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[+]opinião
Espetáculo só faz fortalecer o ego de Al Gore
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
Quem precisa de um
megaconcerto em
sete cidades, com
milhares de pessoas se deslocando em vôos intercontinentais (duas toneladas de
carbono emitidas per capita
em cada ida e volta), domésticos e automóveis por aí?
E quem precisa de um megaconcerto para repetir uma
mensagem já dada à exaustão sobre a urgência de atacar a crise climática global?
Bem, o imenso ego de Al
Gore precisa. Ele já tem o Oscar e o Principe de Astúrias.
Faltam-lhe ainda o Grammy
e o Nobel da Paz. E, quem sabe, aquela casinha com colunas brancas em Washington.
Mas talvez o planeta (ou a
porção dele que não está
morrendo nem de fome nem
de Aids e que pode assistir
aos shows -que é, afinal, justamente a porção cujo padrão de consumo é responsável pelo problema ambiental) também precise saber
que não precisa abrir mão de
(todo) seu conforto para diminuir a quantidade de gás
carbônico na atmosfera.
Talvez astros do rock entendam a mensagem e passem a neutralizar as emissões de seus discos (haja árvore). Ou, mais do que isso,
talvez eles funcionem como
caixa de ressonância para a
mensagem ambientalista e
convençam seus fãs a andar
de metrô e parar de comer
carne. Ou a votar nos democratas no ano que vem.
No pior cenário, o Live
Earth terá o mesmo efeito do
Live Aid, seu concerto-mãe,
dedicado a despertar o mundo para a África: nenhum.
Como tudo o que vem da sociedade americana, o espetáculo por uma causa nobre
poderá se transformar em
mais um produto de consumo, esvaziado de sentido.
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