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ERUDITO
Compositor-residente do festival de Campos do Jordão terá nova peça, "Variações Sinfônicas", executada no dia 16
Campos presta tributo a Almeida Prado
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O principal autor paulista de
música erudita tem dificuldades
para compor porque não enxerga
bem. "Estou diabético desde 1997
e, desde então, venho tendo problemas na retina", explica José
Antônio Rezende de Almeida
Prado, compositor-residente do
36º Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão.
Desde que assumiu a direção artística do festival, no ano passado,
o maestro Roberto Minczuk criou
a figura do compositor-residente,
que fica em Campos do Jordão
ministrando aulas e tem uma peça estreada e gravada pela Orquestra Acadêmica, formada pelos bolsistas que participam do
evento.
No ano passado, o compositor
escolhido para residente foi Marlos Nobre, pernambucano radicado no Rio de Janeiro. Em 2005, a
honra cabe a Almeida Prado, que,
nascido em Santos em 1943, é de
uma geração que escreve à mão e
não usa computador.
"Eu tenho que aumentar muito
o tamanho do pentagrama para
conseguir enxergar o que eu escrevo. O resultado é que um compasso acaba ficando do tamanho
de uma mesa. Minha partitura parece uma planta de engenheiro,
de tão grande", compara.
Resultado: uma obra como as
"Variações Sinfônicas", que ele
escreveu especialmente para ser
estreada e gravada no festival, dia
16, sob a batuta de Minczuk, levou
três meses para ficar pronta,
quando, no ritmo de trabalho anterior à diabete, estaria finalizada
em 20 dias.
Com 15 minutos de duração, a
peça é constituída de dez variações sobre um tema de sabor folclórico, de autoria do próprio
compositor. Dedicada ao diretor
artístico do festival, a partitura
procura sintetizar os elementos
que têm marcado a estética de Almeida Prado.
"Eu tenho em mim um elemento mais abstrato, das "Cartas Celestes" mas também um pouco
dessa volta ao tonalismo, uma
música mais emocional e romântica, que chamo de pós-moderna", diz. "Quis unir os efeitos de
ressonância das "Cartas Celestes" a
um melodismo mais simples, que
o público capta."
As "Cartas Celestes" são um
conjunto de 14 obras para diversas formações que constituem o
ápice da criação de Almeida Prado. O compositor começou a concebê-las em 1974, como uma descrição do céu do Brasil nos diferentes meses do ano, baseadas no
"Atlas Celeste", de Ronaldo de
Freitas Mourão.
Elas não aparecem no festival,
mas outras obras do autor serão
executadas no evento, como "Arcos Sonoros da Catedral Anton
Bruckner", pela Sinfônica de Minas Gerais, regida por Marcelo
Ramos, dia 17; e a "Abertura Cidade de Campinas", com a Orquestra Sinfônica Municipal de
Campinas, sob direção de Cláudio Cruz, dia 24.
O compositor parece estar em
alta entre os intérpretes brasileiros: o violoncelista pernambucano Antônio Meneses incluiu o
"Preambulum" de sua autoria entre as peças de compositores brasileiros com as quais abriu a integral das suítes para violoncelo solo de Bach (que marcou o início
da série de concertos do Cultura
Artística em abril). Em maio, o
pianista alemão Ulrich Murtfeld
interpretou, no Rio de Janeiro, a
obra "Las Américas".
Um sucesso insuficiente, contudo, para deixar otimista o compositor, que se aposentou como professor da Unicamp em 2000, radicou-se em São Paulo em 2002 e,
desde então, vem ministrando
cursos livres em instituições privadas.
"É sempre assim: os intérpretes
estréiam minhas obras e depois
não tocam mais", diz o autor de
450 obras, laureado três vezes
com o prêmio internacional Lili
Boulanger nos anos 70. "Não tenho receita para ser tocado."
Se essa receita ele não pode passar para seus alunos de composição em Campos do Jordão, Almeida Prado vai tentar compartilhar com eles algo do que aprendeu em Paris, há três décadas,
com Olivier Messiaen, um dos
maiores compositores do século
20, e com a veneranda Nadia Boulanger.
"A Nadia sempre dizia que uma
classe interessante é uma classe
heterogênea. Procurei selecionar
não só os melhores alunos mas
também aqueles que tivessem
produções distintas, para que um
pudesse aprender ouvindo o trabalho do outro", afirma.
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