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Acaso ajuda Carlos Bolado
a dirigir "Bajo California"
ADRIANE GRAU
especial para a Folha, em San Francisco
Com as imagens poéticas e os
personagens humanos de "Bajo
California - El Limite del Tiempo", o diretor Carlos Bolado, 32,
se confirmou como promissor
novo talento no Sundance Festival em janeiro deste ano.
Sentado na porta do cinema
após uma sessão para a imprensa,
ele revelou ter uma vida inteira e
metade da família dedicada ao cinema. "Somos seis irmãos e três
fazem cinema", disse ele. "Tudo
por causa de nossa avó, que não
podia caminhar e queria nossa
companhia para assistir a filmes
antigos na televisão."
Bolado estará em São Paulo,
onde seu filme abre amanhã a Semana do Cinema: Brasil e Independentes, no Espaço Unibanco.
O que fascina crítica e público
em "Bajo California" é a naturalidade com que Bolado rompe
com o estereótipo que o resto das
Américas têm sobre o México.
Nada de melodrama, nada de sonhos materialistas com uma vida
melhor. Os personagens de seu
filme vivem felizes num povoado
remoto em montanhas recheadas
com pinturas rupestres.
O diretor fez a primeira jornada
a San Francisco de la Sierra há
cinco anos. "Pinturas em cavernas me encantam e eu queria fazer um documentário a respeito.
Mas, ao chegar lá, percebi que deveria criar um filme de ficção."
Bolado revela que leu mais de
30 livros sobre a história da região. "Gostaria de ter explorado
mais os jesuítas, cuja história é
fascinante", diz ele. "Resolvi então criar o personagem que caminha vestido como um padre e é
como uma miragem."
O trauma que move o personagem Damian em sua peregrinação é apenas um pretexto para
uma serena jornada. No início do
filme ele atropela uma imigrante
próximo à fronteira do México
com os EUA e sua mulher está
prestes a dar à luz seu primeiro filho. Disposto a fazer as pazes com
seu passado antes de encarar seu
futuro de pai norte-americano,
Damian parte para o México numa caminhada que o levará de
volta à vila onde nasceu sua avó.
Mas Damian, interpretado por
Damian Alcazar, é também um
artista plástico. Ao se transformar em explorador, leva arte,
criatividade e beleza ao árido e
desolado interior mexicano.
O dilema de se tornar pai recebe
um contraponto na cena em que
uma baleia dá à luz. O personagem em seguida recompõe um
esqueleto de baleia e se deita no
ventre imaginário. "Conseguir
captar a baleia foi um golpe de
sorte", revela Bolado. O cometa
que oferece companhia a Damian
também foi obra do acaso.
Vários outros contrapontos são
criados pela trilha sonora de Antonio Fernández Ros. "Ele não
compôs enquanto assistia o filme", revela Carlos. "Assistimos
ao filme sem som para sentir o
ritmo das imagens."
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