São Paulo, segunda-feira, 07 de agosto de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Rebeca Matta conquista espaço na terra do axé

Ao lançar "Rosa Sônica", em parceria com os produtores Boing e Gilberto Monte, a cantora baiana mistura estilos musicais

ADRIANA FERREIRA SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Rebeca Matta não está mais só. A cantora baiana que surpreendeu a crítica em 1998, quando fez um disco que misturava influências de trip hop, industrial e MPB, em plena capital do axé, lança seu terceiro trabalho, "Rosa Sônica", em parceria com os produtores Boing e Gilberto Monte -ou, como eles se nomeiam, a Orquestra Sônica.
Mas não é só por isso que Rebeca deixou de estar sozinha. Voz dissonante num cenário em que, ou se fazia MPB e axé ou rock pesado, sem espaço para experimentações eletrônicas, a cantora agora pode compartilhar suas referências com artistas como a dupla tara-code, os coletivos Pragatecno e Electrocooperativa ou a intérprete Marcela Bellas, entre outros, representantes de um novo panorama, que cava espaço nos clubes e bares de Salvador.
"A indústria do axé pegou pesado em termos de diversidade, de provocar outras coisas", explica Rebeca, 39. "[Eles] Têm uma estrutura e uma propaganda forte. Fica difícil conseguir trilhar outros caminhos. No meu caso, muitas vezes me senti isolada. Não via uma cena na Bahia. Hoje vejo mais."
Na verdade, o som de Rebeca não se encaixa na música baiana, mas tampouco se identifica com o que é feito no restante do país. O novo CD, com Arto Lindsay como produtor associado -e que chega às lojas nesta semana-, é uma prova de quão única é sua sonoridade, cada vez mais experimental.
"Minha trajetória com a música sempre foi assim. Não me prendo a um estilo", diz. "Queria muito experimentar." Com essa idéia, Rebeca, que apareceu bem roqueira no segundo disco, "Garotas Boas Vão pro Céu, Garotas Más Vão pra Qualquer Lugar", se afasta do rock e se aproxima ainda mais da eletrônica, muito por conta da convivência com Boing.
"Ele [Boing] é muito eletrônico. Me apaixonei por esse lance de bateria meio quebrada, que tem muito a ver com sua estética", conta Rebeca. "Mas não vejo como um afastamento do rock. Acho que os andamentos de rock também estão muito presentes, na irreverência, nas guitarras, só que de uma outra forma."
Em meio a reverberações, distorções e sons estranhos, destaca-se o contundente vocal da baiana, que impressiona, principalmente, em suas performances ao vivo. As letras, como nos trabalhos anteriores, são bem pessoais, femininas e viscerais, todas de sua autoria.
As exceções são "Medo de Palhaço", composta por Boing, e a clássica "Vapor Barato", de Wally Salomão e Jards Macalé, que aparece numa versão que a torna quase irreconhecível.
Mas, ainda que a eletrônica seja a tônica, Rebeca fala que no CD há outros estilos. "Não vejo como experimental. Ele [o CD] tem referência de música popular. Consigo ouvir samba, pagode, rock, trip hop. Não é nada disso, mas tem tudo isso", diz.


ROSA SÔNICA
Artista:
Rebeca Matta e Orquestra Sônica (Tantas Coisas)
Quanto: R$ 15


Texto Anterior: Guilherme Wisnik: O rei do espaço infinito
Próximo Texto: Fotografia: Seminário no MAM-SP abre suas inscrições
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.