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crítica
Ao filmar acaso, Barcinski caiu em armadilha
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Controle e acaso são
dois temas particularmente caros
ao cinema, pois estão estreitamente relacionados
ao próprio fazer cinematográfico. Entra em jogo o
caráter fotográfico da atividade (na era pré-digital,
é bom frisar) e a tensão
que dele decorre: mesmo
as mais delirantes obras de
ficção não deixam de ser a
documentação de algo encenado diante da câmera;
mesmo os documentários
mais realistas (supostamente mais abertos ao
acaso) não deixam de ser
um recorte construído sobre essa "realidade", com
forte aspecto ficcional.
Quando um diretor
aborda o tema do acaso diretamente e opta por um
filme nos padrões da dramaturgia convencional, a
questão, se não for inserida de forma brilhante,
simplesmente perde o
sentido. O acaso torna-se
uma peça dramática enfraquecida, personagem
fabricado para dar sentido
à narrativa -e que de "acaso", então, não tem nada.
Em sua estréia como diretor de longa-metragem,
Philippe Barcinski não
consegue se desvencilhar
dessa armadilha. "Dois segundos podem mudar sua
vida", diz a "tagline" de seu
filme. OK, mas são dois segundos milimetricamente
calculados para dar rumo
a uma história que retira o
acaso de sua estrutura.
Em "Não por Acaso",
acompanhamos dois personagens obcecados pelo
controle. Pedro (Rodrigo
Santoro) fabrica mesas de
sinuca. Na hora de jogar,
combina razão e força para prever o movimento das
bolas. Ênio (Leonardo
Medeiros), engenheiro de
trânsito, se faz valer de cálculos para antecipar problemas e, quando possível,
solucioná-los. Mas o acaso
"arromba" suas vidas de
forma trágica.
Philippe Barcinski é autor de um premiado e coerente conjunto de curtas-metragens ("A Escada", "O
Postal Branco" e "Palíndromo"). Ao passar para o
longa-metragem, Barcinski optou por uma diluição,
buscando, em sua visão racional da vida, somar doses de emoção. Mas não
encontrou um equilíbrio
entre esses aspectos, talvez porque eles não sejam
tão separados assim.
Há muitas qualidades
em "Não Por Acaso": São
Paulo é filmada com um
carinho todo especial, os
atores são de primeira, e
há um desejo sincero de se
fazer um filme "inteligente" com a mais ampla penetração. Mas o resultado,
simplesmente, é fraco.
NÃO POR ACASO
Produção: Brasil, 2007
Direção: Philippe Barcinski
Com: Rodrigo Santoro, Leonardo Medeiros
Quando: Em cartaz nos cines
Pátio Higienópolis, Espaço Unibanco e circuito
Avaliação: regular
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