São Paulo, quinta-feira, 07 de julho de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Coração partido

"Corações Sujos" abre o Festival de Cinema de Paulínia ; no filme, imigrante se sente dividido sobre a derrota do Japão na Segunda Guerra

Divulgação
O ator japonês Tsuyoshi Ihara encarna o protagonista, Takahashi

MORRIS KACHANI
DE SÃO PAULO

Orçado em R$ 7,5 milhões, o drama histórico "Corações Sujos", que abre hoje o 4º Festival de Cinema de Paulínia, é uma das mais caras e aguardadas produções nacionais do ano.
O filme registra um fato histórico pouco conhecido, desvendado pelo escritor Fernando Morais em livro homônimo lançado em 2000, que deu base às pesquisas para o filme.
Corria o ano de 1946; a Segunda Guerra havia terminado, mas 80% dos 200 mil imigrantes japoneses no Brasil, maior comunidade fora do Japão, não aceitava a derrota de seu país no conflito.
Ou melhor, não acreditava nela. Os japoneses não tinham acesso à imprensa de seu país por restrição imposta pelo governo brasileiro. Por isso consideravam a rendição propaganda inimiga.
Uma guerra fratricida envolvendo os "vitoristas" e os "derrotistas" se alastrou pelos interiores paulista e paranaense. Mais de 30 mil japoneses foram detidos pela polícia. Matava-se por amor à pátria e evocava-se o código samurai, mais ou menos como faziam os famosos kamikazes na Segunda Guerra.
No centro da trama, Takahashi, o protagonista, vive crise de consciência. Com o desenrolar do filme descobre, após dois assassinatos, ter tomado o partido errado.
O filme não faz feio em termos de reconstituição de época e do resgate das tradições deste povo. Mas, se o conflito na comunidade ocupava o núcleo da história original, no roteiro é pano de fundo para um enredo de amor e traição previsível, com algo de folhetim.
Personagens secundários são estereotipados -uns representando os "mocinhos" (a mulher de Takahashi, que é professora, leciona clandestinamente o japonês e abandona o marido), outros, os "vilões" (Watanabe, o coronel reformado que é a extrema direita em pessoa).
As tentativas de imprimir alta carga emocional acabam parecendo exageradas.
Vicente Amorim, 44, é quem assina a direção. Ele traça um paralelo entre os imigrantes deste seu terceiro longa e sua trajetória pessoal -seu pai é o diplomata e ex-chanceler Celso Amorim.
"A gente pulava de país em país e, por isso, o senso de adequação e pertencimento sempre veio à tona."


Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Paulínia ainda busca identidade própria
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.