São Paulo, sábado, 07 de abril de 2001

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Dalí

Livro traz depoimentos de Carlos Lozano, ator e bailarino colombiano que conviveu com o pintor

SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

Na grande peça de teatro que foi a vida do pintor espanhol Salvador Dalí (1904-1989), um personagem havia permanecido até hoje na obscuridade. O livro "Sexo, Surrealismo, Dalí y Yo", do jornalista inglês Clifford Thurlow, que acaba de ser lançado na Espanha, traz à tona o nome de Carlos Lozano. Nascido em Barranquilla, na Colômbia, o ator, bailarino e galerista teria sido o mais fiel confessor que o pintor teve em seus últimos 20 anos de vida.



Thurlow entrevistou Lozano entre 1995 e 2000, e o resultado é um livro em que são descritas desde as grandes festas promovidas por Dalí até suas opiniões sobre sexo, morte, política e surrealismo durante os anos 70. Lozano morreu no ano passado, em decorrência da Aids.
Em entrevista à Folha, de sua casa, em Londres, Thurlow disse que o depoimento de Lozano ajuda a mostrar "o Dalí dos anos 70, um artista cuja obra já era decadente, mas que fazia da própria vida sua obra mais surrealista, entregando-se ao voyeurismo e à extravagância, revelando o quanto o seu trabalho havia sido marcado por sua inibição sexual, ao mesmo tempo em que tentava afastar a idéia da proximidade da morte".
Os dois homens se conheceram em 1969, quando Dalí tinha 65 anos e Lozano apenas 22. A diferença de idade é um dos motivos pelos quais Thurlow acredita que Lozano teria tido a imagem mais fiel de Dalí em seus últimos anos de vida. "O pintor sabia que estava envelhecendo e odiava a idéia de que um dia morreria e, principalmente, a de que o mundo continuaria existindo sem ele. Lozano cumpriu sua carência de ser um pai ou um professor. Por isso acabou ficando muito íntimo e tornou-se seu confessor."
Segundo o hispanista irlandês Ian Gibson, Lozano era "uma versão hippie de um menino-deus asteca", fazendo menção a seus traços indígenas. Thurlow o descreve como "um jovem bonito, que adorava o glamour. Dalí tratou-o como a uma pintura e o transformou".
O escritor diz que ambos não tiveram envolvimento sexual. "Lozano era homossexual e Dalí também, mas, no começo de sua vida, ele escondeu isso, o que era normal na Espanha, principalmente durante o governo ditatorial do general Franco. Dalí tornou-se, por isso, um voyeur."
Thurlow diz que Dalí odiava a idéia de ter um aprendiz e que sempre deixava Lozano longe de suas preocupações artísticas. "Conversavam sobre questões íntimas e sobre a sociedade que os rodeava; a proximidade da morte também era um tema importante. Creio que Dalí exercitou com ele muitas das idéias que transportou depois para sua obra."



Livro: Sex, Surrealism, Dalí and Me (importado, em inglês)
Autor: Clifford Thurlow
Quanto: 20 libras (300 págs.)
Editora: Razor Books
Onde encomendar: www.waterstones.co.uk, www.amazon.co.uk




Livro: Sexo, Surrealismo, Dalí y Yo (importado, em espanhol)
Editora: RBA (Barcelona, 2001)
Preço: US$ 40
Onde encomendar: www.livcultura.com.br, www.crisol.es




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