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Jackson do Pandeiro ilumina Zé Ramalho
Em disco sem melancolia, paraibano homenageia autor de "Sebastiana"
Tom épico de Ramalho, no entanto, permanece; artista agora planeja disco em inglês com músicas dos Beatles
MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO
Nos últimos três anos, Zé
Ramalho, 60, escreveu canções em número suficiente
para compor um álbum só
com material autoral inédito. Mas não fez isso.
Autor de indiscutíveis
clássicos nacionais dos anos
70 e 80 -"Avôhai", "Vila do
Sossego", "Chão de Giz",
"Admirável Gado Novo",
"Garoto de Aluguel", "Frevo
Mulher" etc.-, o paraibano
volta a lançar trabalho dedicado a autor que o tenha influenciado artisticamente.
Fez isso com Raul Seixas
(2001), Bob Dylan (2008) e
Luiz Gonzaga (2009). Agora,
em "Zé Ramalho canta Jackson do Pandeiro", presta
contas ao conterrâneo, o autor de "Chiclete com Banana", "O Canto da Ema" e "Sebastiana" -aquela do refrão "a, é, i, ó, u, ipsilône".
"Eu tinha dez anos e Jackson se apresentava no auditório da rádio Borborema, em
Campina Grande (PB)", lembra. "Para a minha cabeça de
menino, era curioso ver as
vogais misturadas com aquele "y", eu achava engraçado."
GRANDILOQUÊNCIA
Mais velho e já músico, foi
entender que, além do "ipsilône", o que o encantava era
a divisão, a quebrada rítmica
nos versos e nas palavras.
O álbum mistura material
gravado especialmente
-"Quadro Negro", "Lamento Cego", "Lá Vai a Boiada",
"Cabeça Feita", "Forró de Surubim" e "Forró na Gafieira"- a faixas já editadas em
trabalhos anteriores.
Em muitas gravações, sobretudo as novas, Ramalho
mantém intacto o estilo épico
de interpretação que o tornou célebre. A intenção de
trazer Jackson para esse universo grandiloquente -e não
o contrário- comandou a
concepção do trabalho.
"A ideia era assimilar as lições do mestre e manifestá-las do meu jeito pessoal e
único. É um processo que, de
tanto exercitar, sai com facilidade e naturalidade."
BEATLES
Mais exercícios estão por
vir. O cantor planeja, para
novo volume da série, um
"Zé Ramalho Canta Beatles",
cantado em inglês.
Mas nem os Beatles serão
capazes de reproduzir o clima criado sob as canções de
Jackson do Pandeiro. O próprio Zé Ramalho reconhece:
é o álbum mais solar e menos
melancólico da carreira.
A dúvida é se tal alegria
provém das canções ou é sintoma dos 60 anos do intérprete. "Assim era o Jackson:
rei do ritmo e da alegria.
Quanto à vida aos 60, vou parafraseando o mestre Dylan,
que disse, aos 67 anos, se
sentir no meio da carreira."
ZÉ RAMALHO CANTA
JACKSON DO PANDEIRO
ARTISTA Zé Ramalho
LANÇAMENTO Discobertas
QUANTO R$ 23, em média
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