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Paulo José reavalia relação com poeta
Ator dirige a peça "Um Navio no Espaço", em que divide a cena com sua filha para contar a vida de Ana Cristina Cesar
Espetáculo marca a volta dele aos palcos após nove anos de hiato e abranda morte trágica da escritora, que se suicidou em 1983
AUDREY FURLANETO
DA SUCURSAL DO RIO
Ela passa sabonete pelo corpo debaixo do chuveiro. É o dia
29 de outubro de 1983, e Ana
Cristina Cesar corre nua do banheiro à janela. A pequena saga
da poeta é narrada em ritmo de
vertigem por Paulo José: "Ela
se joga, já está muito magra,
passa a cabeça, o corpo, escorrega. Pulou do sétimo andar".
A cena do suicídio, no entanto, está fora do espetáculo que o
ator divide com a filha, a atriz
Ana Kutner. "Um Navio no Espaço ou Ana Cristina Cesar",
que chega a São Paulo amanhã,
deixa surgir a morte trágica de
forma sutil, como poderia ter
feito a própria poeta: com a frase final de "Epílogo", do livro
"Luvas de Pelica" (1980).
"Eu tiro as luvas e deixo aqui
no espaldar dessa cadeira", diz
Ana Kutner, no palco como
Ana Cristina Cesar (1952-1983), para encerrar o espetáculo, que marca a primeira
atuação dela com o pai. "Um
Navio no Espaço" é também a
volta do ator ao teatro após um
hiato de nove anos.
Aos 73 anos, Paulo José revive a difícil relação que teve com
Ana C. Refinada escritora, ensaísta e tradutora da geração
dos anos 70, ela trabalhou no
departamento de análise de
textos da Globo nos anos 80.
Avaliou como "folhetinesco,
vulgar, apelativo" o roteiro de
Paulo para "Caso Verdade",
programa popularesco que devia concorrer com "O Povo na
TV", da Tupi. "Éramos inimigos íntimos", diz ele. Pouco depois, descobriu que Ana C. era
uma poeta "que trabalhava
com a desconstrução da estrutura da linguagem".
"Ela faz algo muito elaborado
em produtos informais, um bilhetinho, uma carta", diz. Na
construção da peça -de Maria
Helena Kühner, dirigida por
ele-, a ideia é driblar a forma
de recital poético, "embora a
palavra dela esteja sempre presente", segundo Ana Kutner.
"Temos o fato determinante
que é a morte dela. Ao mesmo
tempo, não fazemos o espetáculo de uma suicida", completa
a atriz que "encena" o suicídio
deixando no espaldar de uma
cadeira as luvas de pelica -ou,
como diz, "essa segunda pele,
essa forma de se proteger que
se perde antes da morte".
UM NAVIO NO ESPAÇO
Quando: estreia amanhã, às 21h
(sex. e sáb., às 21h; dom., às 19h30;
até 6/6)
Onde: teatro Sesc Santana (av. Luiz
Dummont Villares, 579, tel. 0/ xx/
11/2971-8700
Quanto: R$ 20
Classificação: 14 anos
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