de
uma loja de xícaras e da tela
"Cinderela", ele controla a grana: "É verdinho em cima de
verdinho, é assim que se faz".
No placar final, o curador do
MAM não foi bem. Escolhas
duvidosas acabaram deixando
Chaimovich com um patrimônio tímido e pouco dinheiro no
banco, mas ainda bem à frente
de sua rival Márcia Fortes.
Na vida real, ela é sócia da galeria mais poderosa do país e
representa os reais e muito conhecidos Nuno Ramos, Beatriz
Milhazes e Adriana Varejão,
para citar alguns. No jogo, Fortes não comprou quase nada,
rejeitou boa parte das obras,
que achou de "estilo duvidoso",
e incitou a concorrência entre
os outros participantes.
"Esse jogo só vai prestar para
a reavaliação de rumos", desabafa ela, em tom jocoso. "Quer
um emprego como diretor de
galeria de arte? Tem várias viagens internacionais, champanhe", oferece aos adversários.
Nesse momento, disputava
com o artista Gui Mohallem
uma tela que estava nas mãos
de Eliana Finkelstein. Mohallem, jovem artista na vida real,
dominava o jogo, com o maior
volume de obras e dinheiro em
caixa. Finkelstein, também não
muito capitalizada na ficção,
esperava aumentar as ofertas
para decidir o destino da obra.
"A gente não pode fazer um
"deal'? Você me dá sua obra e
eu dou a minha, um "business'",
pedia Finkelstein. "O negócio é
esperar a hora em que o cara
está mal de grana para comprar
o que você quer", ensina.
"A Eliana está se revelando
uma loba", disse Fortes, depois
de perder a longa disputa. "Não
é à toa que faço análise."
Artistas e banqueiros
Mas os conselhos do terapeuta não evitaram que a marchand bem-sucedida terminasse o jogo em penúltimo lugar.
"O jogo inteiro é baseado em
sorte, não na inteligência", avalia. "Eu sempre disse que tinha
que sair desse negócio."
No fim das contas, Mohallem, artista, terminou em segundo lugar, atrás de Fernanda
Lopes, curadora do CCSP. Se a
ficção imita a realidade, faz
sentido, já que o poder dos curadores, acima de galeristas e
artistas, está mais do que consolidado no circuito global.
Não é nem preciso lembrar
que Hans Ulrich Obrist, curador da Serpentine Gallery, em
Londres, foi eleito número um
da lista das cem pessoas mais
influentes no mundo das artes
plásticas pela revista "Art Review". Lopes tem menos fama,
mas arrasou no tabuleiro.
Em sintonia com artistas de
sua geração, acostumados com
um mercado vigoroso e valores
avantajados, Mohallem chegou
ao fim da disputa com uma fortuna em mãos. "Quando quero
falar de arte, eu ligo para um
banqueiro", resume Fortes.
"Quando quero falar de dinheiro, ligo para um artista."
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