São Paulo, segunda-feira, 07 de maio de 2007

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PM e fãs dos Racionais se enfrentam na praça da Sé

Público joga objetos em policiais, que retrucam com bombas e tiros de borracha durante o show

Mano Brown, vocalista e líder do grupo de rap, tentou conter a pancadaria, mas show foi interrompido após invasão do palco

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um confronto entre a Polícia Militar e o público que assistia ao show do grupo de rap Racionais MC's, na madrugada de domingo, estragou a paz que marcava, até então, a programação da Virada Cultural.
O conflito irrompeu às 5h da manhã. Sem espaço para assistir à apresentação, algumas pessoas começaram a subir numa banca de jornal. Alguns chegaram a invadir a sacada de um apartamento.
A polícia, então, tentou retirar o público do local. Houve resistência, e pessoas começaram a atirar latas, garrafas e outros objetos nos oficiais.
A tropa de choque da PM entrou em ação, com bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e munições de borracha. Durante o conflito, onze pessoas foram detidas.
Depois, oito viaturas da PM, uma da guarda civil e dois veículos particulares foram danificados. Uma loja da rede Lojas Americanas e outra da lanchonete O Rei do Mate, além de quiosques na estação Sé, foram saqueados. Na praça, telefones públicos e banheiros químicos acabaram destruídos.
Quando a confusão começou, Mano Brown, o vocalista da banda interrompeu a apresentação e disse: "Vamos continuar, essa festa é nossa, vamos ignorar a polícia".
Ele tentou retomar o show, mas o quebra-quebra já estava instalado. A banda saiu de cena sob proteção de amigos e seguranças. Tudo durou pouco menos de uma hora.
Segundo o tenente Ricardo Mendonça, comandante da unidade da Sé, a polícia não teve escolha. "Fomos técnicos, usando apenas uma força tática especializada em controle de distúrbios civis".
Após o incidente, nenhum dos integrantes dos Racionais quis se pronunciar sobre o ocorrido.
O rapper Primo Preto, que apresentava o espetáculo, disse: "A polícia viajou. Foi ao ouvir os tiros e as bombas que as pessoas começaram a correr. Havia crianças e senhoras presentes. Alguém do comando da PM teve a idéia de mandar dispersar o povão. Mas fazer isso com bombas é um absurdo".

Clima de tensão
Segundo o secretário municipal da Cultura, Carlos Augusto Calil, que esteve presente poucos minutos antes da apresentação, já havia um "clima de tensão no ar". "Vi o público tentando invadir áreas restritas. A praça estava cheia demais. Depois me dei conta de que só faltava uma faísca ali para acontecer alguma coisa séria".
Às 2h40, vinte minutos antes da entrada prevista dos Racionais -que subiram ao palco com mais de 90 minutos de atraso-, o público estava tentando invadir área destinada à imprensa e convidados.
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que assistia ao show no palco, afirma que a polícia continuou a agir quando a situação parecia controlada. "Acho que a polícia, em alguns momentos, só fez a confusão se expandir ainda mais", disse. "Vi ações agressivas da tropa de choque em hora de calma, já depois do ocorrido."
A PM diz que, caso a situação não fosse controlada, o tumulto poderia se estender para outras regiões do centro, ocupadas pela programação da Virada.
"Acho que foi um erro a prefeitura organizar um show dos Racionais, que fazem músicas contra a polícia e a desigualdade social, num lugar aberto, juntando um monte de gente da periferia", disse a operadora de telemarketing Kyara Magalhães, 25. "Mas a polícia não tinha o direito de agredir tanta gente indefesa."
A Secretaria de Segurança Pública divulgou nota ontem dizendo que um grupo começou o tumulto, atacando policiais militares com pedras e garrafas, depredando uma banca de jornal, viaturas e carros e saqueando lojas.
No final do dia, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), chamou o tumulto de um "incidente grave", mas limitado a um ponto entre os mais de 80 onde foram realizados eventos da Virada Cultural.
"Houve este incidente, mas gostaria de celebrar os resultados", afirmou no encerramento do evento. Segundo ele, a prefeitura deve "assumir as responsabilidades" pelos prejuízos causados.


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