São Paulo, quinta, 7 de maio de 1998

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POLÍTICA CULTURAL
Ministério está às voltas com comercialização fraudulenta e com pouco espaço dos filmes nacionais nas salas
Governo ataca sonegação no cinema

RUI NOGUEIRA
em São Paulo

O Ministério da Cultura festeja o sucesso do cinema nacional dentro e fora do país, mas, no momento, está às voltas com pelos menos dois problemas: a comercialização fraudulenta (sem registro) de produtos audiovisuais e o espaço exíguo destinado ao filme brasileiro pelos exibidores.
O registro dos produtos audiovisuais é a fonte de recursos do ministério para incentivar o cinema nacional por meio de concursos públicos.
Em entrevista à Folha, o secretário do Audiovisual, Moacir de Oliveira, disse que, só neste ano, já foram detectados pelo menos mil títulos sem registro e que estão sendo comercializados pelas TVs por assinatura.
A exibição está em questão porque há resistência em abrir espaço para colocar em cartaz o cinema brasileiro.
A cota de tela é difícil de conferir -apenas 300 das 1.100 salas do Brasil têm controle informatizado- e, agora, há uma proposta polêmica no bastidor.
Os multiplex (centros de cinema com várias salas de exibição) querem, em vez de cumprir a cota de tela, fixada pelo ministério em 49 dias/ano para o cinema nacional, separar um sala só para o cinema brasileiro.
Leia a seguir, os principais trechos da entrevista:

Folha - Com o cinema brasileiro ganhando prêmios lá fora e fazendo sucesso junto ao público aqui dentro, qual é o modelo de apoio do Ministério da Cultura?
Moacir de Oliveira -
Temos três ações que podem ser classificadas como estímulo a novos talentos e de aperfeiçoamento. A intenção é criar novos pensadores do cinema brasileiro.
A primeira ação concreta é o prêmio permanente para filmes de curta-metragem. A segunda é o concurso de roteiros, a busca de novas histórias. E, em convênio com a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), mais um dinheiro do nosso orçamento, temos um concurso que empresta recursos, por meio de financiamento, às empresas brasileiras de produção independente para desenvolvimento de projetos audiovisuais.
Folha - O ministério está se transformando em produtor?
Oliveira -
De jeito nenhum. Cada proposta para desenvolvimento de projetos pode financiar até R$ 80 mil, com juros que não chegam a 2% ao ano, três anos de carência e mais dois para pagar. Esse dinheiro é para desenvolver e aperfeiçoar os projetos, fazer coisas como pesquisar mercado, fechar acordos de co-produção, fazer pesquisa de época e até melhorar a divulgação do filme.
Os concursos de roteiros e desenvolvimento de projetos são realizados três vezes ao ano. O de curtas, uma vez ao ano.
Folha - Não há concentração de incentivos no eixo Rio-São Paulo?
Oliveira -
Estamos tentando criar parâmetros de diversificação, mas o primeiro critério será sempre não criar limitações à criação. A primeira exigência é a qualidade. Estamos pensando em incentivar a regionalização, não para sair do eixo Rio-São Paulo porque a produção aí sempre será maior, mas para ter essa diversidade e a presença do Estado em todo o território.



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