São Paulo, sexta-feira, 07 de abril de 2006

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TV

Pioneiro do telecolunismo social, que inspira nova série da Globo, recebe R$ 120 mil para cobrir evento comercial por 15 min

Amaury cobra entrevistas, mas nega bajular

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Amaury Jr., idade não-revelada, completa bodas de prata de telecolunismo social neste ano e adorou a idéia de inspirar o personagem de Luiz Fernando Guimarães na série "Minha Nada Mole Vida", que estréia hoje na Globo.
Chamado por alguns nos bastidores pelo venenoso apelido de Jabaury Jr., ele admitiu à Folha, sem rodeios, que cobra para cobrir determinados eventos, e diz se sentir "chateado" quando chamam seu programa (Rede TV!) de chapa-branca. Leia abaixo.

 

Folha - Muitos dizem que seu programa é chapa-branca, que você bajula seus entrevistados.
Amaury Jr. -
Tento me livrar disso, mas não consigo. Pergunto as coisas mais contundentes, e me respondem porque ofereço possibilidade de defesa. Aflauto a voz para perguntar. Não precisa fazer o papel de algoz. [voz agressiva] "Cadê aquele dinheiro?". Pode dizer [voz suave]: "E aquele dinheiro que ficam falando, que se não for verdade pode macular sua reputação?". Chamam isso de bajular. Querem ver sangue. Mas quem é agressivo perde as fontes. Dizer que o programa é chapa-branca me deixa muito chateado.

Folha - Não se preocupa com o fato de não falar bem o inglês nas entrevistas com estrangeiros, não é?
Amaury -
Meu inglês é muito fluente. Ele não é bom, mas me faço entender perfeitamente. Não perco entrevistas por isso.

Folha - E usa o "portunhol"...
Amaury -
[risos] Brinco que minha obrigação é saber português. Entrevistei a Liza Minnelli em inglês e arranquei lágrimas dela. Pô, que conversa é essa, não é? Minha pronúncia não é boa, e o vocabulário fica devendo. Mas qual entrevistado não fica devendo?

Folha - No livro "Bisbilhotices", você fala em "amarra-cachorros". Toda celebridade é cercada deles?
Amaury -
São os assessores que ficam dificultando tudo. A Gisele Bündchen tem um monte.

Folha - Como se livra de ex-"Big Brothers" que querem aparecer?
Amaury -
A gente fala que volta daqui a pouco e não aparece mais. É normal, todo mundo gosta de ser "televisto". Político, então...

Folha - O Conrad Punta Del Este já é personagem do programa, não?
Amaury -
É patrocinador há oito anos. Uno o útil ao agradável. Punta é um lugar bonito, cheio de celebridades. Divulgo o Conrad, que é a parte contratual, e o uso para entrevistas. Eles põem a entrevista ao Brasil no contrato com artistas que se apresentam lá.

Folha - Que tipo de permutas podem ser feitas por uma entrevista?
Amaury -
Os artistas divulgam peças, por exemplo. Quando entrevisto Roberto Carlos, divulgo seus navios. O empresário também me pede. É uma forma de pagar a gentileza a alguém que cede seu brilho ao programa. É troca de amabilidades e interesses.

Folha - Para cobrir uma festa empresarial, como fez recentemente com a inauguração de uma loja da Arezzo, há acordo comercial?
Amaury -
A Arezzo entrou com anúncios no programa e ia fazer a festa com a Cláudia Raia. Então eu tinha dois motivos para cobrir.

Folha - Mas às vezes tem de entrevistar gerentes de marketing...
Amaury -
Quem faz isso, é sempre chamado aos eventos. E não significa que a gerente de marketing vá macular o programa. Às vezes são ótimas entrevistas. Isso acontece em qualquer TV, ou objetivamente, como faço, ou veladamente, como muitos fazem. É preciso prestigiar os patrocinadores. Se a Arezzo faz uma festa relevante, com uma artista relevante, e é patrocinadora do meu programa, pô, é duas vezes colunável.

Folha - E se um político quer que cubra o casamento da filha? Há cachê, como ator da Globo que cobram para dançar com debutante?
Amaury -
Há o "infomercial". O sujeito inaugura um hotel, a gente mostra. Quando tem conteúdo comercial, é pago naturalmente.

Folha - Se eu quiser que você cubra as bodas de meus pais...
Amaury -
Não, porque não há componente comercial. Mas se o cara quiser vender o peixe, paga.

Folha - Pode dar uma idéia de quanto custa um "infomercial"?
Amaury -
Um de 15 minutos no ar custa por volta de R$ 120 mil [um comercial de 30 segundos no intervalo de "Belíssima" é perto de R$ 260 mil]. É tabela aberta, isso não tem constrangimento.


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