São Paulo, Quarta-feira, 07 de Julho de 1999
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Acaso ajuda Carlos Bolado a dirigir "Bajo California"

ADRIANE GRAU
especial para a Folha, em San Francisco

Com as imagens poéticas e os personagens humanos de "Bajo California - El Limite del Tiempo", o diretor Carlos Bolado, 32, se confirmou como promissor novo talento no Sundance Festival em janeiro deste ano.
Sentado na porta do cinema após uma sessão para a imprensa, ele revelou ter uma vida inteira e metade da família dedicada ao cinema. "Somos seis irmãos e três fazem cinema", disse ele. "Tudo por causa de nossa avó, que não podia caminhar e queria nossa companhia para assistir a filmes antigos na televisão."
Bolado estará em São Paulo, onde seu filme abre amanhã a Semana do Cinema: Brasil e Independentes, no Espaço Unibanco.
O que fascina crítica e público em "Bajo California" é a naturalidade com que Bolado rompe com o estereótipo que o resto das Américas têm sobre o México. Nada de melodrama, nada de sonhos materialistas com uma vida melhor. Os personagens de seu filme vivem felizes num povoado remoto em montanhas recheadas com pinturas rupestres.
O diretor fez a primeira jornada a San Francisco de la Sierra há cinco anos. "Pinturas em cavernas me encantam e eu queria fazer um documentário a respeito. Mas, ao chegar lá, percebi que deveria criar um filme de ficção."
Bolado revela que leu mais de 30 livros sobre a história da região. "Gostaria de ter explorado mais os jesuítas, cuja história é fascinante", diz ele. "Resolvi então criar o personagem que caminha vestido como um padre e é como uma miragem."
O trauma que move o personagem Damian em sua peregrinação é apenas um pretexto para uma serena jornada. No início do filme ele atropela uma imigrante próximo à fronteira do México com os EUA e sua mulher está prestes a dar à luz seu primeiro filho. Disposto a fazer as pazes com seu passado antes de encarar seu futuro de pai norte-americano, Damian parte para o México numa caminhada que o levará de volta à vila onde nasceu sua avó.
Mas Damian, interpretado por Damian Alcazar, é também um artista plástico. Ao se transformar em explorador, leva arte, criatividade e beleza ao árido e desolado interior mexicano.
O dilema de se tornar pai recebe um contraponto na cena em que uma baleia dá à luz. O personagem em seguida recompõe um esqueleto de baleia e se deita no ventre imaginário. "Conseguir captar a baleia foi um golpe de sorte", revela Bolado. O cometa que oferece companhia a Damian também foi obra do acaso.
Vários outros contrapontos são criados pela trilha sonora de Antonio Fernández Ros. "Ele não compôs enquanto assistia o filme", revela Carlos. "Assistimos ao filme sem som para sentir o ritmo das imagens."


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