São Paulo, sábado, 07 de maio de 2011

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Gabriel, o pensador

O autor, que diz já ter vendido mais de dez milhões de livros e que cobra R$ 25 mil por palestra para entidades privadas, mira seu próximo alvo, a Prefeitura de SP

MORRIS KACHANI
DE SÃO PAULO

Cinquenta e quatro livros lançados e dez milhões de unidades vendidas, segundo suas próprias contas, a um preço médio de R$ 35. Palestras a R$ 25 mil o cachê, disputadas a tapa por estudantes e senhoras.
Apartamento duplex de 1.000 m2 estimado em R$ 8 milhões, no coração do bairro do Higienópolis, com piano de cauda e academia própria. Terceira maior votação para deputado do país, com mais de meio milhão, atrás apenas de Tiririca e Anthony Garotinho.
E isso é só o começo.
Aos 42, Gabriel Chalita, natural de Cachoeira Paulista (SP), de ascendência árabe e vindo de uma infância modesta e religiosa, se prepara para lançar candidatura à Prefeitura de São Paulo, pelo PMDB. Nos bastidores, isso já é dado como certo.
Seu currículo é singular e não se encaixa facilmente em nenhum rótulo. Ex-secretário de Educação de Geraldo Alckmin, é graduado em direito e em filosofia e tem dois mestrados e dois doutorados pela PUC-SP.
Define-se como poeta, filósofo, contista, autor infantil, católico praticante (hoje ligado à comunidade carismática Canção Nova), mas acima de tudo, professor -atividade que mantém semanalmente na graduação e na pós daquela universidade e do Mackenzie. E também ocasionalmente na Casa do Saber, da qual é sócio.
Ao receber a Folha, poucos dias depois de ter acompanhado a beatificação de João Paulo 2º em Roma, suas primeiras palavras foram a respeito da reedição de seu livro "Estações" e da amizade que mantém com a escritora Lygia Fagundes Telles -tema que retomou ao longo da entrevista, na tentativa de desconstruir a crítica recorrente de que se trata de um autor de autoajuda.
"Estações" é o título de que Lygia mais gosta. Ela diz que ou eu estava apaixonado, ou sofrendo de paixão".
Em seguida, enquanto posava para as fotos, afirmou: "Esses árabes bonitos são fáceis de fotografar".

Folha - Em que estante deveriam aparecer seus livros? Filosofia ou autoajuda?
Gabriel Chalita - Não sou um autor de autoajuda. Isso é herança de quando o Serra brigou comigo. Tentou me desconstruir intelectualmente. De repente, acionou todos os seus amigos e blogueiros. Eu era o geniozinho e virei o escritor de autoajuda. Mas tudo que escrevo tem um enfoque filosófico.


E a religião?
Sou praticante. Mas não sou uma pessoa religiosa cheia de dogmas. Dialogo com as diferentes áreas da religião e inclusive outras religiões. Vi umas dez vezes a peça "A Alma Imoral", do rabino Nilton Bonder.


Que pensa do aborto?
Sou contra o aborto. Sou um defensor ardoroso do direito à vida. Há bens inalienáveis, como a vida.


Acha que Dilma e Serra também são contra ou foi apenas um jogo de cena?
Não sei. Nas conversas com a Dilma, ela dizia que os ricos fazem e os pobres não, daí a injustiça. O Serra acho que era mais favorável.


Que pensa da união civil entre homossexuais?
Historicamente, a Igreja não faz casamento entre duas pessoas do mesmo sexo. Outra coisa é a vertente jurídica. Duas pessoas do mesmo sexo podem ser sócias, ter uma relação afetiva. Sou favorável a isso. Não digo que sou favorável ao casamento. Agora, à união civil, o Estado não pode ser contrário. Isso é um horror.


Só no ano de 2010 foram oito livros. Como consegue ser tão prolixo? Trabalha com "ghost writer"?
É que deve ter muito livro infantil aí. O livro que fiz com o Mauricio de Sousa, por exemplo, escrevi no avião em uma viagem de São Paulo a Natal. O "Pedagogia do Amor", escrevi em 15 dias. "A Ética do Menino" foi no Réveillon. Estava na casa de Ângela Gutierrez em Salvador. A Milu Vilella sentou ao meu lado e disse: "Deixe-me ver como você escreve".


O que você está escrevendo agora, a propósito?
Estou com um projeto sobre correspondências imaginárias entre Sócrates e Thomas More. Em dez dias nos EUA, quase acabei.


Você escreveu de cabeça, sem pesquisa?
De cabeça, porque na verdade meu Sócrates é um camponês e meu More é professor. Então, eu pego conceitos filosóficos, mas são diálogos. Adoro escrever cartas. Ficção com base epistolar é muito bonita.


Como funciona seu processo de criação?
Faço associações. Por exemplo, os rituais macabros com albinos na Tanzânia que menciono em um livro. Fiquei sabendo disso no Congresso. E eu adoro o "Navio Negreiro", daí eu pego a coisa da Tanzânia, e penso no pássaro que o Castro Alves imaginava sobre aquela nau, vendo aquele sofrimento. Então, eu vou buscar o Castro Alves e coloco lá.


Quais são suas ambições daqui em diante?
Vou dar uma resposta aristotélica: ser feliz [risos]. Gosto de tudo o que faço. Agora tem essa história de ser candidato a prefeito de SP -está surgindo essa oportunidade. Fico imaginando o que faria como prefeito, tenho o maior tesão nisso.


Como define politicamente seu pensamento?
As políticas sociais são fundamentais, por isso estou mais à esquerda. Acho que as grandes conquistas do governo Lula foram trazer a emoção para a política e tentar tirar as pessoas da miséria.

E FHC?
Tenho admiração pelo FHC. E pelo Lula. Acho que eles são mais semelhantes do que diferentes. Mas tem uma coisa em que os tucanos erraram muito: eles achavam que era impossível fazer o sonho brasileiro. E o Lula acha que é possível.


Se arrepende de algo?
Confiei em pessoas em quem não deveria. Mas tento corrigir erros. Por exemplo, acho que entrei no partido errado. Quando fui para o PSB, imaginava uma coisa. Cheguei lá e não era aquilo. Como vou ficar, se é uma coisa em que não acredito?


Qual o seu personagem de ficção favorito?
Dom Quixote. Tenho admiração por essa pessoa que consegue ver além, colocar poesia naquilo que faz.


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