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MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
Essa Coca é Fanta!
A gíria carioca serve para muitas coisas, inclusive para retratar o que aconteceu com o PT, corrupto e pelego
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ELA É CARIOCA e veio a São Paulo fazer "uns trabalhos". Mas
ficou no fim de semana, e fomos, com uma turma, à abertura da
"galeria virtual" Florence Antonio.
Casa incrível no Morumbi, projeto
de Sérgio Bernardes, tudo super, ultra, mega transado. Em meio ao desfile de modernos, alguém comentou
sobre o rapaz, que parecia interessado no jeitinho dela andar. Provocada, a carioca reagiu: "Não tem nada a ver: essa Coca é Fanta!".
Gírias, o Rio é bom nisso. Essa Coca é Fanta. Parece que é, mas não é.
O rapaz era gay -óbvio, não precisava explicar.
Serve para várias situações. O PT,
por exemplo. "Foi para isso que elegemos Lula?", perguntava Luiza
Erundina na "Caros Amigos". E podia ter dito: "Essa Coca é Fanta!".
É também o caso de representantes do vetusto Judiciário, que vão se
revelando tão intragáveis quanto a
nossa chamada "classe política"
-embora essa, na realidade, nunca
tenha enganado ninguém. Ou melhor, o PT até que enganou, mas não
engana mais. Dirão os ponderados
que não é bem assim, que é melhor
não generalizar, que a maioria dos
parlamentares e governantes é gente de bem com espírito público.
Será? E o coro dos senadores em
defesa do sr. Renan Calheiros -tremenda Fanta Uva de dois litros,
quente e sem gás- que usava o lobista de uma empreiteira para sanar
um caso extraconjugal?
Como é possível que os nobres colegas fiquem a protegê-lo, que ele
continue no cargo e que se encene
essa ridícula farsa em torno de uma
"análise" do caso no Conselho de
Ética do Senado? Francamente, alguém acredita em Conselho de Ética
do Senado? Ou da Câmara?
Muito tem-se falado da passividade dos brasileiros em relação à corrupção. Reforça-se a idéia da gente
apática, vida de gado, povo marcado,
povo feliz. No domingo, José Alexandre Sheinkman, em sua coluna
na Folha, manifestou a esperança
de que, a exemplo do que ocorreu
nos EUA no século 19, os brasileiros se tornem mais exigentes em
relação ao nível de honestidade dos
homens públicos. Tomara.
Mas a inexistência de manifestações públicas contra a roubalheira
parece ser menos uma questão de
caráter nacional e mais um problema político. Durante anos, o PT
posou de ético e controlou as instâncias de mobilização social. Mas
agora o partido se revelou corrupto
e sua militância, pelega. Vivêssemos sob um governo tucano e as
manifestações contra a corrupção
possivelmente estariam nas ruas.
Ao mesmo tempo, o que deveria
ser a oposição é risível. E sempre
esteve desconectada dos chamados
movimentos sociais -do PFL, que
adotou a cômica sigla Democratas,
ao PSDB, que vai sendo atraído pelo campo gravitacional de Lula, hábil articulador de um novo (velho)
centrão. À esquerda, resta o PSOL,
que está mais para banda de música do que para outra coisa.
O desnudamento do PT deixou a
política sem um ponto de referência crível, capaz de articular e potencializar o sentimento de indignação que existe, sim, em setores
importantes -os mais bem informados- da sociedade brasileira.
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