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Polícia de SP volta a atirar na Fox
Primeira produção do canal no Brasil, "9 MM", sobre departamento de homicídios, ganha nova temporada
Exibida em toda a América Latina e em Portugal, série é realizada graças à lei de incentivo fiscal que liberou a captação de R$ 7,5 milhões
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
"Dona Sueli, seu marido foi
encontrado morto usando uma
calcinha vermelha..." A viúva se
assusta e chora. Tem ainda de
ouvir do investigador a estranha notícia mais seis vezes,
sempre chorando, até o diretor
dizer: "Para mim está OK".
O complexo de estúdios na
Barra Funda (zona oeste de São
Paulo) não tem ar-condicionado, e os ventiladores são desligados durante as filmagens para não interferir no som.
A cidade estava um forno há
15 dias, quando a Folha acompanhou a gravação de um dos
sete novos episódios da série "9
MM: São Paulo", primeira produção brasileira do canal Fox.
E o realismo do suor em cena
pode entrar na lista das "vantagens" que o diretor e produtor
da série, Roberto D'Avila, menciona, bem-humorado, de "filmar com baixo orçamento".
Afinal, não deve ser agradável a temperatura de um porão
destinado ao trabalho de investigadores do departamento de
homicídios da polícia civil de
São Paulo, retratados na série.
A primeira temporada, exibida entre 2008 e 2009 no Brasil,
elevou a Fox do décimo para o
quinto lugar no ranking de audiência da TV paga no país.
Foi ao ar também na América Latina, no Japão, em Portugal e agora chega a países da
África. A produção da série só
foi possível graças a uma lei de
incentivo fiscal a canais estrangeiros que investem em produção nacional independente.
A produtora de "9 MM" é a
brasileira Moonshot Pictures,
com criação de Roberto D'Avila, Newton Cannito e Carlos
Amorim, autor do livro "CV
PCC - A Irmandade do Crime".
Para os 13 primeiros episódios, a Ancine (Agência Nacional de Cinema) liberou o uso de
R$ 4,1 milhões. O valor, somado a um investimento direto da
Fox de pouco mais de R$ 550
mil, foi o único recurso da obra.
São cerca de R$ 384 mil para
cada um dos capítulos, de 45
minutos de duração -como
comparação, cada um dos episódios da série "A Lei e o Crime", da Record, custou R$ 500
mil, e os de "Capitu", da Globo,
R$ 1 milhão, ambas produzidas
pelas emissoras, sem incentivo.
Emiliano Saccone, vice-presidente sênior de conteúdo global da Fox International, elogia
o fato de o Brasil ser um dos
únicos países da América Latina com incentivos governamentais à produção independente. "Com certeza, se fosse
na Colômbia, por exemplo,
custaria muito mais. Além disso, o Brasil tem uma qualidade
técnica impressionante."
Foco na sandália
Os sete episódios da nova
temporada, cujas filmagens
terminam nesta semana e têm
estreia prevista para o segundo
semestre, terão orçamento
maior, de R$ 514 mil cada um.
No calor do estúdio, Roberto
D'Avila grita para o operador de
câmera: "Pode fazer uns enquadramentos estranhos à vontade". Ora o foco está na sandália
da dona Sueli, a viúva do morto
com a calcinha vermelha, ora o
pé da cadeira fica em primeiro
plano, com o distintivo na cintura do investigador ao fundo.
"Fugimos de regras clássicas
da narrativa. A ideia é causar
estranhamento no telespectador", diz D'Avila, após orientar
a atriz Francine Missaka, a dona Sueli, a conter um pouco o
choro ao saber da calcinha.
Colaborou LÚCIA VALENTIM RODRIGUES, da Reportagem Local
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