São Paulo, sábado, 07 de julho de 2007

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[+]opinião

Espetáculo só faz fortalecer o ego de Al Gore

CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA

Quem precisa de um megaconcerto em sete cidades, com milhares de pessoas se deslocando em vôos intercontinentais (duas toneladas de carbono emitidas per capita em cada ida e volta), domésticos e automóveis por aí?
E quem precisa de um megaconcerto para repetir uma mensagem já dada à exaustão sobre a urgência de atacar a crise climática global?
Bem, o imenso ego de Al Gore precisa. Ele já tem o Oscar e o Principe de Astúrias. Faltam-lhe ainda o Grammy e o Nobel da Paz. E, quem sabe, aquela casinha com colunas brancas em Washington.
Mas talvez o planeta (ou a porção dele que não está morrendo nem de fome nem de Aids e que pode assistir aos shows -que é, afinal, justamente a porção cujo padrão de consumo é responsável pelo problema ambiental) também precise saber que não precisa abrir mão de (todo) seu conforto para diminuir a quantidade de gás carbônico na atmosfera.
Talvez astros do rock entendam a mensagem e passem a neutralizar as emissões de seus discos (haja árvore). Ou, mais do que isso, talvez eles funcionem como caixa de ressonância para a mensagem ambientalista e convençam seus fãs a andar de metrô e parar de comer carne. Ou a votar nos democratas no ano que vem.
No pior cenário, o Live Earth terá o mesmo efeito do Live Aid, seu concerto-mãe, dedicado a despertar o mundo para a África: nenhum. Como tudo o que vem da sociedade americana, o espetáculo por uma causa nobre poderá se transformar em mais um produto de consumo, esvaziado de sentido.


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