São Paulo, quinta-feira, 07 de abril de 2011 |
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CRÍTICA FESTIVAL N.EX.T Grotesco é mote para mostra representativa da cena paulistana
LUIZ FERNANDO RAMOS CRÍTICO DA FOLHA Dramas possíveis viabilizando impossíveis. O 2º Festival Grotesco de Teatro reúne sete dramaturgos de diferentes quadrantes. Cada um lida com a temática central a seu modo, mas é possível identificar a vontade de narrar histórias peculiares da vida contemporânea, sempre exacerbando os limites da verossimilhança em um registro realista. O tema do grotesco tem uma história que varia da primeira utilização da palavra, no século 15, para nomear afrescos da antiga Roma descobertos em "grottas" (grutas), até a emergência no romantismo como oposição complementar ao sublime. Seja como pulsão das partes baixas, seja como imaginário sombrio e misterioso, evoca sempre o impensável. No caso do festival, trata-se de um pretexto para reunir autores interessados no estranho, mas ainda solidários aos métodos dramáticos de representação do mundo. Considerando as sete peças encenadas, é possível identificar estilos e apropriações distintas do motivo eleito. Em "Boi da Cara Preta", de Sérgio Roveri, a partir de situação simples -os primeiros dias de embate entre um jovem casal e o filho recém-nascido- define-se uma espiral de ações em que, com lances arrojados de humor negro, se alcançam intensidades surpreendentes. "Atirei no Dramaturgo", de Mário Viana, é mais previsível por trabalhar a partir de um fato ocorrido -o quase assassinato de Mário Bortolotto, durante um assalto. O autor reconstrói engenhosamente as circunstâncias em que o quase assassino se viu, logo depois do feito. "Telefone Público", de Antonio Rocco, se serve de estrutura mais aberta -um orelhão de esquina aglutinando três histórias. Numa delas, o texto ganha densidade dramática e indica a solidão do convívio nas grandes cidades. É a montagem em que o grotesco menos se explicita. "A Feia, a Bonitinha e a Inteligente", de Alexandre Machado e Fernanda Young, é inventiva ao provocar o politicamente correto, mas como crônica ligeira, típica do humor televisivo. É como se os autores se inclinassem ao grotesco mais até do que o texto que tramam. Tanto "A Emancipação da Mulher ou um Outro Mundo É Possível", de Otavio Frias Filho, diretor de Redação da Folha, como "O Ovo e a Galinha", de Chico de Assis, elaboram situações-limite, de ruptura do verossímil com boa pegada fabular. O primeiro, no teatro das palavras, das ideias e dos mitos, constituindo reflexão de ousada mira sobre o feminino. O segundo, na senda da comédia de costumes e da caricatura, buscando identificação e estranhamento. REAL PERIGOSO Completam o ciclo cenas entre as peças em cada um dos três programas. O das sextas inclui a sétima peça, apresentada no bar do teatro. Rodrigo Zappa desempenha a dramaturgia e a encenação de Maurício Paroni de Castro. Mixa-se o Palhaço da ópera e o Otelo da tragédia para sustentar a periculosidade do real: uma boneca Barbie despedaçada por um cutelo. Os encenadores Marcos Loureiro e Antonio Rocco, e um coletivo de oito atores, enfrentam galhardamente o desafio de encenar seis peças numa pequena caixa. Soluções mais e menos felizes foram suficientes para testar os textos na primeira audição. Independentemente dos focos e pesos, o festival se revelou representativo da produção dramática paulistana. Principalmente daqueles que não abdicaram de tratar o mundo e seu tempo por meio do diálogo dramático. 2º FESTIVAL N.EX.T DE TEATRO GROTESCO QUANDO qui., às 21h30, sex., às 21h30 e às 23h30, e sáb., às 21h30; até 30/4 ONDE N.ex.t (r. Rego Freitas, 454, tel.: 0/xx/11/3259-9636) QUANTO R$ 30 CLASSIFICAÇÃO 18 anos AVALIAÇÃO bom Texto Anterior: Paulo José dirige texto-chave de Augusto Boal Próximo Texto: "Daytripper" consagra dupla brasileira Índice | Comunicar Erros |
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