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TV
Pioneiro do telecolunismo social, que inspira nova série da Globo, recebe R$ 120 mil para cobrir evento comercial por 15 min
Amaury cobra entrevistas, mas nega bajular
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Amaury Jr., idade não-revelada,
completa bodas de prata de telecolunismo social neste ano e adorou a idéia de inspirar o personagem de Luiz Fernando Guimarães
na série "Minha Nada Mole Vida", que estréia hoje na Globo.
Chamado por alguns nos bastidores pelo venenoso apelido de
Jabaury Jr., ele admitiu à Folha,
sem rodeios, que cobra para cobrir determinados eventos, e diz
se sentir "chateado" quando chamam seu programa (Rede TV!)
de chapa-branca. Leia abaixo.
Folha - Muitos dizem que seu programa é chapa-branca, que você
bajula seus entrevistados.
Amaury Jr. - Tento me livrar disso, mas não consigo. Pergunto as
coisas mais contundentes, e me
respondem porque ofereço possibilidade de defesa. Aflauto a voz
para perguntar. Não precisa fazer
o papel de algoz. [voz agressiva]
"Cadê aquele dinheiro?". Pode dizer [voz suave]: "E aquele dinheiro que ficam falando, que se não
for verdade pode macular sua reputação?". Chamam isso de bajular. Querem ver sangue. Mas
quem é agressivo perde as fontes.
Dizer que o programa é chapa-branca me deixa muito chateado.
Folha - Não se preocupa com o fato de não falar bem o inglês nas entrevistas com estrangeiros, não é?
Amaury - Meu inglês é muito
fluente. Ele não é bom, mas me faço entender perfeitamente. Não
perco entrevistas por isso.
Folha - E usa o "portunhol"...
Amaury - [risos] Brinco que minha obrigação é saber português.
Entrevistei a Liza Minnelli em inglês e arranquei lágrimas dela. Pô,
que conversa é essa, não é? Minha
pronúncia não é boa, e o vocabulário fica devendo. Mas qual entrevistado não fica devendo?
Folha - No livro "Bisbilhotices",
você fala em "amarra-cachorros".
Toda celebridade é cercada deles?
Amaury - São os assessores que
ficam dificultando tudo. A Gisele
Bündchen tem um monte.
Folha - Como se livra de ex-"Big
Brothers" que querem aparecer?
Amaury - A gente fala que volta
daqui a pouco e não aparece mais.
É normal, todo mundo gosta de
ser "televisto". Político, então...
Folha - O Conrad Punta Del Este já
é personagem do programa, não?
Amaury - É patrocinador há oito
anos. Uno o útil ao agradável.
Punta é um lugar bonito, cheio de
celebridades. Divulgo o Conrad,
que é a parte contratual, e o uso
para entrevistas. Eles põem a entrevista ao Brasil no contrato com
artistas que se apresentam lá.
Folha - Que tipo de permutas podem ser feitas por uma entrevista?
Amaury - Os artistas divulgam
peças, por exemplo. Quando entrevisto Roberto Carlos, divulgo
seus navios. O empresário também me pede. É uma forma de pagar a gentileza a alguém que cede
seu brilho ao programa. É troca
de amabilidades e interesses.
Folha - Para cobrir uma festa empresarial, como fez recentemente
com a inauguração de uma loja da
Arezzo, há acordo comercial?
Amaury - A Arezzo entrou com
anúncios no programa e ia fazer a
festa com a Cláudia Raia. Então eu
tinha dois motivos para cobrir.
Folha - Mas às vezes tem de entrevistar gerentes de marketing...
Amaury - Quem faz isso, é sempre chamado aos eventos. E não
significa que a gerente de marketing vá macular o programa. Às
vezes são ótimas entrevistas. Isso
acontece em qualquer TV, ou objetivamente, como faço, ou veladamente, como muitos fazem. É
preciso prestigiar os patrocinadores. Se a Arezzo faz uma festa relevante, com uma artista relevante,
e é patrocinadora do meu programa, pô, é duas vezes colunável.
Folha - E se um político quer que
cubra o casamento da filha? Há cachê, como ator da Globo que cobram para dançar com debutante?
Amaury - Há o "infomercial". O
sujeito inaugura um hotel, a gente
mostra. Quando tem conteúdo
comercial, é pago naturalmente.
Folha - Se eu quiser que você cubra as bodas de meus pais...
Amaury - Não, porque não há
componente comercial. Mas se o
cara quiser vender o peixe, paga.
Folha - Pode dar uma idéia de
quanto custa um "infomercial"?
Amaury - Um de 15 minutos no
ar custa por volta de R$ 120 mil
[um comercial de 30 segundos no
intervalo de "Belíssima" é perto
de R$ 260 mil]. É tabela aberta, isso não tem constrangimento.
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