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Crítica/erudito
Britten Sinfonia mostra repertório renovado
ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA
Não dá para não ser simpático a uma pianista
clássica com "dreadlocks" até a cintura e um histórico que inclui parcerias com
o jazzista Moses Molelekwa e o
tablista Talvin Singh, entre outros, e um projeto combinando
a "Arte da Fuga" de Bach (1685-1750) com a obra de Moondog
(músico de rua nova-iorquino
da década de 1950).
Também não dá para não ter
simpatia por uma orquestra de
câmara que toca Britten (1913-76) e Stravinsky (1882-1971),
lado a lado com compositores
contemporâneos como Arvo
Pärt (1935) e Osvaldo Golijov
(1960) -e esses junto a nomes
da música popular de ponta, como Egberto Gismonti (1947).
Enfim: simpatia é o que não
faltava, antes do concerto da
Britten Sinfonia com Joanna
MacGregor, na quarta passada,
no teatro Cultura Artística,
com nova apresentação hoje. A
orquestra é excelente; a pianista, nessa noite, foi um pouco
menos que isso; e o programa
era arejado e arrojado.
MacGregor começou tocando o "Concerto para Teclado",
em fá menor, de Bach. "Para teclado" soa como tradução politicamente correta, para salvar
os pianistas: é um concerto para cravo. Foi tocado pela inglesa com isto em mente, tudo
muito distinto dos pianismos
que ela mostraria depois no caricato pós-tango "Levante", de
Golijov, ou no "Forrobodó" e
no "Frevo" de Gismonti (que ficaram devendo algo dos fogos
de Gismonti tocando).
Bom mesmo foi o "Concerto
em Ré para Orquestra de Cordas", de Stravinsky, uma das
tantas pequenas peças perfeitas do autor de tantas grandes
obras-primas.
Antes disso, o ponto alto foi
Britten: "Lachrymae (Reflexões sobre uma Canção de Dowland)", para viola e orquestra
de cordas, precedida de três
canções do próprio Dowland
(1563-1626), em arranjos irregulares de MacGregor.
Se o violista Martin Outram
começou com problemas, depois tocou lindamente, destrinchando virtuosismos como se
não fossem nada. Notas erradas, de qualquer modo, nunca
são o que define uma noite. As
poucas dele, no início, ficavam
logo fáceis de desculpar. As da
pianista, nem tanto, sem desprezar sua originalidade e coragem de fazer as coisas de um
jeito novo.
Quem não esperava muito
deve ter se surpreendido.
Quem esperava tudo teve menos. Mas isso, afinal, é uma das
leis da vida, e o concerto teve a
virtude de animar o repertório
com forças vivas de renovação.
BRITTEN SINFONIA
Quando: hoje, às 21h
Onde: teatro Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, tel. 0/xx/11/3818-8888)
Quanto: R$ 10 a R$ 180
Avaliação: bom
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