|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Osesp procura músicos pelo mundo
Sinfônica realizará audições em Beijing, Nova York, Berlim e outras cidades para a contratação de sete instrumentistas
Abertura de inscrições dá início a pacote de novidades que diretor artístico, após cem dias no cargo, deve começar a trazer a público
DA REPORTAGEM LOCAL
Após cem dias como diretor
artístico da Osesp, cargo antes
acumulado pelo maestro John
Neschling, o ex-articulista de
Folha Arthur Nestrovski começa a tornar públicas algumas das novidades que engendra desde janeiro. Uma delas
veio a público nesta quinta-feira. A direção da Fundação
Osesp abriu as inscrições para
o preenchimento de sete importantes vagas da orquestra.
A realização de audições na
Ásia, na Europa e nos Estados
Unidos se deve, segundo Nestrovski, à dificuldade de encontrar-se, onde quer que seja,
músicos de altíssimo nível. A
Osesp tem instrumentistas de
16 nacionalidades diferentes.
Mais de 70% dos integrantes
são, porém, brasileiros. "Orquestras são, por definição, organizações cosmopolitas. Acho
que, hoje, o Brasil entendeu isso", diz, recordando a confusão
causada, à época da construção
da Sala São Paulo, quando a
primeira leva de estrangeiros
foi contratada pela Osesp.
No fim, muitos deles, como o
cellista russo Kirill Bogatyrev,
acabaram por deixar a orquestra por se sentirem perseguidos pelo maestro Neschling.
"Tomamos a decisão de deixar
o Brasil em 2007. A tirania estava cada dia mais insustentável. O desrespeito e a discriminação contra nós, estrangeiros,
só aumentava", conta Bogatyrev, por e-mail, de Qatar, no
Golfo Pérsico, onde toca agora.
"Mantivemos em segredo a decisão de partir porque a Osesp
não permitia que os músicos fizessem testes."
A frase do cellista recupera,
um pouco, o clima que tomou a
Sala São Paulo a partir de meados dos anos 2000.
Questionado sobre o quanto
a tumultuada saída de Neschling atingiu a sinfônica, Nestrovski responde: "Claro que
foi um momento traumático.
Mas, quando cheguei, a orquestra já tinha passado por um ano
inteiro de acomodação. Não
cheguei no olho do furacão".
Porém, ele diz que, por "temperamento e vontade", está tentando engajar os músicos na
escolha de peças e valorizá-los.
O diretor também pretende
levar a cabo ações que entrelacem a orquestra a outras manifestações culturais. Haverá, por
exemplo, um texto do escritor
Milton Hatoum no encarte do
CD "Floresta Amazônica", um
conto do inglês Julian Barnes,
sobre Sibelius, no programa de
agosto, e a incorporação de artistas e fotógrafos contemporâneos às capas dos CDs.
"Integrar a música à discussão cultural também é tarefa de
uma instituição como esta", diz
o diretor. "As orquestras, hoje,
não são apenas os músicos numa sala de concerto. São projeto social e cultural."
Na sua opinião, a música
clássica entrou no século 21
sem a pecha de nariz empinado. "Muitos solistas são jovens
e descolados, e não mais senhores de gravata. O próprio repertório contemporâneo não é
mais intelectualizado como
nos 50 e 60."
(APS)
Texto Anterior: Após Neschling, Osesp sai do castelo Próximo Texto: Análise: Orquestra viveu impasse cultural e político Índice
|