São Paulo, sábado, 07 de abril de 2007

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Disney lança em DVD clássico "Peter Pan"

Edição comemorativa de animação de 1953 em disco duplo traz jogos e "making of"

Walt Disney foi pouco fiel ao texto de J.M. Barrie, teve problemas com direitos autorais e criou uma fada Sininho cheia de curvas


MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DE LONDRES

"Nada de importante acontece conosco depois que chegamos aos 12 anos." A frase do escritor britânico J.M. Barrie (1860-1937) resume o espírito de seu personagem Peter Pan e do clássico desenho homônimo da Disney que acaba de ser relançado em DVD.
A fábula do garoto que não queria crescer, eterno habitante da Terra do Nunca, sempre esteve entre as favoritas de Walt Disney, que chegou mesmo a vestir a roupa verde do personagem em uma montagem teatral escolar.
"Peter Pan" foi um dos dois filmes que Disney sempre quis fazer [o outro foi "Branca de Neve e os Sete Anões"]", explica Brian Sibley, historiador da empresa de animação, em entrevista à Folha em Londres.
"Mas ele teve problemas de direitos autorais, porque já havia sido feito um filme mudo antes, e o desenho demorou mais de 20 anos para sair."
Quando finalmente conseguiu lançar seu "Peter Pan", em 1953, Disney curiosamente fez a versão menos fiel ao texto original, entre as inúmeras adaptações realizadas para cinema e teatro.

Curvas
Entre as mudanças que fez, a mais bem-sucedida (comercialmente, ao menos) foi a definição física da fada Sininho -um ponto de luz na peça de Barrie-, que virou uma de suas personagens mais famosas.
No lançamento da nova versão restaurada digitalmente, a Folha conversou também com Margaret Kerry, que, aos 22 anos, serviu de modelo para os artistas criarem as formas surpreendentemente sensuais, para a época, de Sininho.
Hoje com 75 anos, Kerry ainda mantém, se não as curvas, ao menos as feições e o jeito irrequieto da fadinha.
"Muitos na Disney achavam que a Sininho cheia de curvas não ia funcionar, porque o padrão da época era o de Wendy [também de "Peter Pan"], Cinderela, Branca de Neve."
E como funcionou. A personagem, uma das mais vendidas da Disney, vai ganhar seu próprio filme, previsto para estrear no ano que vem, e tem sua história contada no disco de extras que acompanha o novo DVD.
A britânica Kathryn Beaumont, que dublou e serviu de modelo para Wendy, confirma a preferência da época por seu padrão de beleza europeu, branco e comportado.
Ela, que já havia emprestado seu modelo e sua voz à Alice de "Alice no País das Maravilhas" (1951), lembra que tinha apenas 12 anos quando foi escolhida pessoalmente por Walt Disney para representar Wendy.
"Walt queria uma garota que fosse inglesa o suficiente para manter o espírito de um clássico literário britânico, mas cujo sotaque não espantasse as platéias dos EUA", conta ela.
Ela também demonstra saudosismo ao comparar o estilo das animações antigas com as atuais. "Nós fazíamos as cenas juntos, o que é muito mais dinâmico, torna a animação mais viva. Hoje cada ator grava suas falas separadamente, é mais difícil entrar no ritmo do filme."
É difícil saber se as platéias atuais se importam com isso, mas uma demanda moderna que o DVD duplo atende plenamente é a presença dos penduricalhos chamados de "extras". Há uma série de jogos, um "making of", o desenvolvimento dos personagens e um documentário sobre a paixão de Disney por Peter Pan.


PETER PAN
Distribuição:
Buena Vista (R$ 44,90)


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