São Paulo, sexta-feira, 07 de junho de 2002

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CINEMA / ESTRÉIA

Estréia hoje no Brasil "Quarto do Pânico", novo filme do diretor David Fincher, com Jodie Foster

Medo entre quatro paredes

Divulgação
Cena do filme "Quarto do Pânico", a partir de hoje nos cinemas


ADRIANE GRAU
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES

Se você acha que sua casa é um porto seguro, onde nada pode lhe acontecer, "Quarto do Pânico" chegou para mudar essa impressão. Em seus filmes anteriores como "Seven - Os Sete Crimes Capitais" e "Clube da Luta", o diretor David Fincher, 40, já tinha mostrado que gosta mesmo é de meter medo nas pessoas. Desta vez faz isso ao mostrar a divorciada Meg Altman (Jodie Foster) presa em casa e defendendo a sua vida e a da filha contra um grupo de assaltantes.
Ele conversou com a Folha sobre "Quarto do Pânico" antes de o filme estrear com sucesso nos Estados Unidos.

Folha - Faz muito tempo que a paranóia lhe interessa enquanto tema?
David Fincher -
A paranóia não é o tema do filme. Estou interessado em engajar o público. É um filme sobre heróis, sobre vingança, sobre divórcio.

Folha - Também é como um jogo de gato e rato.
Fincher -
Sim, é sinistro e acaba sendo também um pouco violento. Não tem nenhuma explicação sociológica mais profunda.

Folha - Você filmou a história praticamente em tempo real. Quase tudo acontece entre 1h e 4h. Não é monótono filmar nesse ritmo?
Fincher -
Não quis que o processo me assustasse, mas claro que, depois de tantos dias filmando na mesma casa, estava ficando meio monótono para mim. Deu uma certa ansiedade.

Folha - Como você decidiu o visual que a casa teria?
Fincher -
Quis que fosse clássica e meio antiga. Não quis que parecesse mal-assombrada, mas sim que tivesse um ar de casa usada, onde as pessoas moraram por muitos anos. Quando ela começa a ser destruída, o público fica chateado, pois sabe que é uma casa sólida. Isso ajuda os invasores a parecerem mais intrusos ainda.

Folha - Seus filmes inovaram com imagens fortes e gráficas. Qual era sua ambição neste âmbito ao decidir fazer "Quarto do Pânico"?
Fincher -
O que me atraiu foi o conceito de fazer um filme inteiro dentro da mesma casa. Mas a realização do conceito não foi nem um pouco divertida. Passar tanto tempo no mesmo cenário foi um pouco monótono.

Folha - Como você decidiu que clima o filme teria?
Fincher -
Eu achei que logo de cara havia duas maneiras de fazer este filme. A primeira teria sido meio "A Bruxa de Blair". Neste caso eu teria sido mais parte do filme através da câmera mais ativa. Mas achei por fim essa opção muito subjetiva e optei por fazer um filme mais objetivo e analítico. Gosto da idéia de que a câmera pode ir a qualquer lugar, ver tudo. O público pode ver através das paredes, do chão e mudar de andar a qualquer momento. Por causa disso, acaba vendo coisas que não queria. E, já que tem essa perspectiva mais objetiva, a câmera não pode ajudar as pessoas. Faz o público ter de assistir passivamente. Acho legal que o público fique nervoso e queira ajudar, mas não possa.

Folha - Como foram escolhidos os prédios que aparecem na sequência de abertura com os créditos?
Fincher -
São edifícios que tivemos permissão para filmar. Começamos no Village e fomos indo para áreas mais abastadas de NY.

Folha - Você aceita improvisos ou se atém ao roteiro?
Fincher -
Eu não improviso, mas aceito que os atores improvisem. Leto improvisou o tempo todo.

Folha - Como é trabalhar com Jodie Foster?
Fincher -
É um prazer trabalhar com alguém que sabe fazer seu papel, é a atriz perfeita, não fica analisando o significado das cenas. É como Sigourney Weaver, com quem aprendi muito no meu primeiro filme ["Alien 3]". Ela me dizia que só queria saber o que tinha que fazer. Acabei me tornando um subproduto dessa experiência. Dou instruções precisas, quase como numa coreografia.



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