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"É TUDO VERDADE"
Amir Labaki traça panorama da produção documental em coletânea
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
"É Tudo Verdade", de Amir
Labaki, reúne uma seleção
de 93 textos publicados pelo crítico em sua coluna semanal no jornal "Valor Econômico". O livro
sistematiza a valiosa contribuição
que, nos últimos dez anos, o também idealizador e diretor do Festival Internacional de Documentários vem dando ao desenvolvimento do gênero no Brasil.
A coletânea é generosa com as
centenas de filmes e cineastas que
aparecem em suas páginas, documentaristas e ficcionistas que
contemplam o registro documental. O espectro é variado.
Diretores como Alberto Cavalcanti, Eduardo Coutinho, João
Moreira Salles e Eduardo Escorel
não poderiam faltar. Referências
pontuais a obras que se distinguem no panorama dos últimos
dois anos, como o trabalho experimental de Carlos Adriano,
apontam tendências. São oportunos registros jornalísticos sobre
personagens cujas trajetórias ficaram intrinsecamente ligadas aos
filmes em que atuaram, como o
caso de Marcinho VP. Há também o desenvolvimento de "temas transversais", questões que
perpassam o olhar do autor, relacionando diretores e trabalhos na
história nascente de um gênero
ainda pouco estudado.
A coluna, o festival e o livro oferecem a oportunidade do contato
do público brasileiro com cineastas e obras fundantes, que constituem as principais referências para cineastas e trabalhos que se seguiram. Retrospectivas, resenhas
e/ou simples citações de realizadores, como Welles, Wiseman,
Drew e Ivens, contribuem para o
adensamento e a diversificação da
cultura audiovisual local. A força
do legado histórico chama também a atenção para a qualidade
da TV mundial, uma vez que talvez a maior parte dessas obras foi
produzida para difusão televisiva.
Longas que celebram o cotidiano, como "Ser e Ter", rodado em
uma sala de aula do interior da
França, polêmicos manifestos de
denúncia política, como os de Michael Moore, nos Estados Unidos,
filmes de investigação histórica
ou de intervenção, como os registros mais recentes do conflito Israel/Palestina, repercutem.
Como bem salienta Labaki ao
longo do livro, o Brasil acompanha esse movimento com cores
próprias. Aqui, o documentário
não conta, ou conta pouco, com o
apoio da televisão, suporte que
oferece a base de sustentação ao
gênero alhures. Em compensação, grandes cineastas brasileiros
atuantes na ficção são também
documentaristas.
O livro promove um gênero,
ajuda a construir um cânone,
contabiliza êxitos, arrisca panoramas, destaca publicações. Ao final, foge do risco ufanista ao salientar a fragilidade de uma nascente "economia" do documentário. "É Tudo Verdade" é leitura
recomendada, fácil e proveitosa.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
É Tudo Verdade
Autor: Amir Labaki
Editora: Francis
Quanto: R$ 35 (320 págs.)
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