São Paulo, quinta-feira, 07 de junho de 2007

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Crítica/"Tsotsi - Infância Roubada"

Produção sul-africana recria Terceiro Mundo com didática sentimentalista

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Parece razoável supor que o sul-africano "Tsotsi - Infância Roubada" (2005) beneficiou-se, em sua bem-sucedida circulação pelo mercado internacional, da trilha aberta pouco antes por "Cidade de Deus" (2002) ao mostrar de forma brutal a convergência entre crime e juventude em regiões pobres de metrópoles do Terceiro Mundo.
Não deixa de ser curioso, nesse aspecto, que "Tsotsi" tenha obtido, em 2006, o Oscar de filme estrangeiro, enquanto "Cidade de Deus", em 2003, nem mesmo obteve vaga entre os cinco finalistas.
Quem estiver disposto a identificar padrões que orientam a premiação tem aí um prato cheio, a começar pelo sentimentalismo com que o diretor e roteirista sul-africano Gavin Hood - baseado em romance homônimo de Athol Fugard- trata seus deserdados, moradores de favelas de Johanesburgo, em contraste com habitantes dos bairros nobres da cidade.
O encontro entre os dois mundos ocorre quando o personagem do título (Presley Chweneyagae), líder de uma pequena gangue, transforma involuntariamente um furto de carro em seqüestro de um bebê.
Como consertar o erro? Tsotsi (na linguagem das ruas, "ladrão" ou "gângster") cria uma estratégia atrapalhada que o põe em rota de colisão com os comparsas e também com os fantasmas de seu passado.
Hood opta pelo didatismo: a trajetória do protagonista é devidamente explicada por circunstâncias familiares (órfão de mãe, pai alcoólatra) e sociais (desigualdade, abandono, violência). Nem por isso, contudo, deixa de acenar com esperança. "Tsotsi" mergulha nas chagas da miséria, mas procura vir de lá com alguma boa notícia - a de que o ser humano tem jeito.
Como já havia ocorrido com "Cidade de Deus", um discurso de forte impacto para o espectador cosmopolita do Primeiro Mundo, mas de assimilação bem distinta por quem conhece esse cenário porque o vê cotidianamente nas ruas e na TV.


TSOTSI - INFÂNCIA ROUBADA
Produção:
África do Sul/Inglaterra, 2005.
Direção: Gavin Hood
Com: Presley Chweneyagae, Terry Pheto
Quando: em cartaz nos cines Bombril, HSBC Belas Artes e circuito
Avaliação: regular


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