Novo disco do cantor australiano é o ponto alto de uma trajetória que enriquece à medida que o tempo passa

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

COM A maioria dos artistas pop, a criatividade parece se esvair com o tempo. Com Nick Cave, ocorre fenômeno contrário: quanto mais envelhece, mais contundente fica sua música; mais fascinantes tornam-se seus discos.
Em uma carreira de altos e baixos em dezenas de álbuns, o australiano Cave (ex-morador de São Paulo) se apresenta como uma figura única, autor de personagens estranhos em suas idiossincrasias, que permeiam letras escuras, muitas vezes absurdas e surrealistas, que fazem referência a religião, sexo e culpa.
Há pouco, lançou (no exterior) "Dig Lazarus Dig!!!", o 14º disco de sua carreira solo, que é tão forte e impressionante quanto "Grinderman", álbum de seu projeto homônimo, lançado no início de 2007.
Apoiado por guitarras ríspidas, ásperas, que não fazem muitas concessões pop, Nick Cave vai desfiando seu repertório de histórias de teor sombrio que encontra paralelo na filmografia de Tim Burton.
É impossível manter-se indiferente à potência rítmica de canções como a faixa-título ou "Albert Goes West". Cave não é um cantor por excelência, mas utiliza sua voz grave, profunda, para ampliar o horizonte de suas letras.
E não estamos falando de um artista bissexto. Em 2004, Cave lançou o duplo "Abattoir Blues/The Lyre of Orpheus"; em 1997, o dramático "The Boatman's Call"; no ano passado, o furioso "Grinderman". Com "Dig Lazarus Dig!!!", Nick Cave arquitetou um mundo ainda mais ambicioso.