JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Estréia hoje no Teatro Municipal de São Paulo "João e Maria", ópera do compositor Engelbert Humperdinck (1854-1921). Será uma temporada bastante curta, com apenas quatro récitas e a direção musical de Jamil Maluf.
Extraída de um dos contos dos irmãos Grimm e denominada originalmente "Hansel und Gretel", a história será cantada em português, mas haverá também a projeção de legendas (supertítulos).
João e Maria, perdidos na floresta, são feitos prisioneiros por uma bruxa, que antes de devorá-los os alimenta para que eles engordem. Mas o irmão e a irmã levam a melhor sobre a bruxa e, libertados, voltam para seus pais.
Participam da produção, que tem a preocupação de atrair o público infantil, a Orquestra Experimental de Repertório e os cantores Paulo Szot e Luciana Bueno, como os pais das duas crianças, Denise de Freitas, no papel de João, Andrea Ferreira, no de Maria, e Regina Elena Mesquita, como a Bruxa. A direção cênica é de Flávio de Souza e os cenários e os figurinos são de Fernando Anhê.
A seguir, trechos da entrevista com o maestro Jamil Maluf.

Folha - Como é reger uma conhecidíssima história de um compositor bem menos conhecido?
Jamil Maluf - Humperdinck é uma personalidade que precisa ser urgentemente redescoberta na história da música. Ele foi o primeiro a utilizar o canto falado. Ele junta um domínio da orquestração e do contraponto bastante raros na ópera. "João e Maria" é muitíssimo bem estruturada do ponto de vista formal, tão refinadamente composta.

Folha - Ele foi um grande amigo de Richard Wagner. Essa amizade o influenciou musicalmente?
Maluf - Humperdinck queria ser arquiteto. Foi convencido a estudar música por um amigo e passou a vencer sucessivos concursos de composição. Foi num deles, em Nápoles, que conheceu Wagner, de quem tornaria o único grande amigo. É dele um trecho do "Parsifal", necessário como adendo à partitura durante a troca de cenários. Humperdinck filtrou essa influência, mas a traduziu de forma sutil por meio de citações bem-humoradas.

Folha - A música é infantil, ou é uma música de adulto que se torna infantil por força do enredo?
Maluf - Essa última hipótese é a verdadeira. Para escolher o elenco precisei selecionar vozes muito poderosas para não serem cobertas pela orquestra, que tem um desempenho em alguns momentos de grandiosidade quase wagneriana. Precisei reforçar os violinos, contar com quase 80 músicos em cada apresentação.