São Paulo, segunda-feira, 07 de maio de 2007

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Crítica/erudito

Britten Sinfonia mostra repertório renovado

ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA

Não dá para não ser simpático a uma pianista clássica com "dreadlocks" até a cintura e um histórico que inclui parcerias com o jazzista Moses Molelekwa e o tablista Talvin Singh, entre outros, e um projeto combinando a "Arte da Fuga" de Bach (1685-1750) com a obra de Moondog (músico de rua nova-iorquino da década de 1950).
Também não dá para não ter simpatia por uma orquestra de câmara que toca Britten (1913-76) e Stravinsky (1882-1971), lado a lado com compositores contemporâneos como Arvo Pärt (1935) e Osvaldo Golijov (1960) -e esses junto a nomes da música popular de ponta, como Egberto Gismonti (1947).
Enfim: simpatia é o que não faltava, antes do concerto da Britten Sinfonia com Joanna MacGregor, na quarta passada, no teatro Cultura Artística, com nova apresentação hoje. A orquestra é excelente; a pianista, nessa noite, foi um pouco menos que isso; e o programa era arejado e arrojado.
MacGregor começou tocando o "Concerto para Teclado", em fá menor, de Bach. "Para teclado" soa como tradução politicamente correta, para salvar os pianistas: é um concerto para cravo. Foi tocado pela inglesa com isto em mente, tudo muito distinto dos pianismos que ela mostraria depois no caricato pós-tango "Levante", de Golijov, ou no "Forrobodó" e no "Frevo" de Gismonti (que ficaram devendo algo dos fogos de Gismonti tocando).
Bom mesmo foi o "Concerto em Ré para Orquestra de Cordas", de Stravinsky, uma das tantas pequenas peças perfeitas do autor de tantas grandes obras-primas.
Antes disso, o ponto alto foi Britten: "Lachrymae (Reflexões sobre uma Canção de Dowland)", para viola e orquestra de cordas, precedida de três canções do próprio Dowland (1563-1626), em arranjos irregulares de MacGregor.
Se o violista Martin Outram começou com problemas, depois tocou lindamente, destrinchando virtuosismos como se não fossem nada. Notas erradas, de qualquer modo, nunca são o que define uma noite. As poucas dele, no início, ficavam logo fáceis de desculpar. As da pianista, nem tanto, sem desprezar sua originalidade e coragem de fazer as coisas de um jeito novo.
Quem não esperava muito deve ter se surpreendido.
Quem esperava tudo teve menos. Mas isso, afinal, é uma das leis da vida, e o concerto teve a virtude de animar o repertório com forças vivas de renovação.


BRITTEN SINFONIA
Quando:
hoje, às 21h
Onde: teatro Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, tel. 0/xx/11/3818-8888)
Quanto: R$ 10 a R$ 180
Avaliação: bom


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