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Crítica/"Tsotsi - Infância Roubada"
Produção sul-africana recria Terceiro Mundo com didática sentimentalista
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Parece razoável supor
que o sul-africano
"Tsotsi - Infância Roubada" (2005) beneficiou-se, em
sua bem-sucedida circulação
pelo mercado internacional, da
trilha aberta pouco antes por
"Cidade de Deus" (2002) ao
mostrar de forma brutal a convergência entre crime e juventude em regiões pobres de metrópoles do Terceiro Mundo.
Não deixa de ser curioso, nesse aspecto, que "Tsotsi" tenha
obtido, em 2006, o Oscar de filme estrangeiro, enquanto "Cidade de Deus", em 2003, nem
mesmo obteve vaga entre os
cinco finalistas.
Quem estiver disposto a
identificar padrões que orientam a premiação tem aí um prato cheio, a começar pelo sentimentalismo com que o diretor
e roteirista sul-africano Gavin
Hood - baseado em romance
homônimo de Athol Fugard-
trata seus deserdados, moradores de favelas de Johanesburgo,
em contraste com habitantes
dos bairros nobres da cidade.
O encontro entre os dois
mundos ocorre quando o personagem do título (Presley
Chweneyagae), líder de uma
pequena gangue, transforma
involuntariamente um furto de
carro em seqüestro de um bebê.
Como consertar o erro? Tsotsi
(na linguagem das ruas, "ladrão" ou "gângster") cria uma
estratégia atrapalhada que o
põe em rota de colisão com os
comparsas e também com os
fantasmas de seu passado.
Hood opta pelo didatismo: a
trajetória do protagonista é devidamente explicada por circunstâncias familiares (órfão
de mãe, pai alcoólatra) e sociais
(desigualdade, abandono, violência). Nem por isso, contudo,
deixa de acenar com esperança.
"Tsotsi" mergulha nas chagas
da miséria, mas procura vir de
lá com alguma boa notícia - a
de que o ser humano tem jeito.
Como já havia ocorrido com
"Cidade de Deus", um discurso
de forte impacto para o espectador cosmopolita do Primeiro
Mundo, mas de assimilação
bem distinta por quem conhece
esse cenário porque o vê cotidianamente nas ruas e na TV.
TSOTSI - INFÂNCIA ROUBADA
Produção: África do Sul/Inglaterra, 2005.
Direção: Gavin Hood
Com: Presley Chweneyagae, Terry Pheto
Quando: em cartaz nos cines Bombril,
HSBC Belas Artes e circuito
Avaliação: regular
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