FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA

O site do Vaticano (www.vatican.va), que passou por "reformas" no mês passado, continua modesto. Recursos como zoom, rotação e panorâmica, incluídos nas visitas virtuais, não resolveram um ponto central: o site tem reduzida fração dos próprios tesouros visuais e quase nenhum livro da gigantesca biblioteca.
A Igreja Católica é mestra em relacionar imagens a textos. O potencial didático das narrativas visuais tem sido utilizado continuamente desde o fim do primeiro iconoclasmo bizantino. Acumularam-se obras de arte que ajudassem a ensinar e relembrar os dogmas da fé a letrados e iletrados.
Com 50 milhões de visitantes por mês, a arquitetura virtual vaticana deve ser, pois, analisada como peça de doutrina. Privilegiam-se os iletrados. Nem a "Biblioteca Apostólica Vaticana" nem os "Arquivos Secretos do Vaticano" apresentam obras para consulta. Pode-se ter acesso apenas a catálogos e índices.
A imagem prevalece sobre a leitura. O "Liber Diurnus", documento histórico dos arquivos secretos, é mostrado por foto das páginas 17 e 18, cujo trecho é reproduzido na íntegra, mas seguido de comentário. A mediação da autoridade interpretativa é marcada a cada passo.
A seção dos museus é a mais beneficiada. Podem ser visitados os acervos do Museu Egípcio, do Etrusco, do Etnológico Missionário, a Capela Sistina, os Aposentos de Rafael e a Pinacoteca.
As sucessivas salas podem ser vistas em giros, mas somente poucas peças estão disponíveis individualmente. Entre os destaques da Pinacoteca, uma tábua do século 12 figurando o "Último Julgamento", por Nicolaus e Giovanni: marco da escola romana na adaptação dos esquemas bizantinos a formatos inovadores.
Entretanto, a riqueza ornamental da estrutura compositiva das imagens é diminuída pela ênfase na história retratada. Na visita virtual à Capela Sistina, são desconsiderados os nus masculinos que fazem de anjos e costuram todo o teto com variações sobre poses cortesãs da época do papa Júlio 2º.
O site ainda está em construção. A parte em português está incompleta e, mesmo noutros idiomas, faltam dados como o mapa da Cidade do Vaticano. Além das mudanças recentes, também já se estuda disponibilizar on-line a venda de ingressos para os museus. O visitante deve navegar com atenção para a retórica empregada no percurso. A antiga tecnologia eclesiástica de manipulação dos ícones chega ao mundo virtual.

Site do Vaticano (www.vatican.va)