São Paulo, segunda-feira, 07 de junho de 2010

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Jackson do Pandeiro ilumina Zé Ramalho

Em disco sem melancolia, paraibano homenageia autor de "Sebastiana"

Tom épico de Ramalho, no entanto, permanece; artista agora planeja disco em inglês com músicas dos Beatles

MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO

Nos últimos três anos, Zé Ramalho, 60, escreveu canções em número suficiente para compor um álbum só com material autoral inédito. Mas não fez isso.
Autor de indiscutíveis clássicos nacionais dos anos 70 e 80 -"Avôhai", "Vila do Sossego", "Chão de Giz", "Admirável Gado Novo", "Garoto de Aluguel", "Frevo Mulher" etc.-, o paraibano volta a lançar trabalho dedicado a autor que o tenha influenciado artisticamente.
Fez isso com Raul Seixas (2001), Bob Dylan (2008) e Luiz Gonzaga (2009). Agora, em "Zé Ramalho canta Jackson do Pandeiro", presta contas ao conterrâneo, o autor de "Chiclete com Banana", "O Canto da Ema" e "Sebastiana" -aquela do refrão "a, é, i, ó, u, ipsilône".
"Eu tinha dez anos e Jackson se apresentava no auditório da rádio Borborema, em Campina Grande (PB)", lembra. "Para a minha cabeça de menino, era curioso ver as vogais misturadas com aquele "y", eu achava engraçado."

GRANDILOQUÊNCIA
Mais velho e já músico, foi entender que, além do "ipsilône", o que o encantava era a divisão, a quebrada rítmica nos versos e nas palavras.
O álbum mistura material gravado especialmente -"Quadro Negro", "Lamento Cego", "Lá Vai a Boiada", "Cabeça Feita", "Forró de Surubim" e "Forró na Gafieira"- a faixas já editadas em trabalhos anteriores.
Em muitas gravações, sobretudo as novas, Ramalho mantém intacto o estilo épico de interpretação que o tornou célebre. A intenção de trazer Jackson para esse universo grandiloquente -e não o contrário- comandou a concepção do trabalho.
"A ideia era assimilar as lições do mestre e manifestá-las do meu jeito pessoal e único. É um processo que, de tanto exercitar, sai com facilidade e naturalidade."

BEATLES
Mais exercícios estão por vir. O cantor planeja, para novo volume da série, um "Zé Ramalho Canta Beatles", cantado em inglês.
Mas nem os Beatles serão capazes de reproduzir o clima criado sob as canções de Jackson do Pandeiro. O próprio Zé Ramalho reconhece: é o álbum mais solar e menos melancólico da carreira.
A dúvida é se tal alegria provém das canções ou é sintoma dos 60 anos do intérprete. "Assim era o Jackson: rei do ritmo e da alegria. Quanto à vida aos 60, vou parafraseando o mestre Dylan, que disse, aos 67 anos, se sentir no meio da carreira."


ZÉ RAMALHO CANTA JACKSON DO PANDEIRO

ARTISTA Zé Ramalho
LANÇAMENTO Discobertas
QUANTO R$ 23, em média



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