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PM e fãs dos Racionais se enfrentam na praça da Sé
Público joga
objetos em
policiais, que
retrucam com
bombas e tiros de
borracha durante o show
Mano Brown, vocalista e
líder do grupo de rap, tentou
conter a pancadaria, mas
show foi interrompido
após invasão do palco
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Um confronto entre a Polícia
Militar e o público que assistia
ao show do grupo de rap Racionais MC's, na madrugada de
domingo, estragou a paz que
marcava, até então, a programação da Virada Cultural.
O conflito irrompeu às 5h da
manhã. Sem espaço para assistir à apresentação, algumas
pessoas começaram a subir numa banca de jornal. Alguns chegaram a invadir a sacada de um
apartamento.
A polícia, então, tentou retirar o público do local. Houve
resistência, e pessoas começaram a atirar latas, garrafas e outros objetos nos oficiais.
A tropa de choque da PM entrou em ação, com bombas de
efeito moral, gás lacrimogêneo
e munições de borracha. Durante o conflito, onze pessoas
foram detidas.
Depois, oito viaturas da PM,
uma da guarda civil e dois veículos particulares foram danificados. Uma loja da rede Lojas
Americanas e outra da lanchonete O Rei do Mate, além de
quiosques na estação Sé, foram
saqueados. Na praça, telefones
públicos e banheiros químicos
acabaram destruídos.
Quando a confusão começou,
Mano Brown, o vocalista da
banda interrompeu a apresentação e disse: "Vamos continuar, essa festa é nossa, vamos
ignorar a polícia".
Ele tentou retomar o show,
mas o quebra-quebra já estava
instalado. A banda saiu de cena
sob proteção de amigos e seguranças. Tudo durou pouco menos de uma hora.
Segundo o tenente Ricardo
Mendonça, comandante da
unidade da Sé, a polícia não teve escolha. "Fomos técnicos,
usando apenas uma força tática
especializada em controle de
distúrbios civis".
Após o incidente, nenhum
dos integrantes dos Racionais
quis se pronunciar sobre o
ocorrido.
O rapper Primo Preto, que
apresentava o espetáculo, disse: "A polícia viajou. Foi ao ouvir os tiros e as bombas que as
pessoas começaram a correr.
Havia crianças e senhoras presentes. Alguém do comando da
PM teve a idéia de mandar dispersar o povão. Mas fazer isso
com bombas é um absurdo".
Clima de tensão
Segundo o secretário municipal da Cultura, Carlos Augusto
Calil, que esteve presente poucos minutos antes da apresentação, já havia um "clima de
tensão no ar". "Vi o público tentando invadir áreas restritas. A
praça estava cheia demais. Depois me dei conta de que só faltava uma faísca ali para acontecer alguma coisa séria".
Às 2h40, vinte minutos antes
da entrada prevista dos Racionais -que subiram ao palco
com mais de 90 minutos de
atraso-, o público estava tentando invadir área destinada à
imprensa e convidados.
O senador Eduardo Suplicy
(PT-SP), que assistia ao show
no palco, afirma que a polícia
continuou a agir quando a situação parecia controlada.
"Acho que a polícia, em alguns
momentos, só fez a confusão se
expandir ainda mais", disse. "Vi
ações agressivas da tropa de
choque em hora de calma, já
depois do ocorrido."
A PM diz que, caso a situação
não fosse controlada, o tumulto
poderia se estender para outras
regiões do centro, ocupadas pela programação da Virada.
"Acho que foi um erro a prefeitura organizar um show dos
Racionais, que fazem músicas
contra a polícia e a desigualdade social, num lugar aberto,
juntando um monte de gente
da periferia", disse a operadora
de telemarketing Kyara Magalhães, 25. "Mas a polícia não tinha o direito de agredir tanta
gente indefesa."
A Secretaria de Segurança
Pública divulgou nota ontem
dizendo que um grupo começou o tumulto, atacando policiais militares com pedras e
garrafas, depredando uma banca de jornal, viaturas e carros e
saqueando lojas.
No final do dia, o prefeito de
São Paulo, Gilberto Kassab
(DEM), chamou o tumulto de
um "incidente grave", mas limitado a um ponto entre os mais
de 80 onde foram realizados
eventos da Virada Cultural.
"Houve este incidente, mas
gostaria de celebrar os resultados", afirmou no encerramento
do evento. Segundo ele, a prefeitura deve "assumir as responsabilidades" pelos prejuízos causados.
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