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Crítica/"Fim da Linha"
Personagens viram cobaias na metrópole
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
No cenário brasileiro
contemporâneo, "Fim
da Linha" tem parentesco próximo com os filmes
mais recentes de Sergio Bianchi ("Quanto Vale ou É por Quilo?"), com quem o diretor Gustavo Steinberg trabalhou como
roteirista e produtor em "Cronicamente Inviável" (2000).
Aplicado a um olhar mordaz
sobre algumas mazelas do país,
o próprio raciocínio da inviabilidade crônica reaparece aqui,
mas sem que teses sociopolíticas sejam invocadas para organizar a ficção. Steinberg parece
acreditar que a ironia de seu argumento, já carregada de simbologias, dispense explicações.
Na metrópole caricatural onde se encenam a obsessão por
dinheiro fácil, a impunidade, o
individualismo e o desrespeito
pelo outro, os personagens se
movimentam como animais de
laboratório que ilustrariam,
com suas respostas a certos estímulos, o fim da picada a que
chegamos.
Para acentuar o deserto de
idéias, cabe ao deputado Ernesto Alves (Rubens de Falco)
salpicar a trama com sua sabedoria, em frases que saem de
sua boca ou são usadas em intertítulos, como "a sorte quase
sempre põe tudo a perder" e "a
crença é a mais desastrada das
características humanas".
Com o armário cheio de dinheiro, que ele diz não saber de
onde veio, o deputado ocupa
um dos pólos no mosaico de
personagens e tramas paralelas. Outro, de caráter supostamente mais nobre, pertence a
um jornalista (Leonardo Medeiros), cujo idealismo está fora
de lugar em ambiente social (e,
no seu caso, também familiar)
de tamanha desfaçatez.
O humor se ressente, no entanto, de alternâncias entre um
registro mais naturalista, que
tende a esvaziar situações e diálogos, e o tom de farsa, bem
mais efetivo. Discursos em forma de conversas também não
ajudam a tornar mais homogênea a narrativa. E, embora a ótima trilha sonora contribua para costurar os diversos núcleos
dramáticos, às vezes eles parecem distantes um do outro, como seus personagens.
FIM DA LINHA
Produção: Brasil, 2008
Direção: Gustavo Steinberg
Com: Rubens de Falco, Leonardo Medeiros e Maria Padilha
Onde: estréia hoje nos cines HSBC
Belas Artes, Metrô Santa Cruz e Raposo Shopping
Avaliação: regular
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