MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO

Em meados de setembro de 2004, os leitores desta Folha ficaram sabendo, por intermédio de reportagens de Fernando Rodrigues, enviado especial a Campos de Jordão, que o Grande Hotel daquela aprazível cidade paulista hospedaria meia centena de luminares envolvidos num evento com o ambicioso objetivo de "pensar os desafios do país nos próximos 50 anos".
O encontro, organizado pelo Instituto DNA Brasil, que então se lançava, prometia ser diferente. Não apenas pela quantidade e variedade da massa cinzenta ali reunida -da atriz Regina Casé ao filósofo José Arthur Giannotti, passando por graduados especialistas das mais diversas áreas- mas também pela dinâmica que regeria o encontro. Nada de laptops, "papers" ou anotações: o pensamento deveria fluir, conforme anunciou-se, apenas das "cabeças" convocadas para o debate.
Para que os convivas se colocassem à vontade, os organizadores, tendo como mestre-de-cerimônias o empresário Ricardo Semler, prepararam alguns exercícios. O primeiro deles foi o convite a uma "passegiata" -assim mesmo, em italiano- pelos jardins do hotel para que os participantes trocassem relatos de infância.
O resultado desse spa intelectual foi lançado em livro e DVD. Texto e imagens trazem para o leitor uma espécie de reportagem acerca das atividades que tiveram lugar em Campos do Jordão. Reportagem, diga-se, narcísica, encantada com as modernidades dessa imersão enciclopédica, anunciada como "o mais formidável e inovador encontro de personalidades brasileiras dispostas a pensar o futuro do país".
Menos. Mas, descontada a embalagem marqueteira -o lado "Daslusp" do fórum, apelidado por Semler de "Davos Alegre"-, há certamente interesse em muito do que ali se falou. As conversas enfrentaram questões relativas a ambiente, política, religião, desigualdade e, sobretudo, educação. As diversas salas temáticas propiciaram uma rica contraposição de pontos de vista, cumprindo o objetivo de abordar o Brasil "de forma multifacetada".
Criou-se também no evento o Índice DNA Brasil, para aferir quanto o país ainda se encontra distante do que seria desejável. Numa escala de 0 a 100, hoje nos encontraríamos em 46,8.
Feitas as contas, o lançamento do instituto deve ser saudado num país que tem se ressentido de "think tanks" e de debates em torno de projetos nacionais. O material merece ser lido, visto e ouvido por estudantes, professores e todos aqueles que se preocupam com os destinos do Brasil.

DNA Brasil
   
Editora: DNA Brasil
Quanto: R$ 20 (livro) e R$ 20 (DVD)