São Paulo, sexta-feira, 07 de março de 2008

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Cinema/estréias

"Fim da Linha" discute fé no dinheiro

Estréia na direção de Gustavo Steinberg, longa foi o último do ator Rubens de Falco, que morreu no dia 23 de fevereiro

Filme, exibido no último Festival de Roterdã, tem DNA de Sergio Bianchi e Marcelo Masagão, de quem Steinberg foi co-roteirista e produtor

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Co-roteirista e produtor de "Cronicamente Inviável" (2000), de Sergio Bianchi, e de "1,99 - Um Supermercado que Vende Palavras" (2003), de Marcelo Masagão, Gustavo Steinberg estréia hoje "Fim da Linha", seu primeiro longa como diretor e roteirista.
Em temática, assemelha-se às experiências anteriores: Steinberg costura sete histórias em torno da relação do brasileiro com o dinheiro, numa galeria de personagens que inclui, entre outros, o político corrupto Ernesto Alves. Inspirado no ex-deputado João Alves, que atribuía sua fortuna a sucessivos ganhos na loteria, este foi o último papel de Rubens de Falco, morto no último dia 23/2.
A diferença, diz o diretor, que divide a autoria do roteiro com Guilherme Werneck, está na "pegada". Segundo Steinberg, as preocupações de Bianchi e Masagão são as mesmas que rondam a sua cabeça. Mas seu filme é diferente. "Depois da experiência de trabalhar nos outros filmes, queria levantar questões importantes, com viés cômico, mas com uma mirada mais profunda", diz Steinberg, que exibiu o filme no começo do ano no Festival de Roterdã.
"O longa é uma farsa social. A idéia foi elevar o tom da realidade, até para poder retratar a realidade. Se esses temas fossem tratados de forma naturalista, eu esconderia a realidade mais do que a mostraria."

Chuva de dinheiro
Steinberg conta que seu ponto de partida foi uma "lendária" declaração de um alto funcionário do Banco Mundial, que teria dito que o único jeito de resolver o problema da distribuição de renda no Brasil seria fazer chover dinheiro. O que, no filme, acontece sobre uma manifestação pela paz no centro de São Paulo.
"Fim da Linha" contrapõe seus personagens para criar uma "metáfora tensa e bem-humorada das dificuldades e dilemas" ligados à fé no poder do dinheiro. O maior conflito acontece entre o deputado Ernesto Alves (Falco) e Artur, jornalista vivido por Leonardo Medeiros, que perdeu seu emprego por uma reportagem em que fazia denúncias contra o político.
"O jornalista começa como herói e termina vilão. E o deputado acaba sendo o único que tem clareza do que está acontecendo", diz Steinberg.
As histórias paralelas de "Fim da Linha" são ainda intercaladas por vinhetas com frases do deputado como "O lucro de uns só existe graças à cobiça de outros". E pela saga do imigrante italiano nos Estados Unidos Charles Ponzi (1882-1949), vista em imagens de arquivo obtidas por Steinberg nos EUA. Golpista, Ponzi foi uma espécie de precursor das pirâmides, conhecidas naquele país como "Ponzi scheme" (esquema Ponzi), segundo o diretor. Deportado para a Itália, Ponzi acabou vivendo no Rio, onde trabalhou para a companhia aérea estatal italiana. A empresa fechou, e Ponzi morreu pobre.


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