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Belas Artes fechará se ficar sem patrocínio
Sócio do cinema em SP diz que baixará portas se não conseguir apoio até julho
André Sturm conta que já procurou 20 empresas desde o final do contrato com o banco para ajudar a equilibrar as contas da sala
DA REPORTAGEM LOCAL
Sem patrocínio, um cinema
independente, ou seja, que não
seja nem Cinemark nem UCI
nem Severiano Ribeiro, consegue se manter?
"Acho bem difícil. Não vou
dizer que é impossível porque
pode haver situações específicas, como se, por exemplo, eu
não pagasse aluguel. Mas, no
caso do Belas Artes, é impossível", responde André Sturm,
um dos sócios da casa, cujo contrato de patrocínio do banco
HSBC não foi renovado neste
ano após parceria de seis anos.
"Se a gente não tiver um patrocínio até julho, fecho o cinema até o final do ano", avisa.
A Folha pediu que Sturm detalhasse a conta que, por artes e
manhas da economia, simplesmente não fecha, mesmo que o
cinema vá bem. Ele não divulga
de quanto era o patrocínio do
banco nem de quanto precisaria. Mas observa, em primeiro
lugar, que 80% dos ingressos
são meia-entrada, ou seja, o valor que entra em caixa é baixo.
A matemática parece mais
favorável aos cinemas multiplex, que, segundo Sturm, têm
a maior parte do lucro das vendas da bombonière e da publicidade que passa na tela. "Se a
gente cobrar R$ 15 pela pipoca,
ninguém compra", desabafa.
Há ainda detalhes estruturais. As salas multiplex costumam ter uma cabine única de
projeção, com um ou dois projecionistas. Já cinemas independentes como o Belas Artes
precisam de mais. "Eu tenho de
ter sete [projecionistas]. Eles
têm uma só entrada para todas
as salas. No Belas Artes, eu preciso de seis porteiros, um para
cada sala", diz. "Tenho aluguel
alto, IPTU alto. Não é que o cinema vai mal. Ao contrário. Está sempre movimentado."
Remanescente dos tempos
em que os cinemas ficavam na
rua, e não nos shoppings, o Belas Artes foi escolhido neste
ano pelo Guia da Folha como
o detentor da melhor programação de São Paulo.
O público varia de 20 mil a 25
mil pessoas por mês e tem mais
de 30 funcionários fixos. Alguns filmes chegam a ter 38 mil
espectadores. "Tango de Rachevski", que estreou exclusivamente lá, fez 20 mil espectadores; "Medos Privados em Lugares Públicos" está há quase
três anos em cartaz.
Sturm diz já ter procurado
pelo menos 20 empresas para
conseguir novo patrocínio. "Algumas mostram interesse, outras não. O Belas Artes é um
ativo valioso. O HSBC teve ganhos, muita gente chamava o
cinema de HSBC."
(ANA PAULA SOUSA E FERNANDA EZABELLA)
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