São Paulo, sexta-feira, 07 de maio de 2010

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Paulo José reavalia relação com poeta

Ator dirige a peça "Um Navio no Espaço", em que divide a cena com sua filha para contar a vida de Ana Cristina Cesar

Espetáculo marca a volta dele aos palcos após nove anos de hiato e abranda morte trágica da escritora, que se suicidou em 1983


AUDREY FURLANETO
DA SUCURSAL DO RIO

Ela passa sabonete pelo corpo debaixo do chuveiro. É o dia 29 de outubro de 1983, e Ana Cristina Cesar corre nua do banheiro à janela. A pequena saga da poeta é narrada em ritmo de vertigem por Paulo José: "Ela se joga, já está muito magra, passa a cabeça, o corpo, escorrega. Pulou do sétimo andar".
A cena do suicídio, no entanto, está fora do espetáculo que o ator divide com a filha, a atriz Ana Kutner. "Um Navio no Espaço ou Ana Cristina Cesar", que chega a São Paulo amanhã, deixa surgir a morte trágica de forma sutil, como poderia ter feito a própria poeta: com a frase final de "Epílogo", do livro "Luvas de Pelica" (1980).
"Eu tiro as luvas e deixo aqui no espaldar dessa cadeira", diz Ana Kutner, no palco como Ana Cristina Cesar (1952-1983), para encerrar o espetáculo, que marca a primeira atuação dela com o pai. "Um Navio no Espaço" é também a volta do ator ao teatro após um hiato de nove anos.
Aos 73 anos, Paulo José revive a difícil relação que teve com Ana C. Refinada escritora, ensaísta e tradutora da geração dos anos 70, ela trabalhou no departamento de análise de textos da Globo nos anos 80.
Avaliou como "folhetinesco, vulgar, apelativo" o roteiro de Paulo para "Caso Verdade", programa popularesco que devia concorrer com "O Povo na TV", da Tupi. "Éramos inimigos íntimos", diz ele. Pouco depois, descobriu que Ana C. era uma poeta "que trabalhava com a desconstrução da estrutura da linguagem".
"Ela faz algo muito elaborado em produtos informais, um bilhetinho, uma carta", diz. Na construção da peça -de Maria Helena Kühner, dirigida por ele-, a ideia é driblar a forma de recital poético, "embora a palavra dela esteja sempre presente", segundo Ana Kutner.
"Temos o fato determinante que é a morte dela. Ao mesmo tempo, não fazemos o espetáculo de uma suicida", completa a atriz que "encena" o suicídio deixando no espaldar de uma cadeira as luvas de pelica -ou, como diz, "essa segunda pele, essa forma de se proteger que se perde antes da morte".


UM NAVIO NO ESPAÇO

Quando: estreia amanhã, às 21h (sex. e sáb., às 21h; dom., às 19h30; até 6/6)
Onde: teatro Sesc Santana (av. Luiz Dummont Villares, 579, tel. 0/ xx/ 11/2971-8700
Quanto: R$ 20
Classificação: 14 anos




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