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O Paraíso é apenas promessa de felicidade
MÔNICA RODRIGUES COSTA
Editora da Folhinha
Que Deus me perdoe, mas os livros sobre religião, para crianças
de 5 a 9 anos, estão longe de ser
satisfatórios. As explicações sobre
a origem do mundo são míticas,
como as lenda indígenas, ficcionais e inverossímeis. Deveriam ser
melhor explicadas.
Mesmo que o intuito desses livros seja o da formação religiosa, é
preciso contextualizá-la no mundo contemporâneo, frente à ciência ou à fraternidade entre povos.
Os simpáticos livros apoiados
pelo banco Safra, ensinam generosidade e fraternidade, mas se limitam à comunidade judaica. É o
caso deste exemplo de "Salo e
Yossi - Na Trilha Quente", de Dina Rosenfeld (editora Maayanot-Infantil): "-Você sabe a
mitsvá que nos manda ajudar/ Todo e qualquer judeu, seja em qualquer lugar,..." Por que não ajudar
a todas as pessoas, de qualquer
crença, raça ou povo?
O que dizer do ensinamento sobre as presenças de Deus e Jesus
por meio dos milagres, como
consta do livro "A Bíblia dos Pequeninos" (editora Cristã Unida)? O livro tem outros problemas. Representa o inimigo do povo de Deus como um gigante malvado e tem inúmeros erros de português, como: "Então Jesus sube,
sube, sube/ bem alto nas nuvens-/ sempre subindo até o
céu.../ sempre subindo até Deus."
Muitas histórias religiosas para
crianças acontecem num tempo
remoto, entre fontes e desertos,
pasto de ovelhas com pastores que
levam uma vida reflexiva e pacífica. A realidade dos povos antigos é
cotidianamente contraposta ao
ambiente da criança que vive em
cidades violentas, briga na escola e
se frustra por não ter o objeto de
desejo do mundo do consumo.
A TV joga na cara do público infantil, solitário, conflitos entre
países, guerras religiosas, ganância competitiva e extremo individualismo. Que Deus dá conta de
pacificar os sentimentos humanos
frente a esse tipo de mundo?
O Deus cristão, que criou a Terra
com palavras mágicas e que deixou o diabo tentar no Éden seres
inocentes, criados por ele mesmo?
Esse enfoque permeia o livro "A
Bíblia da Garotada", de V. Gilbert
Beers (editora Cristã Unida), que
tem um título modernoso, chamativo, mas conteúdo inverossímel:
"Deus fala palavras maravilhosas.
E quando Ele fala, coisas maravilhosas acontecem. O Sol começa a
brilhar. A Lua aparece com luz
suave. As estrelas piscam. Os passarinhos cantam músicas gostosas. Os bichos correm e brincam."
"O Pedacinho do Céu Azul", livro espírita, do espírito Rosângela
e com psicografia de Vera Lúcia
Marinzeck de Carvalho (Lúmen
Editorial), ensina que as pessoas
devem se conformar com seu destino, porque têm missões na Terra. Nada contra em que um ser humano aceite sua condição de deficiente físico e consiga ser solidário
com o seu semelhante.
Mas dizer que uma menina cega
morreu e depois viveu feliz, enxergando e brincando no mundo
aconchegante da outra encarnação é correr o risco de transmitir
uma exagerada conformação aos
problemas que as pessoas enfrentam na única vida que a maioria
dos seres humanos conhece.
É tempo de modificar a metáfora
didática da criação do mundo, interpretá-la com veracidade, para a
instituição do Paraíso deixar de
ser só uma promessa de felicidade.
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