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São Paulo, segunda-feira, 07 de julho de 2003

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MÚSICA

Banda mineira une sonoridades dos trabalhos anteriores "MTV ao Vivo" e "Maquinarama" para compor o novo "Cosmotron"

Skank envelhece e abdica da "alegria pueril"

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Clube da Esquina. Beatles. Oasis. Blur. Flaming Lips. Coldplay. Supergrass. São alguns dos nomes que surgem quando o quarteto mineiro Skank fala sobre seu novo disco, "Cosmotron".
Parece ir longe o período de hits vibrantes como "Pacato Cidadão" (94) e "Garota Nacional" (96). "Não teria sentido fazer o mesmo depois de dez anos e velhos como estamos", brinca o vocalista e guitarrista Samuel Rosa, 36. "Seria de estranhar que aquela alegria pueril se perpetuasse. Já somos pais de família."
"O público de certa forma acompanha isso. Já não é todo mundo que quer ouvir "chacundum" o show inteiro", completa o baterista Haroldo Ferretti, 34.
Sobre as influências (antigas) de agora, Rosa afirma: "Há horas em que é inevitável ser refém. Não há como não ter referências, e se o contato da banda com Beatles e Clube da Esquina é o que está acontecendo, paciência".
Samuel descreve que, nos anos 90, se teria convencionado que o pop mineiro não poderia remeter ao movimento expandido nacionalmente por Milton Nascimento, a partir de 67. "Achei que ia ser para sempre essa neurose. Minas tem esse ranço de dar tiro no pé."
A quebra do tabu, para o Skank, teria começado a partir da aproximação com Lô Borges, parceiro original de Milton. Segundo Rosa, ele teria trazido ao Skank o interesse maior por violão, melodia, harmonia. Hoje Lô é co-autor, com Samuel e Nando Reis, da música de trabalho de "Cosmotron", "Dois Rios".
Aparentemente difícil, a música foi escolhida sem muita resistência da gravadora Sony, segundo eles. "Um dos poucos benefícios da grave crise de agora talvez seja podermos usufruir dessa liberdade", diz Rosa, referindo-se ao momento em que as fórmulas de sucesso parecem esgotadas.
O quarteto defende uma síntese entre os dois trabalhos anteriores, o "anticomercial" (porque vendeu pouco) "Maquinarama" (2000) e o "bem-sucedido" (porque vendeu muito) "MTV ao Vivo" (2001).
Dizem que o segundo foi necessário para desbloquear o primeiro, que é o disco menos vendido da história da banda (200 mil cópias), mas é hoje o mais procurado de seu catálogo.
"Houve papo de gravadora tipo "está feliz agora que a crítica gostou e o disco não sai da prateleira?. No entanto, músicas do "Maquinarama", que haviam ficado anônimas, aconteceram no ao vivo, trouxeram novo interesse por ele", diz Rosa.
Outra síntese que aparece em "Cosmotron" é a do pop noventista do Skank com referências da década anterior, que aparecem indiretamente em parcerias com Fausto Fawcett e Humberto Effe (ex-Picassos Falsos).
"Questionamos o mérito que a geração 90 traz para si, de reconciliar o rock dos 80 e a MPB. Acho que a geração 90 concluiu o que já havia começado a se resolver no final dos anos 80, com os Picassos Falsos cantando Noel Rosa no meio do show", diz Samuel Rosa.
Ironicamente, a atual aproximação com sonoridades que remetem ao rock britânico não teve a ver com a escalação do Skank como banda de abertura do palco principal do festival de Roskilde, na Dinamarca, onde tocaram no dia 28 passado.
"Esse é um festival conhecido por arriscar, por mostrar artistas novos", comemora o tecladista Henrique Portugal, 38. "Não vimos nem sinal daquelas bandas de rádio que são detestadas", diz o baixista Lelo Zaneti, 35.
Mas a seleção ocorreu sem que o festival conhecesse "Cosmotron", e o Skank não se arriscou a tocar nada do repertório do novo álbum. "Parecia que estávamos no Brasil, só faltou o coro de "maconha" durante "É Proibido Fumar'", reforça Rosa.



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