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CRÍTICA JAZZ
DVD revela o derradeiro Chet Baker
Apesar da voz pesada, seu sopro de trompete mantinha a classe em 1985
FABRICIO VIEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Sentado em um sofá, pernas cruzadas, o copo de cerveja na mesa ao lado, Chet
Baker (1929-1988) conduz a
íntima sessão. Nada de
aplausos ou agradecimentos. Os músicos estão sozinhos e apenas tocam, como
se estivessem na sala de casa.
Captado na biblioteca da
gravadora Sonet, em junho
de 1985, na Suécia, o encontro que agora ganha versão
em DVD mostra o mítico
trompetista e cantor cerca de
três anos antes de sua trágica
morte -caiu da janela de um
hotel, em Amsterdã.
Microfone na mão, Baker
inicia a apresentação com
"Candy" e não deixa dúvidas: era, naquele momento,
uma figura bastante distante
do que havia sido nas décadas de 50 e 60, quando sustentava a imagem de elegante e sedutor.
Sua voz já não carregava a
antiga doçura, estava suja,
pesada. O músico parece saber disso, tanto que evita voltar a cantar nas outras faixas
-oito no total- que compõem o disco.
Ao menos, ao trompete,
Baker consegue manter a
classe do passado, como revelam os momentos mais sutis e melancólicos do DVD,
especialmente nas interpretações de "Bye, Bye Blackbird" e "Sad Walk".
A vida de excessos, de longa batalha contra as drogas,
não abateram seu sopro,
marcado pela economia de
notas e o antivirtuosismo.
A seu lado, o pianista francês Michel Graillier e o baixista belga Jean-Louis Rassinfosse, parceiros constantes do período, ajudam a intensificar o clima de descontração e intimidade.
Para o último tema, "My
Romance", é chamado Red
Mitchell, que assume o piano. Baker sai do sofá e se acomoda a seu lado, o trompete
apoiado no ombro.
Depois de apenas observar, por mais de dois minutos, o dedilhado de Mitchell,
Baker esboça um sorriso e
mostra que ainda podia tocar
tão profunda e serenamente
como antes, como se os percalços de sua biografia pouco
importassem.
DVD "CANDY"
ARTISTA Chet Baker
GRAVADORA Biscoito Fino
QUANTO R$ 45,90, em média
AVALIAÇÃO bom
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