São Paulo, sexta-feira, 07 de maio de 2010

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Belas Artes fechará se ficar sem patrocínio

Sócio do cinema em SP diz que baixará portas se não conseguir apoio até julho

André Sturm conta que já procurou 20 empresas desde o final do contrato com o banco para ajudar a equilibrar as contas da sala


DA REPORTAGEM LOCAL

Sem patrocínio, um cinema independente, ou seja, que não seja nem Cinemark nem UCI nem Severiano Ribeiro, consegue se manter?
"Acho bem difícil. Não vou dizer que é impossível porque pode haver situações específicas, como se, por exemplo, eu não pagasse aluguel. Mas, no caso do Belas Artes, é impossível", responde André Sturm, um dos sócios da casa, cujo contrato de patrocínio do banco HSBC não foi renovado neste ano após parceria de seis anos.
"Se a gente não tiver um patrocínio até julho, fecho o cinema até o final do ano", avisa.
A Folha pediu que Sturm detalhasse a conta que, por artes e manhas da economia, simplesmente não fecha, mesmo que o cinema vá bem. Ele não divulga de quanto era o patrocínio do banco nem de quanto precisaria. Mas observa, em primeiro lugar, que 80% dos ingressos são meia-entrada, ou seja, o valor que entra em caixa é baixo.
A matemática parece mais favorável aos cinemas multiplex, que, segundo Sturm, têm a maior parte do lucro das vendas da bombonière e da publicidade que passa na tela. "Se a gente cobrar R$ 15 pela pipoca, ninguém compra", desabafa.
Há ainda detalhes estruturais. As salas multiplex costumam ter uma cabine única de projeção, com um ou dois projecionistas. Já cinemas independentes como o Belas Artes precisam de mais. "Eu tenho de ter sete [projecionistas]. Eles têm uma só entrada para todas as salas. No Belas Artes, eu preciso de seis porteiros, um para cada sala", diz. "Tenho aluguel alto, IPTU alto. Não é que o cinema vai mal. Ao contrário. Está sempre movimentado."
Remanescente dos tempos em que os cinemas ficavam na rua, e não nos shoppings, o Belas Artes foi escolhido neste ano pelo Guia da Folha como o detentor da melhor programação de São Paulo.
O público varia de 20 mil a 25 mil pessoas por mês e tem mais de 30 funcionários fixos. Alguns filmes chegam a ter 38 mil espectadores. "Tango de Rachevski", que estreou exclusivamente lá, fez 20 mil espectadores; "Medos Privados em Lugares Públicos" está há quase três anos em cartaz.
Sturm diz já ter procurado pelo menos 20 empresas para conseguir novo patrocínio. "Algumas mostram interesse, outras não. O Belas Artes é um ativo valioso. O HSBC teve ganhos, muita gente chamava o cinema de HSBC." (ANA PAULA SOUSA E FERNANDA EZABELLA)


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