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POLÍTICA CULTURAL
Biblioteca de SP, objeto de polêmica, recebe do governo prédio vizinho e aguarda financiamento do BID
Reforma deve resgatar Mário de Andrade
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Biblioteca Mário de Andrade
não chegou a se tornar um exemplo dignificante da prefeitura na
área cultural. Pelos primeiros planos, sua reforma e ampliação deveriam terminar em janeiro de
2003. As obras, no entanto, começarão apenas em 2005.
Na última semana, aquela biblioteca municipal foi objeto de
polêmica na seção "Tendências/
Debates", da Folha. O historiador
Marco Antonio Villa publicou na
quarta-feira artigo intitulado "A
destruição de uma biblioteca",
respondido na sexta por José Castilho Marques Neto, diretor dela,
com o texto "Verdades a respeito
da Mário de Andrade".
Duas cartas, uma de Marco Aurélio Garcia, ex-secretário de Cultura da prefeita Marta Suplicy, e
outra de Francisco Foot Hardman, coordenador do programa
Colégio de São Paulo, defenderam a atual gestão da instituição.
Há fortes contrastes no cotidiano no prédio inaugurado em 1942
no centro paulistano. O site da biblioteca permite pesquisar o catálogo por temas e autores (http://
www4.prefeitura.sp.gov.br/bi
blioteca/PaginaInicial.asp). Mas,
com apenas um quarto do acervo
informatizado, a localização de livros por consulentes precisa ainda ser feita de forma manual, em
gaveteiros e fichas datilografadas.
O Colégio de São Paulo -com
cursos e ciclos de conferências
abertas a qualquer um- foi em
parte responsável pelo salto de
400 para 1.300 pessoas que em
média freqüentam diariamente a
biblioteca. Cynthia Gusmão, musicista, acaba de dar um curso sobre música erudita brasileira.
Walnice Nogueira Galvão, professora da USP, está para iniciar um
outro, sobre o romance policial.
Mas, ao mesmo tempo, os bibliotecários, que eram 34 no início da atual administração, são
hoje apenas 21. As vagas abertas
por aposentadorias não foram
preenchidas por pessoas desencorajadas pelos baixos salários.
"Ganhamos pouco mais que R$
1.300", diz a presidente da Associação de Bibliotecários Municipais de São Paulo, Olga Estorelli.
Na vizinha São Bernardo do Campo, por exemplo, o salário inicial é
de R$ 2.032.
Entre os funcionários, a referência de excelência foi a administração anterior do PT, a de Luiza
Erundina (1989-1992), pelos salários, mas também pelo acervo e
equipamentos comprados.
A Mário de Andrade é relativamente barata para a administração municipal. Seu orçamento está crescendo. Foi de R$ 577 mil no
ano passado. Poderá chegar neste
ano, com o Colégio de São Paulo,
a R$ 1,18 milhão.
Comparando: essa cifra é 17 vezes menor que o custo de construção de um CEU (Centro Educacional Unificado). E, mantendo-se o orçamento da biblioteca de
2004, ela poderia ser mantida por
185 anos se lhe fossem destinadas
as verbas que a prefeitura gastará
com as passagens de nível da Rebouças e da Cidade Jardim.
Ainda assim, não é correta a
idéia de que a Biblioteca Mário de
Andrade está em colapso. O repórter da Folha a visitou na sexta
à tarde, anonimamente. Havia 34
pessoas na sala de leitura. O xerox
e as leitoras de microfilmes funcionavam sem problemas. Os banheiros estavam limpos, e funcionavam só dois dos quatro computadores conectados à internet (a
Eletropaulo dará de presente 19
outros em julho).
A seção dos 47 mil livros e obras
raras permanece aberta. Mas o
acesso é restrito a pesquisadores
que preencham um questionário
e discutam seus projetos com
uma das bibliotecárias.
É possível que a impressão de
morosidade se deva ao contraste
com os planos que de início a
atual administração anunciou para a Mário de Andrade.
Seus 11 mil m2 deveriam ter virado 16 mil m2 no primeiro semestre
do ano passado, de acordo com o
segundo prazo para o término das
obras de um projeto preparado
pelo escritório de arquitetura Fábio Penteado.
Mas o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), que
entraria com R$ 4 milhões dos R$
7 milhões orçados para a reforma
há dois anos, concordou com o financiamento integral e emprestará R$ 22 milhões. É um empréstimo com seis anos de carência e,
depois, juros de 2,5% anuais.
A biblioteca será um dos 130
projetos beneficiados pelo empréstimo internacional no centro
da cidade. O protocolo inicial foi
assinado na última quarta-feira.
Há duas outras boas notícias, e
quem diz é o diretor da Mário de
Andrade, José Castilho Marques
Neto. A primeira são os entendimentos com o governo do Estado
para que passem à instituição os
5.000 m2 de um prédio vizinho, na
praça Dom José Gaspar, que hoje
pertence ao Ipesp (Instituto de
Previdência do Estado).
A segunda está na criação da Sociedade de Amigos e Patronos da
Biblioteca Mário de Andrade. Ela
teve na última quinta-feira sua
primeira reunião. Seu presidente,
Wander Soares, diretor da editora
Saraiva, disse à Folha que só a
prefeitura não consegue pôr a casa em ordem e dinamizar suas atividades. Empresários e representantes da sociedade civil embarcaram no projeto.
Ou seja, há algo que lentamente
acontece. Mesmo assim, diz a bibliotecária Olga Estorelli, "a prefeitura investiu pouco nas bibliotecas e preferiu investir bastante
naquilo que dá mais visibilidade,
que são as grandes obras".
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