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MÚSICA
Banda mineira une sonoridades dos trabalhos anteriores "MTV ao Vivo" e "Maquinarama" para compor o novo "Cosmotron"
Skank envelhece e abdica da "alegria pueril"
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Clube da Esquina. Beatles. Oasis. Blur. Flaming Lips. Coldplay.
Supergrass. São alguns dos nomes
que surgem quando o quarteto
mineiro Skank fala sobre seu novo disco, "Cosmotron".
Parece ir longe o período de hits
vibrantes como "Pacato Cidadão"
(94) e "Garota Nacional" (96).
"Não teria sentido fazer o mesmo
depois de dez anos e velhos como
estamos", brinca o vocalista e guitarrista Samuel Rosa, 36. "Seria de
estranhar que aquela alegria pueril se perpetuasse. Já somos pais
de família."
"O público de certa forma
acompanha isso. Já não é todo
mundo que quer ouvir "chacundum" o show inteiro", completa o
baterista Haroldo Ferretti, 34.
Sobre as influências (antigas) de
agora, Rosa afirma: "Há horas em
que é inevitável ser refém. Não há
como não ter referências, e se o
contato da banda com Beatles e
Clube da Esquina é o que está
acontecendo, paciência".
Samuel descreve que, nos anos
90, se teria convencionado que o
pop mineiro não poderia remeter
ao movimento expandido nacionalmente por Milton Nascimento, a partir de 67. "Achei que ia ser
para sempre essa neurose. Minas
tem esse ranço de dar tiro no pé."
A quebra do tabu, para o Skank,
teria começado a partir da aproximação com Lô Borges, parceiro
original de Milton. Segundo Rosa,
ele teria trazido ao Skank o interesse maior por violão, melodia,
harmonia. Hoje Lô é co-autor,
com Samuel e Nando Reis, da
música de trabalho de "Cosmotron", "Dois Rios".
Aparentemente difícil, a música
foi escolhida sem muita resistência da gravadora Sony, segundo
eles. "Um dos poucos benefícios
da grave crise de agora talvez seja
podermos usufruir dessa liberdade", diz Rosa, referindo-se ao momento em que as fórmulas de sucesso parecem esgotadas.
O quarteto defende uma síntese
entre os dois trabalhos anteriores,
o "anticomercial" (porque vendeu pouco) "Maquinarama"
(2000) e o "bem-sucedido" (porque vendeu muito) "MTV ao Vivo" (2001).
Dizem que o segundo foi necessário para desbloquear o primeiro, que é o disco menos vendido
da história da banda (200 mil cópias), mas é hoje o mais procurado de seu catálogo.
"Houve papo de gravadora tipo
"está feliz agora que a crítica gostou e o disco não sai da prateleira?.
No entanto, músicas do "Maquinarama", que haviam ficado anônimas, aconteceram no ao vivo,
trouxeram novo interesse por
ele", diz Rosa.
Outra síntese que aparece em
"Cosmotron" é a do pop noventista do Skank com referências da
década anterior, que aparecem
indiretamente em parcerias com
Fausto Fawcett e Humberto Effe
(ex-Picassos Falsos).
"Questionamos o mérito que a
geração 90 traz para si, de reconciliar o rock dos 80 e a MPB. Acho
que a geração 90 concluiu o que já
havia começado a se resolver no
final dos anos 80, com os Picassos
Falsos cantando Noel Rosa no
meio do show", diz Samuel Rosa.
Ironicamente, a atual aproximação com sonoridades que remetem ao rock britânico não teve
a ver com a escalação do Skank
como banda de abertura do palco
principal do festival de Roskilde,
na Dinamarca, onde tocaram no
dia 28 passado.
"Esse é um festival conhecido
por arriscar, por mostrar artistas
novos", comemora o tecladista
Henrique Portugal, 38. "Não vimos nem sinal daquelas bandas
de rádio que são detestadas", diz o
baixista Lelo Zaneti, 35.
Mas a seleção ocorreu sem que
o festival conhecesse "Cosmotron", e o Skank não se arriscou a
tocar nada do repertório do novo
álbum. "Parecia que estávamos
no Brasil, só faltou o coro de "maconha" durante "É Proibido Fumar'", reforça Rosa.
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